Sociedade 29 Ago 2011, 09:56h
Sob o tema da biodiversidade e combate à desertificação da Pereira,
pequena aldeia do concelho de Constância com 30 habitantes, duas
dezenas de jovens de vários países europeus realizaram a "Festa
Rural".
Durante três dias, e à semelhança dos últimos anos, Pereira encheu-se
de vida e cor para uma festa de "celebração do conceito de
ruralidade", um evento organizado pela associação juvenil "Os Quatro
Cantos do Cisne", nome inspirado pela geografia da aldeia situada num
vale que faz um losango e que vive a ameaça da desertificação, e que
ali juntou cerca de três mil pessoas durante o fim-de-semana.
"O nome da associação vem da analogia aos quatro cantos do losango em
conexão ao canto dos cisnes quando estão a morrer", contou à agência
Lusa o presidente daquela associação, Daniel Martins.
"O conceito é o de combate à desertificação da aldeia e, com base na
atitude e iniciativas dos mais jovens, preservar as fontes naturais,
recuperar as noras, construir fornos comunitários, ajudar os mais
velhos a recuperar as suas casas, enfim, um trabalho focado no
desenvolvimento e afirmação da Pereira", disse o dirigente.
Em virtude dos intercâmbios internacionais e dos campos de
voluntariado que a associação promove, este ano vinte jovens oriundos
da Eslováquia, Roménia, Alemanha, Áustria e Estónia participaram num
campo de trabalho que visou recuperar infraestruturas rurais e
preparar a festa da aldeia da Pereira, além de conhecerem o trabalho
desenvolvido em ambiente rural e em prol do desenvolvimento das
regiões de interior.
A ação inseriu-se na aposta que a associação tem vindo a fazer na
"interculturalidade e na valorização do património e da comunidade"
local, bem como na promoção dos valores do "respeito, igualdade,
participação cívica, liberdade e espírito crítico", realçou Daniel
Martins.
Mónica Bartal, uma húngara de 25 anos, disse à Lusa que o grupo de
cinco jovens que a acompanha está na Pereira para "ver como trabalha"
a associação local, "como aplicam as suas metodologias e como é
organizado o festival rural, numa base de troca de experiências e
cooperação".
Kati Juurik, natural de Tallinn, Estónia, por sua vez, afirmou estar
há três meses em Pereira "não só pela natureza envolvente mas pelo
respeito, carinho e solidariedade para com um trabalho de defesa e
afirmação de uma identidade rural".
Num português escorreito, esta jovem de 27 anos sublinhou ainda o
facto de a aldeia não estar referenciada no Google e não haver rede de
telemóvel. "E, no entanto, neste sítio no meio do nada, tanta coisa
está a acontecer", observou.
Segundo Daniel Martins, "a grande motivação destes jovens entre os 18
e os 30 anos é sem dúvida a vontade enorme de aventura, conhecer a
nossa cultura e raízes tradicionais, sentirem-se úteis e recompensados
socialmente e contribuir para um entendimento justo da globalização a
todos os níveis".
Maria do Carmo Deus, 78 anos, concorda: "Esta é uma terra pequena mas
nestes três dias de festa torna-se grande".
Constituída em 1994 para promover o desenvolvimento da aldeia de
Pereira, a instituição particular de solidariedade social conta com 50
funcionários e 300 associados.
http://www.omirante.pt/noticia.asp?idEdicao=54&id=46980&idSeccao=479&Action=noticia
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