“Haverá aproximação ao clima tropical”

Discurso directo
Manuel Costa Alves, Meteorologista reformado, sobre o relatório de
Maio do Instituto de Meteorologia
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Por:André Pereira

Correio da Manhã – O Instituto de Meteorologia publicou um relatório
no qual indica que o mês de Maio foi o mais quente desde 1931. O que
significa isto?

Manuel Costa Alves – É muito provável que este Maio já esteja inserido
num conjunto de fenómenos extremos a que temos assistido nos últimos
anos. A última seca que tivemos foi em 2004/05, a mais severa desde
1931. Nos primeiros anos desta década, as ondas de calor passaram a
ser mais numerosas. Todos os anos, desde 2003, passámos a ter ondas de
calor mais intensas e mais longas.
– Estes extremos meteorológicos são consequência do aquecimento global?
– Os seis anos mais quentes de sempre desde que há registos, em 1869,
aconteceram desde 1998. A situação tende a agravar-se devido à
concentração de gases com efeito de estufa. Actualmente, a
concentração desses gases na atmosfera é de 380/390 partes por milhão
(ppm), mas todos os anos emitimos cerca de 2 ppm. O ponto de não
retorno, valor a partir do qual já não haverá nada a fazer, é de 450
ppm, logo, lá para 2030/2040, será atingido. Os fenómenos extremos vão
aumentar consideravelmente.
– O que acontecerá a Portugal?
– Com a migração do anticiclone dos Açores mais para Norte, vamos
ficar durante mais tempo sob a sua influência. Vamos ter maior entrada
de ar seco e quente e, nessa altura, os recursos hídricos vão
diminuir, tal como a chuva. As temperaturas médias no Verão vão
aumentar bastante.
– Portugal está cada vez mais tropical?
– O clima tropical tem ar muito quente e muito húmido. Apesar de não
irmos perder as características mediterrânicas, haverá uma aproximação
ao clima tropical. Verões quentes e muito secos, mas, sempre que
existir uma injecção de ar húmido, vamos ter aguaceiros fortes e
trovoadas.
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