LUSA e PÚBLICO
10/04/2013 - 09:16
Ribeiro Telles foi esta quarta-feira distinguido com o mais importante
prémio da disciplina, atribuído em Auckland. O prémio distingue
profissionais com "um impacto incomparável" na profissão.
Gonçalo Ribeiro Telles é responsável pelo projecto dos jardins da
Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa
RUI GAUDÊNCIO
Quando um homem cria paraísos devemos chamar-lhe "jardineiro de Deus"
O arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles foi esta quarta-feira
distinguido com o Nobel da Arquitectura Paisagista, o Prémio Sir
Geoffrey Jellicoe, atribuído em Auckland, na Nova Zelândia, pela
federação internacional do sector, revelou à agência Lusa fonte ligada
à organização.
De acordo com a Associação Portuguesa dos Arquitectos Paisagistas
(APAP), o galardão foi anunciado esta quarta-feira, durante a
realização do congresso, em Auckland, da Federação Internacional dos
Arquitectos Paisagistas (IFLA).
O prémio tem como objectivo "reconhecer um arquitecto paisagista cuja
obra e contribuições ao longo da vida tenham tido um impacto
incomparável e duradoiro no bem-estar da sociedade e do ambiente e na
promoção da profissão".
É o grande mentor ideológico de toda uma política de paisagem
Aurora Carapinha, arquitecta paisagista
A entrega do prémio acontece esta quarta-feira durante uma sessão do
congresso, ao arquitecto paisagista Miguel Braula Reis, presidente da
APAP, que o recebe em representação de Gonçalo Ribeiro Telles.
Braula Reis fará ainda a leitura de uma conferência da autoria do
premiado e será exibido um vídeo, com uma mensagem de agradecimento de
Ribeiro Telles.
O Prémio IFLA Sir Geoffrey Jellicoe foi criado em 2004, e o primeiro
galardoado, no ano seguinte, foi o arquitecto Peter Walker, dos
Estados Unidos, seguindo-se, em 2009, Bernard Lassus, de França. Em
2011 foi distinguida Cornelia Hahn Oberlander, do Canadá, e, em 2012,
Mihaly Mocsenyi, da Hungria.
Este galardão, considerado o "Nobel" da arquitectura paisagista, que
tem paralelo no Prémio Pritzker de arquitectura, comemora a
contribuição extraordinária para a IFLA do arquitecto paisagista
britânico Sir Geoffrey Jellicoe (1900-1996), fundador daquela
federação internacional.
Para a APAP, Gonçalo Ribeiro Telles "é premiado por uma excepcional
carreira de setenta anos, poucos meses depois de ver garantida a
continuidade do corredor verde de Lisboa, uma ideia que lançou em
1968".
"É um momento muito importante para Portugal. O grande reconhecimento
que é devido a este homem, único, vem de fora, dos seus pares
internacionais", diz a arquitecta paisagista Aurora Carapinha ao
PÚBLICO, que organizou a homenagema Ribeiro Telles que teve lugar na
Fundação Gulbenkian em 2011. "É um homem único não só pela forma como
exerceu a profissão, mas também pela sua dimensão humanista, pela
partilha do conhecimento."
Aurora Carapinha explica que Ribeiro Telles "é o grande mentor
ideológico de toda uma política de paisagem", que se desenvolveu em
Portugal mesmo antes de outros países e que ela recua até aos anos 60.
Essa forma singular de olhar a paisagem procura "uma relação íntima
entre a cultura e a natureza". Carapinha sublinha também "a introdução
da ecologia, não de uma maneira fundamentalista, mas como um dos
primeiros elementos base do trabalho". Conceitos como
"biodiversidade", "multifuncionalidade", "equilíbrio", "dinâmica" e "a
noção de recurso finito" começaram a ser desenvolvidos muito cedo por
Ribeiro Telles na sua prática profissional.
O júri do prémio inclui arquitectos paisagistas das quatro regiões da
IFLA, "que representam o âmbito académico, a prática pública e
privada, e possuem um profundo conhecimento da profissão, dos seus
profissionais-chave e da prática internacional".
Nascido em Lisboa, a 25 de Maio de 1922, Gonçalo Pereira Ribeiro
Telles licenciou-se em Engenharia Agrónoma e formou-se em Arquitectura
Paisagista, no Instituto Superior de Agronomia, na capital portuguesa,
onde iniciou a vida profissional como assistente e discípulo de
Francisco Caldeira Cabral, pioneiro da disciplina em Portugal, no
século XX.
São da autoria de Ribeiro Telles, entre outros projectos, o Corredor
Verde de Monsanto e a integração da zona ribeirinha oriental e
ocidental, na Estrutura Verde Principal de Lisboa.
Gonçalo Ribeiro Telles também é autor dos jardins da sede da Fundação
Calouste Gulbenkian, que assinou com António Viana Barreto (Prémio
Valmor de 1975), e dos projectos do Vale de Alcântara e da Radial de
Benfica, do Vale de Chelas, e do Parque Periférico, entre outros.
http://www.publico.pt/cultura/noticia/goncalo-ribeiro-telles-distinguido-com-premio-da-arquitectura-paisagista-ifla2013-1590761#/0
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