sábado, 3 de março de 2012

“Nem sempre a produção nacional tem capacidade para abastecer as cadeias ao longo do ano”

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1 de Março de 2012 às 00:15:55, por PEDRO DURÃES
Quem o diz é Paulo Nunes de Almeida, vice-presidente da AEP, entidade
responsável pelo projecto "Compro o que é nosso", que defende as
cadeias de distribuição no que diz respeito à proveniência dos
produtos de marca própria. "As próprias cadeias são obrigadas a
recorrer ao mercado internacional", aponta, como resultado deste
facto. Ainda assim, considera o responsável, "as marcas próprias têm
vindo a privilegiar cada vez mais a produção nacional. Por exemplo, a
grande maioria das marcas Auchan já têm o símbolo "Compro o que é
nosso" porque nos últimos dois anos a cadeia investiu imenso na
relação com a produção nacional", exemplifica, em declarações no
âmbito de um artigo sobre a portugalidade como estratégia de marca,
publicado na edição impressa do M&P.
Meios & Publicidade (M&P): Muitas marcas têm vindo a apostar na
portugalidade e no facto de serem produzidas em Portugal como factor
preponderante nas suas estratégias de comunicação. Este argumento
funciona?

Paulo Nunes de Almeida (PNA): A portugalidade é um dos grandes
argumentos de venda junto dos consumidores finais, conjuntamente com a
qualidade e o preço. E por isso as marcas estão cada vez mais a
apostar em mensagens de portugalidade para venderem os seus produtos.
Veja-se o caso das marcas próprias das cadeias de hipermercado. Já
todas enfatizam e promovem a sua preocupação com a origem nacional do
produto. A crise económica que se vive em Portugal, alavancada pela
campanha "Compro o que é nosso", que a AEP desenvolveu nos últimos
cinco anos, contribuem decisivamente para que os portugueses percebam
a importância sócio-económica de consumir marcas nacionais.
M&P: Quais as vantagens de assumir e promover a portugalidade?
PNA: Ao promover a portugalidade estamos a contribuir para combater o
desemprego, para aumentar a riqueza nacional, para reduzir o deficit
externo e para elevar a auto estima dos portugueses.
M&P: A portugalidade é uma boa estratégia para os mercados externos?
Será um trunfo ou um entrave ao sucesso nos mercados de exportação?
PNA: As marcas nacionais são cada vez mais respeitadas no mercado
externo devido à qualidade dos produtos. Em sectores de actividade tão
diversos como o calçado, a indústria têxtil, a construção civil, a
alimentação, a metalomecânica, o sector automóvel, o sector
informático e a cerâmica, as marcas portuguesas são cada vez mais
conhecidas pela qualidade. Por isso, parece-me uma boa estratégia de
exportação evidenciar-se cada vez mais a origem dos nossos produtos.
M&P: Em que situações poderá ser positivo omitir ou mostrar que as
marcas são portuguesas nos mercados internacionais? Ou seja, em que
casos é melhor omitir a nacionalidade para avançar com a
internacionalização e em que casos ser uma marca portuguesa pode ser
uma mais valia?
PNA: Creio que a necessidade de omitirmos a origem das marcas já não
se justifica. Esse problema existiu até há cerca de 10 anos, mas
actualmente a imagem internacional das nossas empresas que exportam já
é bastante positiva. O maior problema talvez seja escala. O facto de
sermos um país pequeno condiciona a nossa capacidade de exportação em
grande escala para produtos como o vinho, os lacticínios ou os
hortofrutícolas. Em casos como estes é importante que a qualidade seja
o factor diferenciador.
M&P: As marcas de distribuição estão a crescer em quota de mercado mas
são sobretudo resultado de produtos importados. Como vêem esta
situação?
PNA: Não é verdade. As marcas próprias têm vindo a privilegiar cada
vez mais a produção nacional. Por exemplo, a grande maioria das marcas
Auchan já têm o símbolo "Compro o que é nosso" porque nos últimos dois
anos a cadeia investiu imenso na relação com a produção nacional. O
Continente e o Lidl têm feito exactamente a mesma coisa. As marcas
próprias já representam quase 36% das vendas dos hipermercados mas
felizmente que este resultado foi acompanhado por um aumento
significativo de vendas no mercado nacional.
M&P: Apesar desta aposta em produtos importados vendidos como marcas
de distribuição, as cadeias de distribuição (Continente, Pingo Doce,
etc) levam a cabo estratégias de comunicação de promoção e apoio aos
produtores nacionais. Não estão a correr o risco de serem
percepcionadas como hipócritas com este tipo de contra-senso?
PNA: Se tivermos em conta que estão a desenvolver esforços para
comprar cada vez mais no mercado nacional creio que não são
hipócritas. O nosso problema é que nem sempre a produção nacional tem
capacidade para abastecer estas cadeias ao longo de todo o ano. E, por
isso, as próprias cadeias são obrigadas a recorrer ao mercado
internacional. Um dos objectivos do "Compro o que é nosso" é
precisamente reforçar a ligação da distribuição com a produção
nacional de forma que o recurso a produtos importados seja cada vez
menor.
http://www.meiosepublicidade.pt/2012/03/01/nem-sempre-a-producao-nacional-tem-capacidade-para-abastecer-as-cadeias-ao-longo-do-ano/

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