Depois de ter perdido relevância na última década, a agricultura
nacional tem vindo a crescer desde 2009
Campo atrai cada vez mais
D.R.
04/04/2013 | 00:00 | Dinheiro Vivo
Ganhar a vida a trabalhar a terra está a surtir efeitos positivos.
Depois de anos de abandono, a agricultura volta a evidenciar sinais
vitais julgados perdidos. Se o declínio marcou a atividade na última
década, tudo se inverteu desde há quatro anos, contrariando o agudizar
da crise económica.
Em 2011, o sector agrícola representava cerca de 8% das empresas, 9%
do número de trabalhadores e 14% do volume de negócios de todo o ramo
empresarial não financeiro, de acordo com o Banco de Portugal (BdP).
A grande maioria das empresas (82%) é micro, embora os maiores
contributos para o volume de negócios sejam originados nas PME (50%) e
grandes empresas (39%). O BdP inclui no sector empresas de produção,
indústria e comércio de produtos agrícolas.
Traduzindo em números, o Instituto Nacional de Estatística (INE)
apurou haver 43.972 empresas da atividade agrícola no final de 2010,
que contribuíram com 1% para o VAB gerado no sector empresarial não
financeiro. As de maior dimensão económica estão relacionadas com a
produção animal.
Na generalidade, as empresas agrícolas estão sobretudo nas mãos de
empresários em nome individual ou trabalhadores independentes, sendo a
mão-de-obra baseada essencialmente na estrutura familiar e constituída
por 793 mil pessoas que trabalham nas explorações (menos 36% dos que
os recenseados em 1999).
Considerando o período 2004-2010, houve uma diminuição média anual de
0,3% no número de empresas, e, ao contrário do que aconteceu na
década, houve um ligeiro aumento de 0,7% ao ano no número de pessoas
ao serviço. O volume de negócios cresceu 2,1%, em média anual (até
atingir 3,8 mil milhões de euros em 2010), acompanhando uma subida no
valor da produção, na ordem dos 2,7% ao ano.
O dinamismo é também visível na autossuficiência já alcançada. Os
últimos dados do INE indicam que o país é autossuficiente no vinho,
mas o azeite, ovos, hortícolas e frutos frescos estão muito próximo
dos 100% para abastecer o país.
As próprias exportações estão em alta. No último trimestre do ano
passado, a classe de alimentos e bebidas cresceu 4,1%, para 1305
milhões de euros, enquanto as importações diminuíram 1,6%, face a
igual período do ano anterior.
Os protagonistas confirmam
"Houve um crescimento no setor, em 2012, que se refletiu num aumento
das exportações e num aumento da capacidade para criar emprego. E,
embora tenha vindo a diminuir o número de produtores, a produtividade
tem vindo a crescer, bem como o uso de tecnologia", destacou Luís
Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal
(CAP).
Já João Dinis, dirigente da Confederação Nacional da Agricultura
(CNA), sustenta que "nos últimos cinco anos, a agricultura tem
evoluído a duas ou três velocidades: há uma parte, a superintensiva ou
intensiva, que está concentrada e nas mãos de grandes empresas, que
tem tido grande crescimento". É aí que situa as produções industriais
da floresta, hortícolas, azeite, vinho e leite. "Depois, há uma
agricultura de médias empresas ligadas àqueles setores. E há ainda uma
agricultura familiar tradicional, em comunhão com a natureza, e não em
exploração, que tem falta de escoamento dos produtos e que tem de
suportar preços baixos na produção". O dirigente da CNA chama ainda
atenção para outros constrangimentos ao crescimento da pequena
agricultura, como a "ditadura dos hipermercados", o corte nas ajudas
públicas ao setor e as novas regras fiscais.
O que produzir
Apesar dos obstáculos, há auspícios agrícolas promissores e, no
contexto, daria jeito saber em que culturas apostar. Embora neste
ponto não haja ciência feita, os peritos dão uma ajuda.
Para Luís Mira, há que ter em conta três condições, antes de se
decidir fazer um investimento na agricultura: "Saber quais as
características de solo e do clima do local da exploração; saber se há
mercado para as produções; e garantir conhecimento técnico para saber
produzir".
João Dinis, reportando-se ao mercado interno, defende: "Temos de
produzir para alimentar, e não só apostar no eucalipto. As culturas
estratégicas são: carne, leite, cereais e as componentes das rações
animais".
http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO134609.html?page=0
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