Publicado às 00.33
GLÓRIA LOPES
Na região de Bragança há um espaço de excelência agrícola, o Vale da
Vilariça, onde os produtores se estão a organizar para melhor tirar
partido dos investimentos ali realizados, sobretudo, no regadio.
Há uma mudança silenciosa a acontecer no Vale da Vilariça. Na zona
produz-se a melhor fruta do país, graças ao índice Brix (concentração
de açúcar medida com um refratómetro) que atesta a excecionalidade
daquele território devido ao solo e às condições climatéricas de
microclima. Os produtores estão a organizar-se. Criaram um
agrupamento. Estão a avançar com a certificação DOP (Denominação de
Origem Protegida) para o pêssego e o melão. A reforma da organização
dos terrenos e relocalização das culturas está em marcha. O objetivo é
produzir com a máxima rentabilidade apostando nas culturas certas,
deixando de lado as tradicionais como o olival e a vinha. Até o
empresário Belmiro de Azevedo, através de uma holding, comprou
terrenos naquela, onde está a produzir pêssegos em 50 hectares. O vale
é cada vez mais atraente para quem quer investir na fruticultura e na
horticultura.
Ultrapassados que estão os problemas estruturais do vale, nomeadamente
a falta de água para regadio, com a conclusão de três barragens, e as
acessibilidades precárias, resolvidas com a abertura do IP2 e do IC5,
neste momento, a grande luta é a necessidade de ter uma agricultura
competitiva para ganhar escala e quota de mercado. "Nestes últimos
anos tem havido a capacidade de tornar as potencialidades do vale em
verdadeiras oportunidades", referiu Manuel Cardoso, diretor regional
de Agricultura. Não é por acaso que tem havido grandes investimentos e
que a produção é escoada diretamente para as grandes superfícies, com
produtores que fazem parte dos clubes de produtores.
Só em investimento público estão em marcha projetos que ultrapassam os
dois milhões de euros. Para o reforço da capacidade da barragem da
Burga, a instalação de contadores controlados por telegestão, e um
projeto para a reorganização das culturas do vale de modo a fazer
unidades de produção maiores e homogéneas. Ainda reina o minifúndio.
Os agricultores querem criar explorações maiores, com gestão única,
agrupando vários produtores para reduzir custos na aquisição de
fatores de produção, a gestão do parque de máquinas, contração de mão
de obra especializada. "É preciso abertura de mentalidades para fazer
isto", admite Fernando Brás, presidente da Associação de Beneficiários
do Vale da Vilariça.
O vale já produz muito e bem, mas emperra na comercialização. "O lucro
fica nas empresas que compram a fruta e fazem a normalização e
comercialização", explica José Almendra, técnico da associação. "A
fruta tem qualidade, mas é vendida nas grandes superfícies sem a
identificação do Vale da Vilariça", acrescentou. Outra ambição passa
pela transformação da fruta, com o aproveitamento de subprodutos,
fruta sem calibre para comercializar em fresco, que representa 20% da
produção total e que tinha como destino o lixo. Os agricultores querem
criar uma unidade para fazer a desidratação e vender como fruto seco.
"Temos que aproveitar ao máximo o que temos", sublinha Fernando Brás.
v
http://www.jn.pt/125Anos/default.aspx?Distrito=Bragan%E7a&Concelho=Bragan%E7a&Option=Interior&content_id=3140769
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