Agricultores, criadores de gado e produtores de leite do distrito de
Aveiro participaram hoje numa marcha de tratores e carrinhas, em
protesto contra medidas de austeridade que agravam a situação de um
setor que "trabalha para aquecer e perder dinheiro".
A expressão é de um dos empresários que aderiu ao protesto, António
Valente, que, dedicando-se à criação de gado e produção de leite em
Ovar, garantiu à Lusa: "Esta é a pior fase de que me lembro. O leite é
o nosso ganha-pão, mas está-nos a ser pago ao mesmo preço de há 30
anos, enquanto o preço da ração, dos adubos e do milho está muito mais
caro. Andamos mesmo a trabalhar para aquecer e a perder dinheiro".
O protesto decorre entre Ovar e Aveiro.
Albino Silva, presidente da Associação da Lavoura do distrito de
Aveiro, que promoveu a iniciativa, declara que o objetivo do protesto
é mesmo chamar a atenção para esses aspetos.
"Estes governos não têm cumprido as medidas prometidas durante as
campanhas eleitorais", explica, "e o aumento dos impostos e do custo
de vida, juntando-se à já difícil situação do setor, está a preocupar
muito os agricultores da região, que, por este andar, correm o risco
de fechar portas".
Este ano, diz, "já houve dezenas de explorações leiteiras que foram à
vida e é preciso que a agricultura seja mais apoiada".
"Os governantes podem dizer o que quiserem, mas, enquanto não houver
escoamento de produtos a um preço justo para com o trabalho dos
agricultores, eles mal ganham para o sustento".
Para Albino Silva, também é preciso que o Governo tenha "coragem para
impor que as grandes empresas de distribuição baixem as suas margens
de lucro" em favor das dos produtores, porque "não se pode falar em
competitividade quando os preços pagos aos agricultores estão em baixa
e os fatores de produção em alta, como acontece com as rações e também
com a eletricidade e o gasóleo".
Manuel de Oliveira Maia, que também explora uma vacaria em Ovar,
concorda com essa perspetiva e afirma: "O aumento dos impostos e do
IVA vai levar-nos à falência. Ou o Governo pensa bem no que está a
fazer à agricultura ou daqui a nada ela deixa de existir".
O empresário admite que nunca viu "fase como esta" e assegura que, "se
ninguém deitar a mão a isto, vai haver muita gente a fechar a casa
porque só tem prejuízo e mal ganha para comer".
Outro agricultor com visão idêntica é Domingo Dias, que considera que
"a situação mais escandalosa" é a da produção de leite.
"Porque é que em qualquer negócio cada um faz os seus preços e só no
leite é que isso não acontece? Andámos nisto desde miúdos, matámo-nos
a trabalhar e, como só nos pagam o preço que lhes dá jeito a eles,
quem se lixa somos nós, que praticamente só ganhamos para a despesa".
Domingo Dias explica ainda que "para isto ter futuro, das duas, uma:
ou nos aumentam o preço que pagam pelo leite, ou têm que nos baixar os
preços das outras coisas de que precisamos para a produção, como a
alimentação do gado e o gasóleo das máquinas".
"Claro que é preciso investir em máquinas novas, porque as que temos
chegam a um ponto em que já não valem a reparação Mas se, como isto
está, só vamos é acumulando dívidas, quando é que nos vai sobrar
alguma coisa para isso?".
A marcha promovida pela Associação da Lavoura do Distrito de Aveiro
envolveu cerca de 40 veículos e termina à hora de almoço numa
concentração na feira de exposições de Aveiro, que, de hoje a domingo,
acolhe a FRILAC 2011 - Feira Nacional do Leite e do Bovino Leiteiro.
@Lusa
http://noticias.sapo.pt/infolocal/artigo/1196892
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