Por Agência Lusa, publicado em 27 Out 2011 - 10:40 | Actualizado há 10
horas 38 minutos
O planeta está confrontado com o enorme desafio do crescimento
populacional e o principal problema consiste nos efeitos negativos que
a produção alimentar pode originar no meio ambiente, disse em
entrevista à LUSA um especialista da FAO.
As projeções das Nações Unidas apontam para um planeta que na
segunda-feira atingirá os sete mil milhões de habitantes e que terá
cerca de 9,3 mil milhões de habitantes em 2050, colocando-se o desafio
sobre a capacidade dos recursos para alimentar uma população em
contínuo crescimento, com particular incidência nos continentes
africano e asiático.
"A nossa ideia é que alimentar toda esta gente implica desafios
significativos. O problema não reside na impossibilidade de garantir
alimentos, mas antes na possibilidade de essa produção originar
imensos prejuízos, em particular no meio ambiente", referiu em
entrevista telefónica à LUSA Piero Conforti, economista da Organização
para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO).
Para o especialista, editor do recente e pormenorizado estudo "Looking
Ahead in World Food and Agriculture. Perspectives to 2050"
(http://www.fao.org/docrep/014/i2280e/i2280e00.htm), existe o risco de
a agricultura intensiva se tornar um "grande agente poluidor", sendo
necessário encontrar formas para reduzir a pressão que a agricultura
coloca nos recursos do planeta.
"O principal desafio consiste em alimentar provavelmente 9,3 mil
milhões de pessoas em 2050 e em simultâneo reduzir o mais possível os
danos no planeta", insiste.
Um "desafio multifacetado", que implica a promoção da inovação, novas
tecnologias, uma opção pelas melhoras soluções e ainda "um desfio em
termos de instituições e de governos".
"Não é suficiente introduzir e aplicar novas tecnologias numa qualquer
região, é preciso que existam incentivos locais que permitam aos
agricultores extraírem proveito destas tecnologias", sublinha Piero
Conforti.
E especifica: "São necessárias políticas adequadas, mercados que
funcionem efetivamente, têm de existir os incentivos mais corretos
para que os agentes produzam o que tenham de produzir. É uma tarefa
difícil, envolve um grande esforço de diversos organismos".
Num cenário em que a degradação dos solos e dos recursos de água se
vão tornar "críticos" em muitas regiões do mundo, como alias já sucede
em diversas áreas, será decisivo oferecer aos agricultores um
"ambiente propício" de políticas e incentivos, reduzindo a pressão
sobre o meio ambiente.
"A região mais sensível é África, que assistiu a um crescimento
económico na última década. Mas a África subsaariana é a parte do
mundo que suscita preocupações mais diretas, porque a produtividade
ainda é muito baixa, a economia não está muito diversificada,
permanece dominada pela agricultura, em muitos casos uma agricultura
de subsistência", revela.
No entanto, o aumento da produtividade agrícola e a melhoria da
gestão dos recursos permanece "muito dependente" dos esforços dos
governos.
"Nas últimas décadas a agricultura foi muitas vezes negligenciada em
benefício de outras formas de investimento. O Banco Mundial já o
reconheceu nos últimos anos e exortou a um investimento global na
agricultura. É uma questão-chave", reforça.
"Em paralelo, é necessário ainda um forte envolvimento do setor
privado, o sistema de produção mundial necessita tornar-se mais
complexo, sobretudo nos países da África subsaariana, que vai estar
confrontada com um forte crescimento populacional e um forte fenómeno
de urbanização", acrescenta o especialista da FAO.
A "grande revolução" que se perspetiva nesta área -- uma "longa
produção em cadeia com capacidade para produzir alimentos que devem
ser transportados das áreas rurais para as urbanas" -- está assim
dependente dos "incentivos corretos" fornecidos pelos governos para
que os setores privados "operem em benefício de um bom equilíbrio
entre a procura e a oferta", conclui o responsável da FAO.
http://www.ionline.pt/mundo/principal-desafio-sera-alimentar-populacao-preservar-os-recursos-planeta
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