terça-feira, 25 de outubro de 2011

Laboratório de Coimbra quer reduzir emissões de CO2 com atalho químico

Projecto de três anos
24.10.2011 - 19:24 Por Nicolau Ferreira
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Os combustíveis fósseis são a principal fonte energética (Jo
Yong-Hak/Reuters (arquivo))
Enquanto a energia no mundo for produzida à base de combustíveis
fósseis, haverá libertação de dióxido de carbono de tubos de escape e
chaminés de fábricas. Mas o gás não tem que inundar a atmosfera e
acentuar as alterações climáticas, pode ser armazenado logo em grandes
agregados de moléculas e ser utilizado na indústria química.
Esta é ideia de um projecto para evitar o aumento de gases na
atmosfera que provocam o efeito de estufa, liderado por Abílio Sobral,
investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra.

"Nos próximos anos não me parece que haja alternativa aos combustíveis
fósseis para a indústria, e nessa perspectiva há que resolver o
problema, muitos ecossistemas podem deixar de existir [devido às
alterações climáticas]", disse ao PÚBLICO o químico, especialista na
vertente orgânica – a química que estuda as moléculas da vida,
baseadas no carbono.
O investigador do Departamento de Química da universidade está a
tentar desenvolver uma espécie de esponja que absorve as moléculas
como o dióxido de carbono ou o metano, mas não só. "Há dois ou três
materiais que fazem isto, mas o que se faz depois? O que propusemos é
usar o dióxido de carbono acumulado como material industrial", disse.
Para produzir por exemplo formaldeído, um composto muito utilizado em
processos industriais.
O projecto tem dinheiro da FCT para três anos e "só começou há seis
meses". A equipa de Sobral está a inspirar-se em várias moléculas
orgânicas para obter a esponja, entre as quais a clorofila –
responsável nas plantas pela obtenção de energia através de energia
solar.
Se resultar, as moléculas serão depois sintetizadas no laboratório. "O
ideal era utilizar energia solar", explicou o cientista. Abílio Sobral
ainda não sabe qual será o grau de eficácia da tecnologia, mas espera
ser muito grande. Ou seja, para uma unidade de "esponja", haverá a
absorção de "100, 200 ou 300 moléculas de CO2".
Isto, em situações de alta concentração do gás, como nas saídas de
tubos de escape de carros ou chaminés de fábricas. Depois, o CO2 seria
utilizado nos processos químicos reduzindo a quantidade de
matéria-prima normalmente utilizada nestes produtos.
Actualmente há várias ideias de geoengenharia com o objectivo de
diminuir os efeitos das alterações climáticas. Uma quer colocar
sulfatos para a atmosfera, imitando o que os vulcões fazem. Isso
aumenta a radiação solar que é reflectida para o espaço e diminui
momentaneamente a temperatura na Terra. Outra ideia é enviar o CO2
atmosférico de volta para os espaços no interior da crosta terrestre
de onde se retirou o petróleo.
Mas Abílio não considera que este projecto entre nessa categoria,
porque não está a mexer directamente no ciclo do carbono. "Estamos a
fazer um atalho, o dióxido de carbono é logo capturado quando é
emitido, é um atalho químico", disse o cientista que não se sente à
vontade com as ideias da geoengenharia.
"Podemos discutir a ideia mas não concordo, por cautela científica.
Qualquer ecossistema tem 1000 variáveis que não conhecemos, a ciência
deve ser humilde e vejo a geoengenharia com alguma preocupação",
defendeu.
http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/laboratorio-de-coimbra-quer-reduzir-emissoes-de-co2-com-atalho-quimico-1518022

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