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23 de Outubro, 2011
Foram poucos os restaurantes a aderir à Campanha Nacional para o
Direito à Alimentação e muitas autarquias preferiram não avançar com o
projecto. Em Lisboa, a vereadora Helena Roseta garante que "a campanha
pariu um rato".
O programa, lançado há cerca de um ano com o patrocínio do Presidente
da República Cavaco Silva, propunha-se criar uma "Rede Nacional de
Solidariedade" que oferecesse refeições a pessoas "em situação
especialmente difícil".
Com o anúncio do aumento do IVA para a restauração, a Associação de
Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) alertou esta
semana que o projecto poderia ficar em risco.
No entanto, algumas autarquias envolvidas garantem que a campanha está
parada por ausência de restaurantes dispostos a fornecer refeições.
"Foi uma manobra de propaganda. Os restaurantes fizeram o seu número e
depois cortaram-se. Aqui em Lisboa, a campanha pariu um rato",
criticou a vereadora da Acção Social na Câmara Municipal de Lisboa,
Helena Roseta.
A autarquia identificou as freguesias com mais idosos isolados e
seleccionou 74 famílias. "Só responderam positivamente três
restaurantes, por isso insistimos para ver se aderiam mais, mas o
resultado foi que passámos de três para zero", lamentou Helena Roseta.
A história repetiu-se noutros concelhos. Em Oeiras "não apareceu
nenhum restaurante", contou à Lusa a vereadora Elisabete Oliveira,
pelo que a câmara decidiu avançar com um projecto local.
"Fizemos alguns contactos e as coisas começaram a correr melhor",
admitiu a vereadora, explicando que actualmente três restaurantes e
duas pastelarias fornecem 18 refeições diárias a 15 famílias.
De 308 municípios existentes em Portugal apenas 91 aderiram a
campanha, sendo que entre estes alguns acabaram por desistir, como
aconteceu em Boticas.
"Temos cerca de 1300 famílias carenciadas, mas como já tínhamos outros
programas achámos que não seria necessário mais este", explicou o
presidente da autarquia, Fernando Campos, referindo-se à distribuição
de medicamentos, alimentos, ajuda no pagamento de renda de casa e
transporte gratuito dos alunos.
A existência de outros programas alimentares foi, aliás, uma das
razões invocadas por diversas autarquias para que nunca se tivessem
inscrito.
Em Cascais, por exemplo, o vereador da Acção Social, Frederico Pinto
de Almeida, explicou que a autarquia não aderiu porque já tinha um
programa de aproveitamento de desperdícios alimentares em parceria com
os supermercados locais.
Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa, uma das parceiras
da campanha, admitiu que lhe tinha sido confidenciado que "havia menos
restaurantes a aderir do que os que seriam expectáveis".
Disse ainda desconhecer o número de aderentes, mas referiu que,
segundo a AHRESP, Santa Maria da Feira seria um "concelho modelo nesta
matéria".
No entanto, em declarações à Lusa, a responsável pela divisão da ação
social, Manuela Coelho, explicou que antes de surgir a campanha, a
autarquia já tinha no terreno um programa semelhante: "Temos uma rede
de restaurantes solidários que fornecem refeições num espírito de
combate ao desperdício e de cultura de responsabilidade social",
explicou.
A Lusa contactou a AHRESP para saber quantos estabelecimentos tinham
aderido e quantas refeições estavam a ser oferecidas.
A associação não indicou um número exacto de restaurantes, afirmando
apenas estarem inscritos "milhares": "Os restaurantes não divulgam
quem são. Ninguém faz isto por publicidade", explicou a assessora de
imprensa da AHRESP.
A agência Lusa tentou contactar o outro organismo promotor da Campanha
"Direito a Alimentação", a Associação Nacional de Municípios
Portugueses, mas Fernando Ruas, presidente da associação, não esteve
disponível durante toda a semana.
Lusa / SOL
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=31804
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