segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Espanhóis produzem azeite no Alentejo para ser vendido com rótulos italianos

Sectores tradicionais
30.10.2011 - 17:28 Por Carlos Dias
7 de 8 notícias em Economia« anteriorseguinte »
Azeite chega ao consumidor mundial sem se saber que é de Portugal
(Joana Bourgard)
Azeite virgem extra português de grande qualidade é disputado pelas
redes de intermediários para valorizar outros azeites que têm uma
qualidade inferior à da produção nacional.
O grupo espanhol Innoliva investiu desde 2007 no Alentejo e na
Andaluzia cerca de 126 milhões de euros na aquisição de 5000 hectares
de terras, na preparação dos solos, sistemas de rega, equipamentos
agrícolas e na instalação de um lagar.
A envergadura do investimento
destina-se a transformar uma produção anual prevista de 56.000
toneladas de azeitona de variedade arbequina em 11.000 toneladas de
azeite português e espanhol, que a empresa exporta para ser embalado
com rótulos italianos. A empresa espera obter 40 milhões de euros em
vendas.
"Queremos ser uma referência mundial na produção de azeite virgem
extra por via da introdução de tecnologia e inovação no cultivo" de
olivais superintensivos ou em sebe, argumenta Miguel Rico, presidente
do Grupo Innoliva.
No entanto, não consegue esconder a sua contrariedade quando revela
que um azeite de excelente qualidade que podia valorizar a imagem da
região onde é produzido, "é vendido sob marcas italianas". "Nem sequer
sabemos [exactamente] quais os mercados onde é colocado" lamenta-se o
presidente da Innoliva, quando confrontado pelo PÚBLICO sobre o
destino final do azeite que é produzido no Alentejo. Desconforta-o
saber que um azeite que "é vendido a 2,5 euros o quilo chega ao
consumidor americano a 50 euros" sublinha.
Pensar a longo prazo
Miguel Rico reconhece que " é extremamente difícil" entrar no mercado
da distribuição controlado pelos italianos. "Eles têm muitos milhares
de restaurantes com a sua gastronomia dispersos pelo mundo e ao lado
está sempre uma loja de promoção de azeite". Combater esta forma de
monopólio é uma tarefa que o presidente da Innoliva se propõe realizar
de uma forma metódica e persistente, procurando consolidar uma aliança
estratégica a médio e longo prazo com a distribuição.
O grosso da produção da empresa espanhola concentra-se no Alentejo.
Entre 2008 e 2011, a empresa plantou olivais em Moura, Cuba, S. Manços
(Évora), Figueira de Cavaleiros e Gasparões (Ferreira do Alentejo). Ao
todo, são 3500 hectares de olivais superintensivos onde crescem cerca
de sete milhões de árvores. As outras explorações do grupo, cerca de
1500 hectares, localizam-se nas províncias de Córdoba e Badajoz. Na
sexta-feira, a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, inaugurou um
sofisticado lagar de azeite na Herdade do Carapetal em Santiago do
Cacém, que alberga um total de 22 silos, fabricados totalmente em aço
inoxidável numa empresa de Córdoba e cinco centrifugadoras fabricadas
na Alemanha.
A capacidade total de armazenamento é de quase 2,3 milhões de quilos
de azeite, e implicou, numa primeira fase, o investimento de cinco
milhões de euros de um total previsto de 7,3 milhões de euros.
Portugal, adianta a Innoliva, é um dos países que a nível mundial mais
tem "aumentado a superfície cultivada". E fê-lo com os critérios "da
nova e moderna olivicultura, o que lhe permite, não apenas aumentar a
sua capacidade produtiva, mas também produzir melhores azeites"
acrescenta.
Assim, pelas contas do investidor espanhol a produção actual no
território nacional é de 70.000 toneladas de azeite e necessita de,
contando com o mercado nacional e exterior, aproximadamente 110 mil
toneladas.Actualmente, em todo o mundo, estão plantados 100.000
hectares de cultivos superintensivos de olival, dos quais 40.000 se
encontram em Espanha, 12.000 em Portugal, 5000 na Tunísia, 4000 em
Marrocos, 10.000 nos Estados Unidos da América e 10.000 no Chile.
A primeira diferença em relação às explorações tradicionais de olival
(que representa 89 por cento da produção mundial, 78 por cento da
produção de Espanha e 87 por cento em Portugal) é o número de
oliveiras por hectare.
No modelo tradicional, existem 75 e 125 árvores por hectare, no modelo
intensivo cerca de 300 árvores e no superintensivo, empregue pela
Innoliva, chega a obter-se o número de 2000 árvores por hectare.
O Grupo Innoliva que tem como accionistas o Grupo MRA, (oriundo do
sector da construção civil) a Polan S.A. (empresa de investimentos
patrimoniais da família Del Pino) e a Caixa Catalunya, testa no
Alentejo os seus modelos produtivos e empresariais, em colaboração com
a Universidad de Córdoba e o apoio do banco português BPI com um
investimento 55 milhões de euros. E espera poder transpor a
experiência consolidada para outras zonas do globo.
http://economia.publico.pt/Noticia/espanhois-produzem-azeite-no-alentejo-para-ser-vendido-com-rotulos-italianos-1518889

1 comentário:

rd disse...

Noticia triste,mais uma vez se comprova, que as medidas que se tomam para melhorar e dinamizar a nossa imagem no exterior com os produtos de qualidade que aqui são produzidos ,não são suficientes,mas a culpa é dos portugueses, visto que não tomamos medidas para salvaguardar os nossos interesses, permitindo que situações destas aconteçam, pelos vários sectores nacionais,penso que está na hora de Portugal e os portugueses deixarem de pactuar de uma vez por todas com este tipo de situações para bem do país.

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