domingo, 27 de novembro de 2011

A crise leva mais gente para as florestas em busca de cogumelos

Sente-se mais procura na região de Viseu
27.11.2011 - 15:21 Por Lusa
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(Foto: Paulo Pimenta)
Todos os anos, por esta altura, as florestas da região de Viseu
enchem-se de apanhadores de cogumelos, mas este ano a crise está a
levar mais gente para as matas em busca da "carne dos pinhais".
No topo da lista dos mais procurados estão os carnudos míscaros
(Tricholoma Equestre) e os suculentos boletos (Boletus Edulis), por
serem as espécies mais conhecidas e também as que oferecem mais
confiança a quem consome.

Poucas são as mercearias tradicionais na cidade de Viseu que, mal
chega o Outono, não têm à venda, quase sempre em sacos de meio quilo,
cujo preço varia entre os 10 e os 20 euros, dependendo da fartura ou
míngua de quem apanha, os míscaros, claramente os preferidos para
fazer com arroz, acompanhados de entrecosto ou coelho.
Helena Fernandes, desde que se lembra, sempre andou pelos pinhais na
apanha de míscaros, para fazer em casa, quase sempre com arroz, ou
fritos, no caso dos boletos. Mas este ano, como contou à Agência Lusa
a escassos quilómetros de Viseu, "há menos para apanhar e mais quem
ande à procura da carne dos pinhais".
"Com isto da crise, com o desemprego, este ano nota-se bem que há mais
gente nos pinhais", sinalizou Helena Fernandes, quando, ao fim de duas
horas já tinha, em conjunto com mais três familiares, cerca de cinco
quilos de míscaros e alguns boletos, um deles com mais de um quilo,
tudo para meter no tacho e na frigideira.
"Regresso às origens"
Com o aumento da procura, as espécies mais apreciadas sofrem uma
"enorme pressão", disse à Lusa José Manuel Costa, especialista em
micologia da Escola Superior Agrária de Viseu (ESAV), que entende ser
esta altura de maiores dificuldades económicas "propícia a um regresso
às origens", sendo a apanha de cogumelos um indício disso mesmo.
"Há um saber que passa de pais para filhos que é válido e é usado na
recolha de cogumelos, mas grande parte das espécies comestíveis não
são conhecidas pelas pessoas, o que permite evitar alguma confusão com
outras que são tóxicas ou mortais", explicou.
Para além do risco de apanhar cogumelos perigosos, há ainda o
problema, salientou José Manuel Costa, da "enorme pressão exercida
sobre algumas espécies, de que a 'Tricholoma Equestre' é um bom
exemplo, pois corre risco de simplesmente desaparecer devido ao
excesso de procura".
Este excesso de procura, segundo o professor da ESAV, que se dedica à
micologia há mais de 25 anos, tem origem na acentuada quebra do
trabalho na agricultura nos últimos anos, com a recolha de míscaros a
ser uma alternativa económica.
Desde 2009 que existe legislação que regulamenta a apanha de
cogumelos, impondo, por exemplo, um limite máximo de cinco quilos por
pessoa, mas esta é pouco mais que ineficaz por falta de fiscalização,
advertiu José Manuel Costa.
"É claramente expectável que, neste período de crise, aumente a
procura de cogumelos e a pressão sobre as espécies, mas não parece que
a fiscalização tenha um aumento proporcional a essa crescente
procura", acrescentou o técnico.
http://www.publico.pt/Local/a-crise-leva-mais-gente-para-as-florestas-em-busca-de-cogumelos-1522772

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