quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Empresas acusadas de fraude com carne de cavalo culpam Roménia

CLARA BARATA 11/02/2013 - 00:00

Fábrica da Spanghero, a empresa francesa que contratou o fornecimento
de carne romena usada nos congelados Findus REMY GABALDA/AFP


Por que é a carne picada nos supermercados europeus afinal é de
cavalo? As autoridades francesas estão a investigar e começam a
descobrir uma fraude internacional. A Findus sueca está na berlinda

O escândalo dos alimentos com carne de cavalo picada onde deveria
haver carne de vaca afecta vários países europeus e avoluma-se, com os
dedos acusadores a virarem-se para a Roménia, de onde vem a carne
usada nas lasanhas e produtos congelados da marca Findus com 100% de
carne de equino. Mas isso não impede que as várias empresas envolvidas
na complicada cadeia que levou a carne até ao prato dos consumidores
britânicos, franceses e suecos, pelo menos, tentem sacudir a água do
seu capote, ameaçando processar-se mutuamente.

A agência de segurança alimentar sueca anunciou que vai fazer queixa
da Findus, a empresa sueca cujas refeições congeladas à base de carne
foram retiradas dos supermercados britânicos e suecos depois de se ter
descoberto que tinham 100% de cavalo. Ontem, seis cadeias de
supermercados franceses - Carrefour, Monoprix, Auchan, Casino, Cora e
Picard - retiraram também produtos da Findus dos seus congeladores
pelo mesmo motivo. Não queriam continuar a vender gato por lebre.

Em Portugal, a ASAE anunciou na sexta-feira não ter sido detectada
carne de cavalo em alimentos vendidos como vaca nas acções de
fiscalização que realizou, entre 22 e 24 de janeiro - antes de ter
sido encontrado ADN equino nos produtos Findus.

Mas a Findus atira as culpas para o seu fornecedor de carne romeno,
cuja identidade não revelou até agora, e garante que hoje apresentará
queixa contra esta empresa. "Fomos enganados", disse a Findus Nordic.
"Há duas vítimas neste caso: a Findus e o consumidor".

Se há coisa que este caso revelou é a complicada teia do negócio da
alimentação na União Europeia: as refeições congeladas da Findus foram
cozinhadas por uma empresa francesa chamada Comigel (que trabalha para
16 países da União Europeia, diz o The Independent britânico), numa
fábrica no Luxemburgo, e para fazer lá chegar a carne recrutou os
serviços de outra empresa francesa, chamada Spanghero. Esta, para
encomendar carne na Roménia, usou duas outras companhias: uma em
Chipre, que por sua vez contratou outra na Holanda, que finalmente fez
a encomenda a um matadouro na Roménia. O complicado percurso da carne
de cavalo foi deslindado pela investigação da Direcção Geral da
Concorrência, do Consumo e da Repressão das Fraudes francesa.

O que por agora é certo é que todos se tentam desculpar com a Roménia.
No entanto, a associação dos patrões do sector agroalimentar daquele
país não está a gostar da imagem que está a ser dada do país: "O
importador tinha de saber que não era carne de vaca. O cavalo tem um
gosto, uma cor e uma textura muito particulares", sublinhou o
presidente da Roalimenta, Sorin Minea, citado pelo Le Monde. "O
importador francês deve mostrar os documentos, e se não os tiver isso
deverá provar que comprou a carne no mercado negro, ou que tem algo a
esconder."

Quanto a Constantin Savu, da Autoridade Nacional de Saúde Veterinária
e Segurança Alimentar da Roménia, tenta desarmar a bomba que lhe
atiraram. "Tanto quanto sabemos, há carne de cavalo proveniente da
Roménia, mas isso não é um problema. Temos 25 matadouros autorizados a
abater cavalos e a exportar carne para a União Europeia", assegura.
"São matadouros oficiais, com veterinários para controlar todo o
processo, a carne tem selos oficiais até sair dali. Só não podemos
saber o que é que acontece quando sai do matadouro". Por ano, são
transportados 65 mil cavalos na UE para abate.

As autoridades de Bucareste lançaram um inquérito - dois matadouros,
em concreto, estão sob suspeita da investigação levada a cabo por
França, admitiu o ministro romeno da Agricultura, Daniel Constantin.

Entretanto, surgiu em cena o eurodeputado francês José Bové, membro do
partido Europa Ecologia-Os Verdes, com ligações ao sector agrícola,
que relacionou a multiplicação de casos em que foi detectado ADN de
equinos na carne picada à venda em vários supermercados europeus - os
primeiros casos surgiram na Irlanda, em meados de Janeiro - com a
proibição recente da circulação de carruagens puxadas a cavalo na
Roménia. "Terá havido quem quisesse dar um golpe financeiro à custa
dos consumidores, comprando carne barata de cavalo?", sugeriu,
defendendo a necessidade de ser lançada uma investigação ao nível
europeu.

O ministro francês para o Consumo, Benoît Hamon, lançou mais achas
para a fogueira, dizendo que o motivo para esta fraude que atravessa
vários países europeus é mesmo, o ganho financeiro - e que os lucros
podem já rondar os 300 mil euros.

http://www.publico.pt/mundo/jornal/empresas-acusadas-de-fraude-com-carne-de-cavalo-culpam-romenia-26043985

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