sábado, 22 de novembro de 2014

Symington. A família que deu a Portugal o brinde do ano


Não são muitas as famílias que se podem orgulhar de uma tradição de centenas de anos ligada ao mesmo negócio, com altos e baixos, mas com êxito reconhecido pelo sector, em Portugal e no resto do mundo. Os Symington representam as casas Graham's, Cockburn
O que têm em comum o Vinho do Porto Dow's 2011 Vintage que recebeu este mês a mais alta nota de vinhos na prestigiada Wine Spectator (n.o 1) e o terceiro na lista, Chryseia 2011 Douro? Ambos pertencem à casa da família Symington, a produzir vinhos no Douro há cinco gerações.

Desde 1882, ano em que Andrew James Symington veio para Portugal trabalhar na Graham's, a actual Symington Family Estates já teve 14 gerações de luso-britânicos com ligações aos vinhos do Douro. Hoje têm as casas Graham's, Cockburn's, Warre's, Dow's, Quinta do Vesúvio, Altano e 27 quintas no Douro, que ultrapassam 1000 hectares de vinha.



O director de comunicação da família, Miguel Potes, descreve o "terroir" (terreno) da região como "duro, difícil, com pouca matéria orgânica", mas indicado, único e "determinante na qualidade do vinho". O vinho é a dureza da imagem descrita por Miguel: "As vinhas têm de se esforçar para alcançar a água, sofrem de stresse hídrico e chegam a ter oito e nove metros de profundidade. As vinhas têm de sofrer para o vinho ser bom", conclui. Desse esforço nascem vinhos raros e com uma qualidade reconhecida em todo o mundo.

A exclusividade dos produtos, do património e do posicionamento global dos Symington traduz-se em exemplos que marcam a história de uma forma indelével. Nas caves da Graham's, das primeiras a instalarem-se em Vila Nova de Gaia - antigamente era obrigatório que as empresas de vinho do Porto tivessem instalações em Gaia -, a viagem faz-se entre fotos, expositores e objectos num espaço criado pelo arquitecto da casa, Luís Loureiro. Entre outros objectos, um relógio de valor incalculável oferecido por Andrew James Symington à mulher Beatrice de Sousa e Barros Leitão de Carvalhosa Atkinson, feito à mão pela marca Patek Philippe propositadamente para a rainha Maria Pia.



Nas caves propriamente ditas, ainda em funcionamento, entre centenas de pipas estão as do vinho do Porto de 1882 lançado este ano na Christie's, e também já disponível em Portugal na loja das Caves Graham's e nalgumas garrafeiras de referência no país. O vinho Ne Oublie marca o ano da chegada de Andrew James ao Porto. As 656 garrafas de cristal Atlantis têm motivos de prata gravados pelos ourives escoceses Hayward & Stott e caixa de couro da britânica Smythson da Bond Street. Cada garrafa Ne Oublie representa as três nações às quais a família Symington está ligada: Escócia, Inglaterra e Portugal. Cada garrafa é vendida a 5500 euros.



A história dos seus vinhos levou-os a estarem presentes com o Six Grapes na ementa da viagem inaugural do Queen Mary, em 1936, e novamente no Queen Mary II, em 2004.

O posicionamento global da família levou Dominic Symington à presidência do exclusivo clube Primum Familiae Vini, que reúne 11 das mais importantes famílias do mundo vínico: além da Symington fazem parte deste grupo Marchesi Antinori, Château Mouton Rothschild, Joseph Drouhin, Egon Müller Scharzhof, Hugel & Fils, Champagne Pol Roger, Famille Perrin, Tenuta San Guido, Torres e Vega-Sicilia. Recentemente, as famílias leiloaram uma caixa de vinhos provenientes das 11 casas que rendeu mais de 66 mil euros, entregues à Marie Curie Cancer Care.



O percurso da família é semelhante ao das restantes famílias luso-britânicas do Porto. Quase todos nascidos no Porto, vão ainda jovens para colégios e universidades ingleses, estagiam numa empresa do Reino Unido e regressam a Portugal para trabalhar no negócio familiar. Porém, como conta Miguel Potes, o lugar na Symington Family Estates não é adquirido: "Antes têm de provar que estão preparados para trabalhar, e são obrigados a sair aos 65 anos."

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