1 de Junho, 2011por César Avó
Beja acolhe a partir desta quarta-feira o Festival do Amor, mas
Jerónimo de Sousa – apesar de recebido calorosamente – não foi à
procura de beijinhos na noite de terça-feira. No comício que decorreu
no Jardim do Tribunal, pelo contrário, distribuiu pancada a Cavaco
Silva, António Guterres, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
«Os mais novos não se lembrarão do tempo do cavaquismo em que havia a
ideia de Portugal ser o bom aluno, de estar no pelotão da frente.
Ninguém se pode esquecer, e há quem queira ser esquecido, que PS, PSD
e CDS são responsáveis pela PAC (Política Agrícola Comum), de Cavaco
Silva e Arlindo Cunha, de Guterres e Capoulas Santos, que arruinaram a
agricultura nacional». Antes, o secretário-geral do PCP traçou um
quadro negro da agricultura: Portugal tem dois milhões de hectares de
terra boa improdutiva, uma em cada quatro explorações agrícolas fechou
nos últimos dez anos, os agricultores portugueses são os mais velhos
da Europa e «os pequenos agricultores desesperam pela aprovação de
projectos».
Seguiu-se Pedro Passos Coelho: «Afirmou, sem se rir, que foi um erro
subsidiar-se para não se produzir. Bem sei que costuma pedir desculpa,
mas neste caso concreto não quis pedir desculpa. Talvez invocasse o
estatuto de arrependido, mas nem esse estatuto merece porque foi
incapaz de dizer qual é a proposta do PSD em relação ao perigo em que
incorre o sector leiteiro». Porque «a soberania alimentar nacional
está em causa», Jerónimo propôs uma política que «impeça as grandes
superfícies de engordarem à conta dos pequenos e médios agricultores»,
lutar contra a «desregulamentação das quotas leiteiras e dos direitos
da plantação de vinha», entregar «a terra a quem a quer trabalhar» e
«incentivar a actividade piscatória e fomentar a construção naval».
PS, PSD e CDS sem legitimidade
Tendo em conta que PS, PSD e CDS têm «falta de coragem» para assumirem
com os portugueses o que farão se forem para o poder, o líder
comunista voltou a mencionar a questão da legitimidade. «O resultado
das eleições até pode ter legitimidade institucional, mas não tem
legitimidade política». Poupando José Sócrates, atirou: «Vem Passos
Coelho e afirma que cumprirá totalmente o acordo com a troika. Vem
Paulo Portas e diz que faz mais, que trabalha noite e dia no
parlamento para aprovar as medidas».
No final do discurso, Jerónimo dirigiu-se aos indecisos: «É hora de
optar por uma vida melhor. Parece que os três partidos já têm uma no
papo e outra no saco. Votem na CDU e vejam como eles não são donos do
voto de ninguém», concluiu.
Os comunistas não comem criancinhas
O dia de Jerónimo de Sousa tinha começado em Almada, com um passeio
pelas ruas, ladeado de Francisco Lopes, cabeça de lista por Setúbal, e
por Maria Emília Sousa, a presidente da Câmara. Após muito beijo e
abraço – um deles de um nonagenário choroso –, o secretário-geral do
PCP afirmou que os partidos que votaram a favor do corte do abono de
família a 630 mil famílias «não têm o direito de proclamar o Dia
Mundial da Criança», que se comemora nesta quarta-feira. «Estamos do
lado das crianças. É com o apoio às famílias e às crianças que se pode
comemorar este dia».
Jerónimo de Sousa seguiu para um almoço com 28 autarcas eleitos pela
CDU. Disse que esses concelhos são «um exemplo de como a CDU pode
governar» e, antes, no comício, afirmara que Almada mostra que «é
possível ser poder e continuar com as populações».
A comitiva do secretário-geral seguiu para Moura, onde se dispensou o
passeio pelas ruas. No Largo General Humberto Delgado não houve medo
em acusar os outros partidos: «Eles só querem o voto das pessoas, não
querem saber nada das suas vidas, do seu futuro». A esse propósito
teve como alvo o líder do CDS: «Perguntem ao Paulo Portas: então está
sempre a falar dos velhinhos e assina um acordo em que as reformas
ficam congeladas durante três anos?».
cesar.avo@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=20638
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