por DN.ptOntem
Desde Moçambique até ao Senegal há pelo menos 3,2 milhões de hectares,
e muitos projectos em vista, com plantações para biocombustível
pertencentes a empresas dos países ricos. A corrida a terrenos
agrícolas em África está a provocar um aumento dos preços dos
alimentos e da fome nos continentes mais pobres e a ter um efeito
contrário ao desejado, aumentando as emissões de carbono para a
atmosfera.
Uma investigação do The Guardian revela que metade dos 3,2 milhões de
hectares já plantados são propriedade de empresas britânicas. O
objectivo das multinacionais é exportar para a União Europeia (UE),
que adoptou directivas para o aumento progressivo da percentagem de
biocombustível em cada litro de gasolina e gasóleo. Mas as regras têm
sido criticadas por peritos e em Abril foram veementemente condenadas
por uma comissão do Conselho Nuffield de Bioética.
De acordo com o jornal britânico, pelo menos no Reino Unido apenas 31%
do biocombustível importado respeita voluntariamente as normas
ambientais de protecção das fontes de água, da qualidade do solo e das
emissões de carbono do país onde é produzido. Em África há mais de 100
projectos de 50 empresas e até a própria indústria desmente a ideia de
que as plantações para biocombustível podem ocupar terrenos marginais
e secos que não são usados pela agricultura para alimentação.
Cultivar jatrofa de uma forma lucrativa em terras secas é um mito.
Precisa de água, fertilizantes e pesticidas para garantir retorno
elevado", admite Peter Auge, gestor dos projectos que a Sun Biofuels
possui na Tanzânia, de cerca de oito mil hectares onde são cultivados
jatrofa, uma cujas sementes são usadas para biocombustível.
O retorno exigido pelos governos africanos para autorizarem estas
plantações também é alvo de críticas. "Não há planos para construir
refinarias, nem obrigações por parte dos investidores estrangeiros de
reservarem uma parte da sua produção para o mercado doméstico", aponta
Jamidu Katima, professor da Universidade de Dar es Salaam, na
Tanzânia.
James Smith, professor de Estudos Africanos e Desenvolvimento, da
Universidade de Edimburgo, na Escócia, aponta ao The Guardian mais um
problema: "O investimento provado está a ir muito à frente dos nossos
conhecimentos sobre os impactos dos biocombustíveis, tais como a
desapropriação de terras." Os agricultores locais perdem as terras
aráveis e sobrevivem destruindo vastas áreas florestais.
O Instituto Europeu de Política Ambiental avisou recentemente que a
libertação de carbono para a atmosfera causada pela desflorestação
poderá ultrapassar os ganhos obtidos com o uso de biocombustíveis em
35% já este ano e 60% em 2018. Mas a UE, que se orgulha de ser o líder
mundial no combate às alterações climáticas, não contabiliza estes
efeitos indirectos quando estabelece os guias de sustentabilidade
ambiental.
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1867035&seccao=%C1frica&page=-1
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