quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Descodificado o genoma do ácaro-aranha, uma praga agrícola

Espécie alimenta-se de plantas como o milho, tomate ou uvas
23.11.2011 - 18:41 Por Teresa Firmino
Votar | 1 votos 4 de 4 notícias em Ciências« anterior
O ácaro-aranha sobre uma folha de roseira (Miodrag Grbić)
Embora tenha menos de um milímetro de comprimento, o ácaro-aranha não
é nada esquisito com o que come. Entre as mais de 1100 plantas de que
se alimenta, encontram-se pelo menos 150 com importância agrícola –
como o milho, tomate, soja, morangos, pimentos, pepinos, maças, uvas,
citrinos ou as rosas. A descodificação do genoma desta praga agrícola,
publicada na revista "Nature", por uma equipa multinacional que inclui
dois portugueses, permitiu revelar alguns truques da sua flexibilidade
alimentar.

Autêntica dor de cabeça para os agricultores de todo o mundo,
incluindo os portugueses, que o enfrentam de norte a sul do país, o
ácaro-aranha ("Tetranychus urticae") é responsável por prejuízos
agrícolas de milhões de euros por ano. A descodificação e estudo do
seu genoma, publicado na edição de quinta-feira da "Nature", abrem
agora a porta ao desenvolvimento de novas técnicas de controlo de
pragas agrícolas.
O projecto foi levado a cabo por um consórcio internacional liderado
por Miodrag Grbić, da Universidade do Ontário Ocidental, no Canadá.
Entre os 55 cientistas da equipa, de dez países, incluem-se Élio
Sucena, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e do Departamento de
Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
(FCUL), e Sara Magalhães, do Centro de Biologia Ambiental da FCUL.
Segredos expostos
Além de comer uma grande variedade de plantas, sendo capaz de resistir
às suas toxinas de defesa, o ácaro-aranha é bastante resistente aos
pesticidas. É o artrópode (um grupo que inclui as aranhas, as carraças
e os insectos) que resiste maior número de pesticidas. "É esta
facilidade de adaptação e de resistência que o torna uma dor de cabeça
agrícola", sublinha um comunicado de imprensa conjunto do IGC e do
Centro de Biologia Ambiental da FCUL.
O segredo desta flexibilidade alimentar e resistência aos pesticidas
está na maior quantidade e maior variedade de certos genes. Os
ácaros-aranha têm mais genes importantes para a digestão e degradação
de toxinas produzidas pelas plantas, refere o comunicado. "Por outro
lado, o genoma do ácaro-aranha parece ter incorporado genes de
bactérias e fungos envolvidos na degradação de toxinas."
Ao que tudo indica, o ácaro-aranha tem dois grupos de genes oriundos
de bactérias e fungos que são aquisições exclusivas desta espécie.
Outros dois grupos de genes oriundos de fungos, diz ainda o
comunicado, não são únicos do ácaro-aranha, mas existem em afídeos,
insectos nocivos para a agricultura.
"Uma das grandes questões é como é que um só ácaro consegue vencer as
defesas de plantas tão diferentes", disse à agência Lusa Sara
Magalhães. "Se conseguirmos saber como faz isso, conseguimos
eventualmente no futuro silenciar esses genes e fazer com que se torne
mais susceptível a essas defesas."
Como é que os agricultores podem enfrentar os ácaros? "Ou se modificam
as plantas das quais se alimentam, usando plantas transgénicas, ou se
usariam ácaros transgénicos que conseguiriam suplantar os tradicionais
que atacam as plantas", disse ainda Sara Magalhães.
Também faz uma teia
Outro segredo do ácaro-aranha revelado neste estudo é que o seu
genoma, com cerca de 18 mil genes, está bastante concentrado. "Mas a
história evolutiva contada pelo genoma desta espécie não desilude: por
um lado, tem um número elevado de genes únicos – os que lhe conferem
resistência a pesticidas; por outro, parece ter perdido um grande
número dos genes normalmente partilhados entre artrópodes. Se todas as
espécies são 'especiais' porque têm um genoma único, o ácaro-aranha é
'especialíssimo' na medida em que partilha menos genes do que é
costume com outras espécies do seu grupo, tendo uma proporção maior de
genes que são só seus", lê-se no comunicado.
O ácaro-aranha tem ainda a particularidade de produzir uma teia - daí
o seu nome. Mas a teia, que nada tem a ver com a das aranhas, é usada
para protecção, como barreira contra intempéries e predadores. O
estudo do seu genoma revelou que há 17 genes envolvidos na produção de
proteínas para a teia. Ela é tão resistente como outros materiais
naturais, mas as suas fibras são menos espessas. Mais um segredo que
pode vir a ser usado na produção de novos materiais.
http://www.publico.pt/Ci%C3%AAncias/descodificado-o-genoma-do-acaroaranha-uma-praga-agricola-1522253

Sem comentários:

Enviar um comentário