TRADIÇÃO
por Marina MarquesHoje
Da fábrica do grupo Santiago, em Montemuro, saem entre 800 mil e um
milhão de queijos por semana. Alguns chegam a França.
De Castelo Branco a Montemuro, com passagem por Algés, o percurso do
Grupo Santiago está quase a dobrar o meio século de existência. Um
trajecto que se imprime a verde nas embalagens transparentes que
encerram o produto que há quatro gerações esta família coloca no
mercado: queijos frescos.
"Os avós dos meus avós já faziam queijo, na Beira Baixa", conta José
Alexandre Santiago, puxando dos pergaminhos da tradição familiar, ao
sentar-se no escritório da filha, Filipa, responsável pela área
financeira. O fabrico de queijo surgiu como uma extensão natural da
lavoura a que a família se dedicava. Mas, "não dava mexa para a
caixa", refere.
Daí aos trinta milhões de euros facturados em 2010, várias
encruzilhadas foram dobradas em direcção à fábrica e às empresas de
transporte e de comercialização do Grupo Santiago que emprega mais de
300 pessoas. E se Filipa Santiago atribui "à visão empresarial" do pai
o passo decisivo para o crescimento da empresa, José Alexandre
concretiza alguns dos passos dados.
A vinda para Lisboa de um dos doze tios de José Alexandre foi o
primeiro. "O meu pai achou que o futuro dele não estava na lavoura e
arranjou-lhe trabalho na CP", recorda. O novo horário deixava-lhe
tempo livre e o tio lembrou-se de pedir ao irmão que lhe enviasse
queijos e manteiga da terra, pelo comboio, que ele trataria de os
vender em Lisboa nas horas vagas de que dispunha.
A ideia revelou-se certeira e o pai de José Alexandre, sem o apoio do
filho devido à sua ida para a tropa, optou por se juntar ao irmão, em
Lisboa, onde recebiam os queijos de outros produtores da região e os
vendiam. "Quando voltei da tropa o meu pai e o meu tio decidiram
dividir a cidade em duas zonas (oriental e ocidental)", explica.
A falta de condições em que os queijos eram transportados nos vagões
fez nascer a primeira fábrica da família, em Algés. E foi daí que,
entre 1968 e 1995, saíram os queijos frescos e curados Santiago,
primeiro feitos apenas com leite de ovelha (porque a UCAL tinha o
monopólio do leite de vaca). Quando em 1994 foi alertado pelo IFADAP
que teria até 1999 para deslocalizar a fábrica, que se encontrava em
perímetro urbano, José Alexandre Santiago teve de optar: "Investir
numa fábrica para trabalhar os oito a dez mil litros de leite que
passavam diariamente pela fábrica de Algés não valia a pena." A
solução foi comprar um dos concorrentes, a JD, em Montemuro, a que se
seguiu a Lidador e a Campainha.
O método mantém-se o mesmo, "mas agora já nem tocamos com as mãos no
queijo", conta Filipa - logo ela que a avó garantia ter as melhores
mãos da família para fazer queijo. E dos 40 a 50 mil litros que em
média passam diariamente pela fábrica, para uma produção de 800 mil a
um milhão de queijos frescos por semana, nem uma gota se vê, num
processo de trabalho "idealizado pelo meu pai", salienta Filipa. O
espírito prático de José Alexandre explica o que o norteou: "Em vez de
fazermos um queijo de cada vez, fazemos 98." A crise não lhes está a
passar ao lado, revela Filipa, "mas já passámos por outros momentos de
crise e foi sempre nessas alturas que crescemos". Confiança que se
esmorece um pouco ao referir que " a mentalidade agora é outra: o
queijo fresco tornou-se um pouco um produto de luxo, apesar de não o
ser." E justifica: "Com uma sopa, pão e um queijo médio acaba por ser
um bom jantar: não nos enche demasiado e ficamos com todas as
proteínas e vitaminas que necessitamos."
Fazendo questão de serem eles próprios os responsáveis pelo transporte
dos seus queijos - "é um produto muito sensível, não pode haver
quebras de frio nem pode chegar com mau aspecto ao cliente final" -, o
grupo Santiago iniciou já uma nova rota: a internacionalização apesar
de reconhecerem que este é um caminho difícil de vencer."
http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=2144974&especial=Made%20in%20Portugal%20-%20M%EAs%20da%20Alimenta%E7%E3o%20e%20Bebidas&seccao=ECONOMIA&page=-1
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