sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Assim se semeia uma fileira mundial de plantas biológicas

NOVEMBRO: MÊS DA ALIMENTAÇÃO E BEBIDAS
por MARINA MARQUESHoje

Agricultura. Quase a completar dez anos, o Cantinho das Aromáticas
exporta 90% da sua produção para França e está apostado em criar uma
fileira mundial de plantas bio.
Criar a primeira fileira mundial de plantas aromáticas biológicas. É
este o sonho de Luís Alves que em 2002 fundou a empresa Cantinho das
Aromáticas com a ajuda de um amigo da adolescência, António Jorge Sá,
um investimento inicial de 2500 euros por cada sócio. "Uma
microempresa que, à sua escala de gota de água, tem contribuído para
modificar mentalidades", sintetiza o engenheiro agrónomo que, durante
seis anos foi o principal responsável dos jardins da Fundação de
Serralves, no Porto.

Essa contribuição tem sido feita das mais diversas maneiras, a partir
deste cantinho de três hectares, em plena malha urbana de Vila Nova de
Gaia, que produz 150 espécies de plantas em vaso (aromáticas,
condimentares e medicinais). O que leva Luís Alves a dizer que "isto é
um caldeirão onde acontecem muitas coisas e onde o céu é o limite".
Além da presença semanal no programa da RTP Praça da Alegria, Luís
Alves desdobra-se em workshops (um pouco por todo o País, mas
sobretudo em Vila Nova de Gaia), e o Cantinho das Aromáticas organiza
anualmente a Feira da Primavera, tem uma loja online, está desde o
início ligado a projectos de investigação e recebe voluntários que
aqui vêm beber da experiência de Luís Alves.
"Nos últimos três anos ajudámos a instalar cerca de doze agricultores
um pouco por todo o País e para o ano seremos pelo menos vinte",
especifica, acreditando que "o desenvolvimento e partilha de
conhecimento vai permitir que o valor acrescentado fique em Portugal".
Ou seja, "hoje vendemos a granel toneladas de matéria-prima mas no
futuro, quando já existirem vários produtores, teremos condições para
que se crie em Portugal uma espécie de central de recolha e
transformação de plantas aromáticas e medicinais que pode depois
produzir extractos ou óleos essenciais, dando início a uma indústria
que retenha o valor acrescentado das plantas no País".
A produção de lúcia-lima, erva-cidreira e hortelã-pimenta, 90% da qual
é exportada para França, contribui para a maior fatia da facturação. E
tendo como objectivo o mercado alemão - "porque aí está concentrada a
indústria farmacêutica, a grande consumidora das aromáticas" -, o
tempo dedicado a ajudar outros a instalarem-se como agricultores é
mais um passo na concretização da tão desejada fileira.
E se quase dez anos depois Luís Alves pode falar com orgulho do
caminho percorrido. O primeiro passo foi arrendar três hectares dos
dez de uma quinta situada em Vila Nova de Gaia. E após as dificuldades
dos primeiros anos - "não tive férias, casei--me e nem fui de
lua-de-mel", recorda - 2004 acabou por ser um ano decisivo. Uma
candidatura a fundos comunitários e a ida à maior feira mundial de
agricultura biológica (BioFach, em Nuremberga, Alemanha) foram o adubo
de que o projecto estava a precisar para crescer.
"Deixámos de ser meramente viveiristas e passámos a ser agricultores
ao ar livre, pondo em prática uma forma de agricultura altamente
especializada e pioneira", conta Luís Alves. O contacto com os
possíveis futuros clientes na feira de Nuremberga permitiu-lhe
perceber o que poderia fazer e como ser competitivo e o financiamento
de 250 mil euros foi investido em secagem das plantas e pôs em prática
um novo processo de cultivo de plantas aromáticas, que lhe valeu a
distinção de Agricultor Inovador, em 2008, na Semana Verde da Galiza.
"Cobrir toda a superfície com tela de chão - uma tela de plástico
porosa e permeável - e instalar um sistema de rega computadorizado foi
absolutamente inovador", explica. Um processo que tem sido replicado e
que Luís Alves partilha com o "egoísmo" de quem quer ver o seu sonho
realizado, à laia de quem semeia para mais tarde colher.
http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=2115594&especial=Made%20in%20Portugal%20-%20M%EAs%20da%20Alimenta%E7%E3o%20e%20Bebidas&seccao=ECONOMIA&page=-1

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