26-09-2011
Nas vésperas dos 100 dias do executivo PSD/CDS, ex-ministros
socialistas contactados pela Lusa dizem que ainda é cedo para fazer um
balanço das áreas que tutelaram, mas deixam críticas ao Governo nos
sectores da saúde e agricultura.
Foram poucos os ex-ministros socialistas que aceitaram «avaliar» o
trabalho dos seus sucessores no actual Governo. Na área da saúde, a
ex-ministra Ana Jorge lamenta que o actual Governo queira ir além do
memorando da "troika" nos cortes nesta área, alertando que pode estar
a pôr em causa a prestação de cuidados às pessoas.
«É perigoso ir além da "troika", é preciso ponderar muito bem. Porque
isso pode, no próximo ano, de uma vez só, pôr em causa a prestação de
cuidados. Algumas medidas da 'troika' estavam já no limiar de
segurança da prestação de cuidados», comentou.
Apesar de admitir que o actual ministro, Paulo Macedo, tem feito um
discurso em defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Ana Jorge
lamenta que haja uma espécie de discurso paralelo no Governo que tende
a transmitir que Portugal «não pode ter os bons indicadores de saúde
que tem».
«Não se pode fazer um corte súbito, uma descida abrupta dos valores do
que se gasta com saúde, sem ter em atenção algumas destas
particularidades que tem a saúde», afirmou.
Ana Jorge contestou ainda a reorganização dos serviços centrais do
Ministério, nomeadamente o fim da unidade de missão dos cuidados
continuados integrados e da Alta Autoridade para os Transplantes.
Outra das medidas que merece a contestação da antiga ministra é a
proibição de os exames prescritos no âmbito do SNS serem feitos em
entidades privadas convencionadas.
«Por princípio a medida pode ser excelente. Mas há áreas em que não há
capacidade de resposta. Por exemplo, nas radiografias e ecografias até
existem equipamentos suficientes, mas para funcionarem mais horas tem
de haver mais profissionais. Isso pode pôr em causa o tratamento das
pessoas a tempo», referiu.
Já o anterior responsável pela pasta da Agricultura, António Serrano,
aponta as dúvidas sobre o financiamento do Programa de Desenvolvimento
Rural (PRODER) como a marca do arranque de Assunção Cristas deste
sector.
António Serrano destacou que foi «positivo» ter sido retomada «a
normalidade» nos pagamentos do Programa de Desenvolvimento Rural
(PRODER) em Agosto, mas questionou se o governo terá capacidade para
garantir a contrapartida nacional até ao final do ano.
«Nas minhas contas faltam 40 milhões de euros para chegar aos 153
milhões de euros previstos até ao final do ano. É dinheiro necessário
para apoiar o investimento e não perder fundos comunitários. Sem esses
40 milhões, significa que até ao final do ano nenhum investimento
privado aprovado no âmbito do PRODER vai ser pago», contabilizou.
O ex-ministro é igualmente céptico no que diz respeito à criação do
«super-ministério» de Assunção Cristas, que junta Agricultura,
Ordenamento do Território, Ambiente e Pescas.
«Não contribui para dinamizar nenhuma das áreas e dificulta a actuação
da ministra. Compreende-se que, num contexto de crise se queira
diminuir estruturas ministeriais, mas julgo que esta opção não é
positiva», considerou.
O antigo governante apontou ainda outros assuntos que ficaram por
clarificar nestes primeiros cem dias do Governo de coligação
PSD/CDS-PP, como os prazos de conclusão do Alqueva e a situação dos
vitivinicultores do Douro, mas acrescentou que «é cedo» para fazer uma
avaliação completa do trabalho da sua sucessora. «Dou sempre o
benefício da dúvida, é preciso aguardar para ver o que está a ser
feito», afirmou à Lusa.
Fonte: Lusa
http://www.confagri.pt/Noticias/Pages/noticia41152.aspx
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