sábado, 1 de outubro de 2011

Cheiro a azeite incomoda populações de Beja, Cuba e Mértola

Queixas chegaram à Assembleia Municipal de Beja
01.10.2011 - 12:08 Por Carlos Dias
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Em 2010 a Ucasal tratou 200 milhões de quilos de bagaço de azeitona (Foto: DR)
Origem do problema pode estar associado ao tratamento de bagaço de
azeitona em fábrica em Alvito ou resultar dos novos lagares instalados
na região.
Há mais de um ano que o intenso odor a azeite invade a cidade de Beja,
sem se saber ao certo qual a sua origem. Surge de repente e fica por
algumas horas, deixando os habitantes a torcer o nariz pelo cheiro
desagradável.

Maria da Luz, residente na cidade, adquiriu um novo hábito: assim que
o cheiro lhe chega à pituitária, recolhe a roupa do estendal que tem
nas traseiras de casa, e procura manter as janelas fechadas. "Já
perguntei a um funcionário da autarquia se sabia o que se passava",
explicou a moradora, sem conseguir obter uma explicação plausível. As
conjecturas surgem nas conversas de rua. Uma associa o fenómeno ao
plantio de milhares de hectares de novo olival em redor da capital do
distrito. Outros presumem que a azeitona caída no chão liberte o
cheiro de que toda a gente se queixa.
A dimensão das preocupações acabou por chegar à última sessão da
Assembleia Municipal de Beja. Jorge Pulido Valente, presidente do
executivo camarário, admitiu que o cheiro a azeite tenha origem na
fábrica da União de Cooperativas Agrícolas do Sul (Ucasul) em Alvito,
que trata o bagaço de azeitona produzido nos lagares da região. Na
sequência do aumento exponencial de novos olivais, a Ucasul expandiu a
sua fábrica. A dimensão do produto transformado pode observar-se no
volume de emissões gasosas que são transportadas pelos ventos
dominantes.
Ambiente informado
Jorge Pulido Valente explicou que o problema não está apenas a afectar
a cidade de Beja, a 45 quilómetros de distância da unidade fabril. Na
vila de Cuba, e até em Mértola, distante de Alvito cerca de uma
centena de quilómetros, as populações também se queixam do cheiro a
azeite. O autarca informou os deputados municipais que já pediu à
Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo para
que indague sobre a sua proveniência, e que intervenha "para eliminar"
os cheiros incómodos, mas sem colocar em causa o funcionamento da
fábrica da Ucasul, dado o seu peso e importância para o sector
oleícola.
Francisco Orelha, presidente da Câmara de Cuba, defronta-se com o
mesmo problema. "Penso que estamos perante uma situação de saúde
pública", observa o autarca, frisando que já deligenciou junto da
empresa para minorar o impacte da sua laboração, mas que lhe foi "dito
que só libertam vapor de água". O mau cheiro tem-se acentuado de tal
forma que foi "forçado a informar o Ministério do Ambiente sobre o que
se passa".
Aníbal Martins, gerente da Ucasul, admitiu ao PÚBLICO que a causa do
problema possa estar associado ao aparecimento de quase três dezenas
de novos lagares na região, que depositam em lagoas de retenção a céu
aberto, os efluentes produzidos na sua laboração. A fábrica da Ucasul
tratou em 2010 cerca de 200 milhões de quilos de bagaço de azeitona
proveniente de 54 lagares, cerca de 50% da produção nacional deste
subproduto resultante da extracção de azeite. A actividade da empresa
resume-se a secar o bagaço de azeitona para depois extrair o óleo. A
operação produz uma enorme quantidade de vapor de água que é lançado
na atmosfera, através das quatro chaminés da fábrica. O gerente da
Ucasul garante que é feita uma "monitorização exaustiva" das emissões
compostas de 98% de vapor de água.
Da região de Beja, a empresa transforma o bagaço produzido por cerca
de três dezenas de "grandes" lagares, na sua maior parte instalados
nos últimos cinco anos. Estes equipamentos extraem azeite produzido
por cerca de 40.000 hectares de novos olivais. A biomassa resultante
(casca e caroço de azeitona) "é utilizada como energia" no sistema de
secagem do bagaço. Como os efluentes resultantes da extracção de
azeite nos novos lagares são concentradas em sistemas lagunares para
que decorra a evaporação da água, Aníbal Martins, admite, "embora não
o possa provar", que os maus cheiros de que se queixam as populações
possam ser produzidos nestas lagoas que foram instaladas junto a cada
novo lagar.
http://www.publico.pt/Local/populacoes-de-beja-cuba-e-mertola-estao-incomodadas-com-intenso-cheiro-a-azeite-1514615

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