sexta-feira, 24 de junho de 2011

Algarve produz 2 milhões de litros/ano

Única: Cooperativa de Lagoa vai ter novas instalações em breve
O vinho algarvio tem sido conotado pela falta de qualidade, mas nos
últimos 10 anos tudo mudou. As mudanças para uma renovada cooperativa
e a nova vaga de produtores privados, portugueses e estrangeiros,
estão a transformar a face do produto.
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Por:Tiago Griff


A compra dos terrenos com vinhas na orla costeira algarvia, a partir
da década de 70 – quando o turismo começou a ganhar força – para a
construção de hotéis e resorts, foi um forte golpe para a produção do
vinho, que teve de se refugiar na zona do barrocal. Os cerca de nove
milhões de litros produzidos por ano na época áurea tiveram uma
descida drástica para os dois milhões actuais. Mais de metade é
produzido pela adega cooperativa do Algarve, a Única, uma junção da
recentemente encerrada cooperativa de Lagos e da de Lagoa.
"Só nos últimos dois anos é que se começaram a fazer vinhos com
mais-valia e a apostar-se na qualidade na cooperativa", reforça ao CM
João Mariano, presidente da Única, que tem cerca de 100 associados e
um volume de negócios a rondar o milhão de euros por ano.
Segundo João Mariano, as uvas de qualidade começaram a aparecer após a
introdução de novas castas no Algarve, em finais da década de 90,
altura em que grande parte dos produtores concorreram a fundos
comunitários (Programa Vitis) para melhorar e inovar as vinhas.
O vinho algarvio está mesmo para ficar e a prova é a aposta da
cooperativa Única em novas instalações, que deverão ser construídas em
Lagoa no espaço de dois anos. Com um custo de cerca de cinco milhões
de euros (metade comparticipado por fundos comunitários), é o próximo
passo para o vinho algarvio ganhar terreno no mercado. "Não temos
muita expressão no mercado português, mas temo-nos vindo a afirmar
pela qualidade. Esta nova adega é importantíssima para manter a região
certificada", diz.
Os produtores privados são também os grandes responsáveis por esta
nova vaga de vinho algarvio de qualidade. "Nunca seremos uma região de
produção em massa pois os terrenos já são poucos e são muito caros –
10 vezes mais caro por hectare do que no Alentejo", lembra João
Mendes, produtor da Quinta do Morgado da Torre. No entanto, a pouca
quantidade abre espaço à qualidade. "Há muitos estrangeiros a comprar
quintas de raiz e que trazem novas variedades de uvas e investem em
adegas mais avançadas tecnologicamente, o que melhorou
exponencialmente a qualidade do vinho", garante, recordando que os
cinco euros de média por garrafa de vinho de qualidade do Algarve é o
valor mais alto do mercado.
"OS CUSTOS DE PRODUÇÃO SÃO ELEVADOS": Carlos Gracias, Pres. Comissão
Vitivinícola do Algarve
CM – Qual a principal dificuldade dos produtores?
Carlos Gracias – São os custos elevados de produção. Como têm
explorações pequenas, o produto final fica mais caro e há grande
dificuldade de escoamento num mercado muito competitivo.
– O que poderá ser feito para fortalecer o vinho no mercado?
– Poderiam ser elaboradas campanhas de sensibilização junto das
empresas de restauração para valorizar a produção do vinho como uma
mais-valia para a região e dinamizar a Rota dos Vinhos do Algarve, que
ajudaria a escoar a produção.
– Como se caracteriza o vinho algarvio?
– São vinhos bem produzidos, elegantes e fáceis de beber, provenientes
das combinação das melhores castas regionais com novas variedades,
nacionais e internacionais.
VISITAS GUIADAS E PROVAS DE VINHO
"Estamos a trabalhar muito na parte do turismo, com a criação de uma
loja de produtos regionais e uma participação cada vez mais activa na
Rota dos Vinhos", assume o produtor privado João Mendes. A aposta
neste sector centra-se na promoção do produto de uma forma mais
interactiva.
"É algo que não se faz muito no Algarve, mas que em regiões com forte
tradição de vinhos, como França, é normal. É a melhor maneira de
vender o produto", garante, lembrando que todas as semanas recebe um
grupo de pessoas para visitar a Quinta do Morgado da Torre para fazer
provas de vinho.
Um dos grandes problemas de que os produtores de vinho se queixam é a
falta de regulamentação do preço do vinho que é vendido por
intermediários. "Compram os vinhos aqui a cinco euros e vendem nos
restaurantes a 15. Isso mata o produto porque as pessoas acham muito
caro e nem sequer chegam a provar", acusa queixando-se também de que
os custos de produção são tão elevados que representam 75% das vendas.
VINHO COM MENOS ÁLCOOL
Segundo João Morgado, o futuro do vinho algarvio passará pela redução
da quantidade de álcool. "O vinho da região era considerado muito
alcoólico – uma água choca –, mas agora já não. Mesmo assim temos de
tornar o vinho ainda mais leve, fácil de beber, com um grau de 12,5,
mas mantendo a qualidade", garante, assumindo que esta será a melhor
solução para apostar na exportação.
http://www.cmjornal.xl.pt/noticia.aspx?contentID=3BB9CA8D-B299-42EC-8DDD-FEA2551B65BF&channelID=00000009-0000-0000-0000-000000000009

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