Yves Bénard, presidente da Organização Internacional da Vinha e do Vinho
24.06.2011 - 07:44 Por Luísa Pinto, José Manuel Rocha
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No rescaldo de mais um congresso da OIV, que hoje termina no Porto,
Yves Bénard, com uma longa carreira no mundo do champanhe, diz que a
China ajudou a amortecer o declínio do consumo e diz que há regiões
que enfrentaram melhor a crise do que outras.
(Lara Jacinto)
O mercado global já recuperou da crise económica mundial?
O declínio do consumo mundial parou em 2010 e acabou por encontrar um
equilíbrio com os níveis de produção mundial. Em consequência disso,
atingiu-se uma certa firmeza nos preços do vinho.
Quais as consequências globais e regionais que esta crise teve sobre o
mercado do vinho?
A política de reestruturação proposta pela Comissão Europeia resultou
na redução de quase 200.000 hectares de vinha na União Europeia e,
especialmente, em Espanha, Itália e França. Portugal aguentou-se bem
nesta conjuntura de reestruturação. Em geral, algumas regiões e os
vinhos têm resistido à crise melhor do que outros, sobretudo devido à
forte procura da China.
Apesar da recuperação, continua a ser uma tendência para reduzir a
produção e consumo. Esta é uma tendência preocupante?
A produção foi reduzida, principalmente na Europa e alguns países,
como a Austrália. O essencial está feito, também em Portugal, e agora
devemos começar a assistir, nos próximos anos, a um crescimento
moderado do consumo, muito associado ao aumento da procura nos países
do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).
Como pode ser combatida essa tendência?
Os produtores devem procurar ser inovadores e demonstrar que o vinho
pode evoluir e adaptar-se à procura dos consumidores.
Quais são as regiões vinícolas mais dinâmicas e com maior potencial
neste momento?
Têm sido feitos esforços muito significativos em termos de qualidade e
há bons resultados alcançados em muitos países produtores e também em
algumas regiões, como é o caso, em Portugal, do Douro e do Alentejo. E
isto tem sido feito através do desenvolvimento de variedades de uvas
locais, como a Touriga Nacional ou Alvarinho. Há outras regiões com
aumento de procura na Espanha, assim como os châteaux franceses ou os
italianos com denominações famosas, e que continuam a desenvolver-se.
Passa-se o mesmo nas grandes marcas da Austrália e Nova Zelândia.
O que mudou no mundo do vinho?
Durante um longo período, os agentes deste mercado procuraram um novo
equilíbrio, enquanto assistiam a uma ascensão de países não europeus.
Mas a Europa ainda está instalada na liderança. O comércio mundial
está sob o controlo da OMC e foi nesse contexto que a OIV se refundou
em 2001, para oferecer aos seus Estados-membros (que são agora 45, com
a entrada da Índia) e aos operadores as ferramentas e as referências
científicas e técnicas para entender melhor o mercado global.
A superprodução deixou de preocupar a OIV?
O excesso de produção deixou de ser uma realidade. Desde a
reestruturação a que assistimos nos países europeus, constata-se que
não há sequer uma gota em stock, devido a necessidades adicionais de
vinhos aromatizados, vinagres de vinho e aguardente de vinho, etc.
Qual é o futuro da produção europeia, num contexto de forte afirmação
dos países emergentes?
A produção europeia está na liderança e as vinhas que estavam em
dificuldades foram reestruturadas. Há países europeus, incluindo
Portugal, em que a dinâmica vinícola ainda lhes vai permitir ganhar
quota de mercado.
Portugal aumentou a sua produção nos últimos anos e a qualidade dos
seus vinhos. Como colocar Portugal no mercado global?
Portugal é um bom exemplo de um país que, tendo denominações de origem
muito apelativas como o vinho do Porto, também produz excelentes
vinhos brancos, rosés e tintos capazes de concorrerem com marcas
listadas em outros países.
Como é que os vinhos portugueses se poderão afirmar no estrangeiro?
Que conselho daria aos produtores nacionais?
À excepção do vinho do Porto, vinho da Madeira e vinho verde, os
vinhos portugueses têm um défice de notoriedade. É essencial que estes
vinhos marquem presença em exposições internacionais, mesmo que o
façam de uma forma colectiva, em certames importantes como aquele que
abre esta semana em Bordeaux, o Vinexpo. É também importante que os
produtores portugueses desenvolvam marcas e encontrem os importadores
certos que tragam o justificado valor acrescentado à produção
nacional.
http://economia.publico.pt/Noticia/os-vinhos-portugueses-ainda-tem-um-defice-de-notoriedade_1500006
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