domingo, 19 de junho de 2011

Um terço dos portugueses é intolerante à lactose

Leite: Cólicas intestinais, diarreia, vómitos e obstipação são alguns
dos sintomas
Por ser rico em cálcio, proteínas e vitaminas fundamentais ao
fortalecimento dos ossos das crianças e à prevenção da osteoporose nos
adultos, o consumo de leite e seus derivados – queijo, iogurte ou
manteiga – é amplamente incentivado.
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Por:Ana Carvalho Vacas

Porém, para um terço da população portuguesa a ingestão desses
alimentos é sinónimo de cólicas intestinais, diarreia, vómitos,
obstipação ou sensação de enfartamento. Os sintomas são imediatos,
surgem entre uma a três horas após o consumo. A predisposição para a
intolerância é genética, mas também a condição étnico-geográfica pode
aumentar o risco.

"A intolerância à lactose é um distúrbio gastrenterológico" explica a
pediatra Ana Isabel Lopes. De acordo com a especialista do Hospital de
Santa Maria (Lisboa), para a lactose (principal açúcar do leite) ser
digerida é necessário que o organismo produza uma enzima – a lactase.
Acontece que, por vezes, o Homem possui muito pouca ou mesmo nenhuma
quantidade desta enzima. Aí, o leite passa a ser um problema. Regra
geral, a intolerância à lactose é uma condição permanente mas pode
também ser um estado temporário ou transitório, resultado de uma
infecção ou de outra agressão à mucosa intestinal. A especialista
enumera algumas situações: uma gastrenterite aguda na infância, a
intolerância ao glúten, uma parasitose intestinal (contaminação por
vermes) ou mesmo uma operação que obrigue à retirada de parte do
intestino.
Mas cada situação tem de ser vista de forma individual e isolada. Os
níveis de lactase, continua Ana Isabel Lopes, variam de pessoa para
pessoa, o que se reflecte na gravidade dos sintomas. Estes dependem
também da flora intestinal individual e da quantidade de leite
ingerida. O caso não é grave, e uma dieta com baixo teor de lactose é
suficiente para evitar o agravamento dos sintomas. Porém, é necessário
que o diagnóstico seja o mais precoce possível, para que não surjam
complicações a nível gástrico e intestinal. "Os intolerantes devem
saber adaptar-se à sua condição, optando por alternativas fáceis e não
dispendiosas, sem eliminarem na totalidade as refeições lácteas",
aconselha Ana Isabel Lopes.
BEBÉS REJEITAM LEITE MATERNO
Há bebés que nascem sem a capacidade de produzir lactase, rejeitando o
leite materno.
Os prematuros estão mais predispostos a ter deficiência de lactase,
porque os níveis desta enzima só aumentam após o terceiro trimestre de
gravidez.
Os casos são raros, mas preocupantes, dada a importância dos
nutrientes do leite no desenvolvimento das crianças.
DISCURSO DIRECTO
"MÉDICOS MAL INFORMADOS": Fernanda Cruz, Nutricionista
– Qual a diferença entre alergia e intolerância ao leite?
– Nas alergias o sistema imunitário é activado, podendo qualquer
vestígio desencadear os sintomas. Na intolerância não há envolvimento
do sistema imunitário, os sintomas podem ser evitados sem eliminar os
lácteos.
– A intolerância é fácil de diagnosticar?
– Algumas pessoas podem considerar-se intolerantes porque têm os
sintomas digestivos e não o ser. A pessoa acaba por se
autodiagnosticar e fazem modificações desnecessárias na alimentação.
Há também muitos médicos mal informados.
– Em que sentido?
– Muitos médicos, porque não acompanham a evolução dos produtos no
mercado, optam por recomendações alimentares mais restritas.
– Quais os conselhos?
– Evitar o autodiagnóstico e consultar um nutricionista ao mínimo
sintoma que indique intolerância.
O MEU CASO: CARLA BERNARDINO
"SENTIA UM MAL-ESTAR GERAL"
Em casa de Carla Bernardino, de 40 anos, vivem três intolerantes à
lactose: ela própria e os dois filhos, Carolina, de sete anos, e
Bernardo, de dez. Foi Carla quem primeiro descobriu que era
intolerante. "Sentia um mal-estar generalizado cada vez que bebia
leite", explica a gestora de recursos humanos, relembrando o exame que
confirmou o diagnóstico: "Fui obrigada a beber lactose, em jejum,
durante uma manhã inteira."
Quando os resultados do exame foram conhecidos, ficaram também
explicadas as dores abdominais da Carolina e do Bernardo: intolerância
à lactose. "Ao início assustei-me, tenho a cultura de que o leite é um
alimento essencial e habituei os meus filhos a beberem um copo de
leite antes de dormir", diz Carla. A rotina alimentar teve de ser
alterada em casa. "Substituí o cálcio do leite pelas verduras e soja",
conta, acrescentando que o mais difícil foi ter de explicar aos filhos
que teriam de ter cuidado com a comida. Complicada de gerir é a
alimentação fora de casa, sendo por vezes necessário tomar um
comprimido para ajudar à digestão da lactose. "Há muitos produtos com
lactose e, na maioria, a presença deste nutriente é desconhecida".
O médico teve um papel muito importante no processo, pois explicou o
que era a intolerância e o que devia ser evitado. Mas Carla mantém-se
informada e atenta à entrada de novos produtos no mercado com índices
baixos de lactose.
PERFIL
Carla Bernardino tem 40 anos e é gestora de recursos humanos. Natural
de Ponte de Sor, vive em Lisboa. Quando soube que era intolerante à
lactose, um distúrbio que desconhecia existir, foi obrigada a alterar
os seus hábitos alimentares. O leite foi posto de parte, tendo sido
substituído por outros alimentos ricos em cálcio, como é o caso das
verduras e da soja.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/saude/um-terco-dos-portugueses-e-intolerante-a-lactose

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