Outubro seco atrasa sementeiras
As previsões agrícolas do INE, em 31 de Outubro, apontam para atrasos generalizados na preparação dos solos para a instalação das culturas de outono/inverno. Prevêem-se aumentos na produção de frutos frescos, em particular da pêra, que deverá alcançar uma produção record de 230 mil toneladas. Estão previstos também aumentos de produção nos cereais de primavera/verão e no girassol. A castanha deverá registar mais uma campanha muito desfavorável, com a produção mais baixa da última década. Na produção vitivinícola observa-se uma quebra acentuada, embora sem repercussões ao nível da qualidade.
O mês de Outubro caracterizou-se, em termos meteorológicos, por temperaturas médias muito superiores aos valores normais para a época, em particular durante os primeiros vinte dias do mês, período em que também praticamente não ocorreu precipitação. A partir do dia 22 registou-se um acentuado arrefecimento, com a temperatura a baixar para valores próximos do normal, acompanhado por ocorrência de precipitação intensa e ventos fortes a muito fortes.
Estas condições climatéricas possibilitaram a conclusão dos trabalhos de colheita dos frutos, das vindimas e das culturas de primavera/verão sem quaisquer constrangimentos. No entanto, os trabalhos de preparação dos solos para as sementeiras de outono/inverno foram bastante condicionados. Se, numa primeira fase, os reduzidos teores de humidade dos solos não permitiram a realização dos trabalhos de mobilização ou de sementeira, a intensa precipitação concentrada na última semana de Outubro também não foi particularmente favorável ao normal desenrolar destas operações, tendo inclusivamente provocado o alagamento de terrenos situados em cotas mais baixas, impedindo o acesso das máquinas. Assiste-se assim a um atraso significativo das sementeiras das culturas de outono/inverno, sendo que as já efectuadas são quase exclusivamente de culturas forrageiras em solos de textura ligeira.
Os prados e pastagens naturais de sequeiro não registaram qualquer evolução face aos últimos meses. A ausência de precipitação atrasou o início do desenvolvimento vegetativo destas culturas que se encontram praticamente esgotadas. Desta forma o recurso a fenos, palhas, silagens e rações industriais, para suprir as necessidades alimentares dos efectivos, tem sido bastante frequente e em quantidades superiores ao normal para esta época do ano, com o inerente aumento dos custos.
Olivais para azeite com produtividades ao nível de 2010
A produtividade dos olivais está dependente das condições climatéricas que ocorram na fase da floração e vingamento do fruto. Nos olivais intensivos do Alentejo a floração coincidiu com a ocorrência de fortes precipitações nesta região, por vezes de granizo, que provocaram quedas acentuadas de flores e frutos, com impactos no rendimento unitário, o que não se verificou nos olivais tradicionais devido à ocorrência mais tardia da floração. Por outro lado, a prolongada ausência de precipitação e as elevadas temperaturas que se verificaram até meados de Outubro criaram condições de stress hídrico que, nos olivais de sequeiro, conduziram à queda de algum fruto (potenciada, nos últimos dias do mês, pelas fortes chuvadas e rajadas de vento) e favoreceram o desenvolvimento de uma das principais pragas desta cultura, a mosca da azeitona, com consequências quer na quantidade quer na qualidade dos frutos apanhados. Muitas colheitas estão a ser antecipadas por forma a evitar danos mais sérios e quebras mais acentuadas.
Assim, globalmente, prevê-se que a produtividade dos olivais para azeite se mantenha nos níveis alcançados na campanha anterior. Quanto à azeitona de mesa espera-se uma quebra na produtividade na ordem dos 15%.
Boas campanhas para o milho e arroz
As condições atmosféricas foram muito favoráveis para a redução dos níveis de humidade do grão de milho, tendo sido já colhida a maior parte da área (inclusivamente algumas das searas ressemeadas após as intempéries de Maio). O aumento de produção esperado no milho de regadio (+15%), face a 2010, resulta da conjugação do incremento da área semeada com a subida da produtividade, fruto das condições climatéricas ocorridas ao longo do verão (temperaturas não muito elevadas e ocorrência de precipitação). A produção do milho de sequeiro deverá alcançar as 24 mil toneladas, valor semelhante ao registado no ano anterior.
Quanto ao arroz, a manutenção do tempo quente e seco durante o mês de Outubro permitiu concluir a maioria das colheitas sem sobressaltos assinaláveis. Apesar de alguns casos de deficiente enchimento do grão, essencialmente devido às baixas temperaturas e escassa luminosidade assinalada na região Centro durante toda a campanha, foi possível alcançar os níveis de produtividade de 2010 prevendo-se, em virtude do aumento da área semeada, um acréscimo de 7% na produção.
Feijão e grão-de-bico mantêm produções
O tempo quente e seco permitiu a rápida finalização das colheitas de feijão e grão-de-bico (maioritariamente para autoconsumo), garantindo ainda condições excelentes de secagem e armazenamento. Prevêem-se produções semelhantes às do ano transacto.
Menos tomate e mais girassol
A colheita do tomate para a indústria está concluída, sendo que a ausência de precipitação ao longo das primeiras semanas do mês de Outubro permitiu que esta decorresse normalmente. Os contratempos sentidos no início da campanha, com as elevadas precipitações a dificultarem e/ou destruírem as plantações e a facilitarem a propagação de doenças criptogâmicas, conduziram não só a uma redução da área semeada mas também a um decréscimo do rendimento unitário. Deste modo, prevê-se que a produção seja de 1 200 mil toneladas, menos 15% do que a alcançada em 2010.
Quanto ao girassol, os baixos custos de produção, os reduzidos riscos associados à sua instalação (quando comparados com os cereais) e a possibilidade de celebração de contratos com a indústria, conduziram a um aumento muito significativo da área semeada. A ocorrência de precipitação ao longo do ciclo permitiu que o desenvolvimento desta cultura decorresse sem constrangimentos hídricos, pelo que se prevê que a produção alcance as 15 mil toneladas, o dobro da alcançada em 2010.
Pêra com produção record
O facto de se terem registado condições climatéricas favoráveis ao longo do ciclo das pomóideas, em particular por altura da floração e vingamento, permitiu que um elevado número de frutos de bom calibre tenha atingido a maturação, conduzindo a aumentos significativos na produção de peras (+30%) e maçãs (+15%) face ao ano anterior. Os frutos, apesar de alguns problemas fitossanitários (em particular com os ataques de pedrado), apresentam uma qualidade dentro dos parâmetros considerados normais.
Produção de pêssego ainda abaixo da média
Os acréscimos de produtividade observados na Beira Interior compensaram as perdas registadas nas variedades mais tardias de pêssego na região do Oeste, fortemente atacados por lepra e moniliose, prevendo-se um aumento de produção de 5%, face a 2010, mas um decréscimo de 12% relativamente à produção média do último quinquénio.
Início da colheita do kiwi com perspectivas de manutenção da produção
As elevadas temperaturas e a ausência de precipitação conduziram à necessidade de um reforço no aporte de humidade aos pomares, apesar de, em algumas regiões, já se ter iniciado a colheita. Os frutos colhidos apresentam, regra geral, um calibre irregular, resultado de uma má polinização e de, em alguns casos, períodos de stress hídrico. As previsões continuam a apontar para a manutenção da produção da campanha anterior.
Aumento da produção de amêndoa
Condições favoráveis por altura da floração e vingamento do fruto conduziram a um aumento da produção de amêndoa na ordem dos 10%, relativamente ao ano anterior.
Castanha com mais um mau ano
Os baixos teores de humidade dos solos determinaram que, em muitos soutos, os ouriços não abrissem facilmente e que os frutos se apresentassem com calibres reduzidos. Para além disso, em muitos casos, as condições sanitárias não são satisfatórias, com uma percentagem significativa das castanhas afectadas pelo bichado-da-castanha. Assim, tudo indica que esta campanha, tal como a anterior, seja muito adversa para os produtores de castanha, com a produção a rondar as 21 mil toneladas (-5%, face a 2010), uma das piores da última década.
Vinho: quebra na quantidade mas não na qualidade
Com uma intensidade que não foi homogénea (por depender das zonas, da oportunidade e eficiência dos tratamentos e da susceptibilidade das castas), ocorreram ataques das principais doenças criptogâmicas (míldio e oídio) um pouco por todas as regiões vitivinícolas, que em alguns casos conduziram a quebras de produção muito acentuadas. Globalmente, as previsões apontam para uma descida de 25% na produção de vinho, sem que no entanto se observe diminuição na qualidade, quer do ponto de vista das características organolépticas quer no que diz respeito ao teor alcoólico. A uva de mesa deverá igualmente registar uma diminuição na produção, se bem que menos acentuada (-15%).
Climatologia em Outubro de 2011
Segundo o Instituto de Meteorologia, no final do mês de Outubro os valores em percentagem de água no solo, em relação à capacidade de água utilizável pelas plantas, subiram significativamente face a Setembro, devido às elevadas quantidades de precipitação registadas na 3ª década do mês.
Fonte: INE
http://aeiou.expresso.pt/agricultura-tempo-quente-e-seco-atrasa-sementeiras-de-outonoinverno=f688424
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