por RICARDO FREIXIAL (Professor na Universidade de Évora e
agricultor)OntemComentar
Em 2009, Portugal importou produtos agrícolas e alimentares no valor
de 7481 milhões euro(14,6% do total das importações). O nosso défice
comercial (saldo entre as exportações e as importações de alimentos)
aumentou 23,7 por cento entre 1999 e 2009, totalizando 3,3 mil milhões
de euros (INE). Os portugueses estão cada vez mais dependentes do
estrangeiro para comer e, por isso, cada vez mais vulneráveis a uma
escalada dos preços das matérias-primas alimentares como a que está a
acontecer agora... A escalada dos preços já fez aumentar os custos na
importação de alguns produtos, como é o caso dos cereais, que, só em
Outubro de 2010, dispararam 76,9 por cento, para os 71 milhões de
euros. Entretanto os gastos com compra de carne no exterior também
subiram 1,4 por cento.
Portugal está dependente da importação de cereais em cerca de 70%.
Assim, perante a produção mundial de cereais a contrair cerca de 2% em
2011 (está prevista uma contracção dos stocks de 35% para a cevada,
12% para o milho e 10% para o trigo, devendo apenas o arroz subir 6%),
a subida dos preços dos cereais, usados na alimentação, encarece
também a produção nacional, para além da internacional. Os efeitos
desta conjuntura já se sentiram, com os custos da produção a aumentar
cerca de 30% em 2010 e a reflectirem-se também no preço do pão. Apesar
de as exportações terem crescido mais de 100 por cento nesse período,
as importações também subiram mais de 50 por cento e continuam a
representar quase o dobro dos produtos que exportamos.
Assim, apesar de todos aqueles que defendem que a "salvação" do País
passa exclusivamente pelo aumento das exportações, parece evidente que
há importações que poderiam ser evitadas com a produção nacional. Será
pois importante reactivar o nosso tecido produtivo, até pelos efeitos
positivos a nível de criação de emprego e de redução da dependência
externa, que é fundamental para o País poder controlar e reduzir a
dívida externa, cujo elevado valor e crescimento será o problema mais
grave que Portugal enfrenta...
A agricultura, nomeadamente no que respeita também à produção de
cereais, é uma actividade através da qual é possível aumentar a
produção nacional e contribuir para um maior grau de auto-suficiência
alimentar, diminuindo o nosso défice com o exterior nesta área, o que
na actual conjuntura económica só por si já se revela muito
importante.
Entretanto, a agricultura não é uma actividade através da qual apenas
se obtêm alimentos. A actividade agrícola, feita de forma sustentada
agronómica, ambiental e economicamente, pode também ser importante ao
nível da ocupação e ordenamento do território, e é fundamental para os
outros sectores económicos, sobretudo ao nível das economias rurais
nas quais a agricultura dinamiza indústrias e serviços, a montante e a
jusante da actividade. Em zonas nas quais a taxa de desemprego e os
riscos de desertificação são elevados, a agricultura será portanto uma
actividade a apoiar, fundamental para a ocupação do território e para
a retenção da população, reanimando o Mundo Rural e criando também
condições para a existência de uma maior coesão territorial.
http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1975612&seccao=Convidados
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