Alimentação: Ingestão acidental pode ser fatal
Todos os alimentos podem levar a uma alergia alimentar e, nalguns
casos, nem precisam de ser ingeridos para causarem uma reacção de
hipersensibilidade: o simples contacto ou inalação é suficiente. As
alergias são mais frequentes na infância, mas podem surgir subitamente
e persistir por toda a vida, e atingem cerca de dois por cento da
população (200 mil portugueses).
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Por:Ana Carvalho Vacas
Os principais alergénios (substâncias causadoras da alergia) são, na
idade pediátrica, leite, ovos, cereais e peixe. Quando se entra na
adolescência e na idade adulta, as fontes alérgicas mais vulgares são
o marisco, os legumes, frutos secos e oleaginosas – castanhas, nozes,
amêndoas e avelãs.
Os sintomas aparecem poucos minutos após a ingestão. "De forma isolada
ou combinada, surgem manifestações de urticária, asma,
rinoconjuntivite, náuseas, vómitos, cólicas abdominais e diarreia",
explicou ao Correio da Manhã o alergologista Luís Miguel Borrego. A
ingestão acidental de ingredientes "ocultos" em determinados
alimentos, mesmo em pequenas quantidades, pode ser fatal. A anafilaxia
é uma reacção alérgica sistémica, atingindo vários órgãos, havendo por
vezes o risco de asfixia, com comprometimento da vida. Para evitar a
morte, há a necessidade de uma intervenção especializada e urgente:
para tal, existem já injecções com adrenalina para autoadministração.
As alergias têm vindo a aumentar, nomeadamente casos de pessoas com
reacções alérgica graves. "A diminuição das infecções na primeira
infância, por melhor controlo e condições sanitárias, poderá fazer com
que o sistema imunológico, menos ocupado com os micróbios e parasitas,
se volte para os alergénios ambienciais, que à partida seriam
inofensivos", justifica o secretário-geral da Sociedade Portuguesa de
Alergologia e Imunologia Clínica.
O estilo de vida mais sedentário e doméstico, assim como a introdução
de novos alimentos, ricos em corantes ou conservantes, pode também
explicar o fenómeno.
"AUSÊNCIA DE NUTRIENTES NÃO É TOTAL": Isabel do Carmo, Nutricionista
CM – Pode-se prevenir as alergias com a alimentação?
Isabel do Carmo – Não. Pode-se ter cuidados com a introdução de novos
alimentos, sobretudo nas crianças e se os pais forem doentes
alérgicos.
– Que tipo de cuidados?
– Por exemplo, os alimentos com glúten só devem ser introduzidos a
partir dos 6 meses. E a laranja deve ser introduzida após o primeiro
ano de vida.
– Como compensar a ausência dos nutrientes?
– É preciso ver quais os nutrientes em falta, depois ir buscá-los a
outros alimentos, sem recorrer a suplementos alimentares.
– Quais os riscos para o organismo?
– A ausência de nutrientes nunca é total. Há alguns efeitos na pele,
olhos ou cabelo, e na resistência do organismo às infecções.
DIFICULDADE DO DIAGNÓSTICO
É difícil definir o tipo de alergia, uma vez que a resposta do
organismo à ingestão de um alimento, além de digestiva, pode ser
dermatológica, respiratória ou cardiovascular. Fundamentado na
história clínica do doente, o diagnóstico definitivo estabelece-se com
a realização de testes cutâneos ou de provocação oral (ingestão de
quantidades crescentes do alimento suspeito). As alergias alimentares
resultam de uma combinação de factores hereditários e ambientais, como
a poluição.
"A LEONOR TEM CONSCIÊNCIA DA SUA DOENÇA"
Leonor Resende, de 4 anos, tem uma alergia grave aos frutos secos. O
primeiro sinal ocorreu durante uma festa em casa de uns amigos da
família. "A Leonor comeu uns cereais que tinham frutos secos", conta a
mãe, Mariana Alpoim. Os efeitos foram imediatos: "A Leonor ficou
maldisposta, com a cara inchada e cheia de manchas, e chegou a
vomitar. Fomos directamente para o hospital", recorda. Na altura,
Leonor tinha apenas dois anos.
O diagnóstico foi feito com rapidez. Foram realizados testes cutâneos
e sanguíneos para confirmar os resultados. "A Leonor tem consciência
da sua doença e das suas implicações, pergunta o que pode ou não
comer", explica Mariana, que se esforça para ensinar à filha as
restrições da alergia e as alternativas alimentares disponíveis. Fora
de casa, foi adoptado um novo comportamento, pois para Mariana a
sociedade precisa de ser sensibilizada para os perigos das alergias.
"Na creche da Leonor, expliquei às educadoras como devem agir em caso
de crise alérgica. Ir a restaurantes chineses ou japoneses está fora
de hipótese, vejo os rótulos de todos os alimentos e, nos
restaurantes, pergunto sempre os ingredientes das refeições", explica.
PERFIL
Leonor Resende Tem 4 anos e vive em Lisboa. Com dois anos, sofreu uma
reacção alérgica muito grave devido à ingestão de frutos secos. Tem
consciência das implicações da sua alergia e é a própria quem pergunta
o que pode comer.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/saude/alergia-a-comida-atinge-200-mil
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