Opinião | 07-09-2011
O Douro volta a viver dias agitados como não se via há muito. Como diz
quem cá vive e tem memória, o Douro sempre teve problemas e eles foram
sendo resolvidos ao longo das centenas de anos que decorreram desde a
data da criação da respectiva região demarcada...
...a mais antiga do mundo, como gostamos de dizer e relembrar, quando
isso nos interessa. Por esta altura, mais uma vez se assiste a
manifestações, algumas mostrando alguma violência que, na minha
opinião, é desnecessária.
Interessante seria vermos todos quem tem estado a arregimentar os
agricultores, muitas vezes instrumentalizando-os sem quaisquer
vantagens para eles, eternas vítimas da cobiça dos grandes e das
organizações que vivem oportunisticamente da desgraça alheia. Basta
olhar para as pessoas que estão à frente das manifestações, que tomam
a palavra para botarem faladura do alto dos palanques, de microfone
nas mãos. E aí os pequenos perdem a razão. Usam da força bruta, levam
porrada da polícia, ficam mal vistos e dão uma imagem das gentes do
Douro que não corresponde àquilo que pensam e como age a grande
maioria de quem aqui vive e trabalha.
Ninguém que aqui viva pode deixar de se preocupar com as consequências
do que está a acontecer. Factos são factos. Eles estão à vista de toda
a gente, há muito tempo. Tem-nos faltado, penso eu, alguém com peso,
no Governo, em Lisboa, que conseguisse ser a voz dos milhares de
pequenos agricultores do Douro, que os ouvisse, que fosse para Lisboa
e desse um murro na mesa ou mesmo noutro sítio de algumas pessoas para
quem o Douro é muito distante e só interessa na altura das eleições.
Infelizmente, os políticos que temos tido em Lisboa apenas pensaram,
na sua grande maioria, na forma de ganharem ou manterem as suas
regalias, as suas benesses, os seus tachos.
Mas também nos tem faltado uma liderança regional forte, com carisma,
respeitada, mobilizadora e apoiada por gente igualmente com peso nas
diversas estruturas, que tivesse evitado os muitos erros que foram
cometidos e que me escuso de enumerar, pois eles estão e têm estado à
vista de todos.
Agora o pretexto para a luta foram os cortes na produção que atingem
todos, mas que estão a pôr em causa mais uma vez, e de forma muito
violenta, os pequenos produtores, que vivem do benefício.
Também não ajuda o facto de estarmos numa região onde impera a
monocultura da vinha. Ainda houve um tempo em que o azeite teve peso
na economia da região. Mas, neste momento e nesse campo, quem lavra e
dá cartas é o Alentejo. Mais uma vez, também nesse aspecto,
Trás-os-Montes e de um modo especial o Douro, ficaram para trás.
Sendo assim de que vão viver os resistentes que não emigraram
entretanto? Vão fazê-lo agora? E o que vai acontecer às suas vinhas?
Todos sabemos o que vai acontecer.
Há seguramente mais de dez anos, durante uma viagem pelo rio Douro,
salvo erro durante uma acção de divulgação do Douro perante
especialistas estrangeiros, tive oportunidade de dizer que o que
estava a ser feito pelo Douro, em termos de animação e promoção
turística, era muito importante. Aliás, como se tem visto. Mas
acrescentei que ou se criavam condições para manter estas belas
paisagens do Douro ou daqui por uns anos, ninguém vem ao Douro, porque
as nossas encostas estarão cobertas de vinhas abandonadas, cobertas de
silvas e codeços. Ora, parece que não estamos muito longe isso vir a
acontecer.
E a condição fundamental para manter estas paisagens é continuarmos a
ter gente que trabalhe o Douro, que tenha coração e alma para penar
por estas encostas, deixando aqui o seu suor e quantas vezes o seu
sangue.
Deixem morrer os mais velhos, não criem essas condições e verão o que
teremos no Douro daqui por escassos anos.
Podem alguns dizer que serão os ricos, os grandes proprietários a
adquirirem as vinhas dos pequenos. Pois bem. Quem irá cultivar as
vinhas, sujeitando-se a um trabalho quase escravo, quantas vezes mal
pago, se pode ter melhor vida no estrangeiro!
Oxalá que eu me engane e possamos ver a paz a regressar ao Douro,
sinal de que os problemas foram ultrapassados. Até surgirem outros…
Notas:
1 – Américo Amorim não é rico. Foi ele quem o disse. Mas é mais rico
do que eu, porque teve o perdão de uma quantia muito elevada de IMI,
relativa ao Centro Comercial. E ainda recebeu a medalha da cidade,
dada pelo nosso inefável autarca. E sempre pode vender e fazer bom
dinheiro com a dita, se ainda tiver algum valor. De facto, há
presidentes de municípios que não se enxergam.
2 – Murça deixa de jogar à bola. E Alijó também. Para quem gastou o
que tinha e não tinha para construir aqueles magníficos estádios, vai
a pergunta sobre as razões para a falta de critério no gasto de
dinheiros públicos. Foi um fartar vilanagem. Pensavam que nunca mais
se acabava. Outros que não se enxergam.
http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php?action=getDetalhe&id=11273
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