Granizo e míldio são os principais "culpados" pela redução que,
nalguns casos, pode chegar aos 90 por cento
Por: Ricardo Cordeiro
Tempo de leitura: 6 m
A queda de granizo e o míldio são os principais motivos que explicam a
redução generalizada que vai afetar este ano a produção de vinho na
Beira Interior. No entanto, apesar da diminuição na quantidade de
uvas, que nalgumas situações poderá atingir mesmo os 90 por cento, a
generalidade das cooperativas e dos produtores da região ouvidos por O
INTERIOR acredita que a qualidade dos vinhos será idêntica à do ano
passado.
O Fundão parece ser o concelho mais afetado, uma vez que o presidente
da Adega Cooperativa local estima uma redução «entre 50 e 70 por cento
a nível geral», embora haja produtores com «quebras de 80 a 90 por
cento». As razões foram o míldio, bem como o «mau tempo com chuvas
ácidas que queimaram as uvas, porque há zonas em que as videiras
estavam debaixo de árvores e nada apanharam», refere Albertino Nunes,
que no seu caso particular irá ter uma quebra de «mais de 80 por
cento». Deste modo, «este é um mau ano em termos de produção, mas de
momento temos stocks para fazer face ao mercado». Quanto à qualidade,
é «excelente», a graduação é «boa» com 14 graus nos tintos e 13 nos
brancos, afiança. A campanha na adega fundanense, que no ano passado
recebeu 3,5 milhões de quilos de uvas, começou a 26 de agosto e
prolonga-se até dia 23 deste mês. Já o presidente da Comissão
Vitivinícola Regional da Beira Interior estima que possa haver uma
«redução significativa na ordem dos 30 a 40 por cento de uma forma
global» porque «grande parte dos vitivinicultores da região são
pessoas que não têm estrutura nem dimensão para estarem a controlar
exaustivamente a produção».
As causas para quebras tão acentuadas são o «granizo, o míldio e
oídio», indica João Carvalho, que reconhece que esta redução é
«preocupante», uma vez que, «nalguns casos as receitas ficarão aquém
dos custos». Na semana passada a ministra da Agricultura afirmou que
há ajudas disponíveis para os vitivinicultores de Palmela, que preveem
uma quebra da produção de vinho de 80 por cento, devido ao problema do
míldio e condições climatéricas adversas. Assunção Cristas garantiu
que há alguns apoios disponíveis, seja através de uma linha de crédito
ou do Sistema Integrado de Protecção contra as Aleatoriedades
Climáticas (SIPAC), mas reconheceu que é mais difícil dar resposta à
questão do míldio. No entanto, o responsável pela CVRBI diz não ter
ainda conhecimento de que esses apoios também possam vir para a Beira
Interior. «De uma forma geral os agricultores têm seguros de
colheitas, mas vamos esperar para ver», refere.
«O tempo está para profissionais e não para amadores»
O também proprietário da Quinta dos Termos, na zona do Carvalhal
Formoso (Belmonte), frisa que no seu caso específico «há, de facto,
alguma quebra devido ao granizo caído a 30 de abril e também por causa
do míldio», mas realça que «o tempo está para profissionais e não para
amadores. Quem teve míldios e oídios significativos o melhor é mudar
de técnicos, porque isto é um pouco como as pessoas quando vão ao
médico. Se continuam doentes, o melhor é mudarem de médico», ironiza.
Deste modo, a produção deste ano «não deverá andar longe» das 700
toneladas recolhidas em 2010 e a qualidade está «ótima», assegura.
Também na Adega da Covilhã se prevê uma «quebra na produção»
relativamente às 800 toneladas de 2010 mas o seu presidente prefere
não avançar um número provável desse decréscimo, embora aponte para
uma redução de «50 por cento em algumas explorações e noutras talvez
mais». A razão «principal foi o míldio, já que não estamos muito
habituados a isso» mas também «algumas trovoadas» fizeram estragos,
sendo que as zonas do Ferro e Peraboa são das que ficaram mais mal
tratadas, indica Matos Soares. Em relação à qualidade acredita que «em
termos gerais não será afetada». A campanha de recolha de uvas começa
segunda-feira e prolonga-se por três semanas.
Cooperativa Beira Serra contraria tendência de decréscimo
Também na Adega Cooperativa de Figueira de Castelo Rodrigo se
perspetiva uma quebra de «25 a 30 por cento» na produção de uvas deste
ano (6 milhões em 2010). «Fatores diversos» motivaram esta redução
como «intempéries com algumas trovoadas de granizo», «o míldio
generalizado em todo o país» e o «oídio em menor escala», aponta o
presidente da direção. Aurélio Bolota indica que «em princípio a
qualidade não será muito afetada porque as uvas atingidas pelo míldio
acabam por cair». A campanha deve iniciar-se dia 15 deste mês e
prolongar-se por três semanas. No concelho vizinho de Pinhel as
expetativas são «semelhantes às do ano passado em que tivemos
problemas graves com a geada e em que tivemos prejuízos na ordem dos
30 por cento», indica o presidente da Cooperativa que em 2010 recebeu
11,8 milhões de quilos de uvas. Já este ano «tivemos problemas com o
míldio e também com as más condições climatéricas como o granizo», daí
que Agostinho Monteiro preveja uma «quebra de 25 a 30 por cento em
relação a um ano normal». Sobre a qualidade, «se a vindima for
realizada com tempo seco vai ser um ano muito bom», enquanto que se
chover poderá sair afetada. A campanha de receção das uvas começa dia
17 e termina a 18 de outubro, sendo que a Adega vai estar aberta dia
25 e 9 de outubro, dois domingos, para «facilitar a vida às pessoas
que têm os seus empregos durante a semana».
Também Luís Roboredo, produtor dos vinhos Gravato, na zona da
Coriscada (Mêda) prevê uma produção «inferior à do ano passado» (cerca
de 58 toneladas de uvas) entre «os 25 e os 30 por cento». As
explicações para a quebra são o míldio e o «problema de ter chovido a
mais no inverno e a menos no verão» e «o vento leva as folhas e as
uvas ficam mais desprotegidas». O empresário prevê uma qualidade
«inferior devido às alterações climatéricas que se vêm registando»: «O
clima não tem ajudado as castas portuguesas que estavam habituadas a
quatro estações e agora praticamente que só há duas». A vindima deverá
começar por volta de dia 15 e durar uma semana.
Uma exceção à tendência de decréscimo é a Cooperativa Beira Serra, em
Vila Franca das Naves (Trancoso), onde a sua presidente está «à espera
de mais uvas», embora prefira não quantificar esse aumento até porque
«os associados prevêem que vão ter mais uvas mas não é certo que essa
previsão vá corresponder à realidade». Em 2010 a Cooperativa recebeu
cerca de quatro milhões de quilos de uvas e a campanha deste ano
começa a 22 deste mês e prolonga-se até 15 de outubro. Josefina Torres
está «bastante otimista para esta campanha em termos de qualidade e
quantidade», acreditando que «vamos ter uma belíssima produção». De
resto, garante que «não tivemos grandes problemas de míldio e de
granizo».
Quinta do Cardo entre o top 50 dos vinhos portugueses nos EUA
O vinho Quinta do Cardo 2006 Touriga Nacional Reserva da Beira
Interior, produzido na zona de Figueira de Castelo Rodrigo, foi um dos
eleitos pela International Wine Review para integrar a sua seleção dos
50 vinhos Portugueses nos Estados Unidos. Esta seleção foi realizada a
partir de uma amostra de mais de 500 vinhos portugueses provados para
a elaboração do relatório que a International Wine Review publicou no
início do ano.
http://www.ointerior.pt/noticia.asp?idEdicao=618&id=32200&idSeccao=7642&Action=noticia
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