segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A raiz da vinha

04 Set 2011 < Início < Notícias
Vivemos no país com mais variedade de castas autóctones, são cerca de
250 e já estão a ser desenvolvidos estudos que podem vir a descobrir
mais.
«Acredito que há várias dezenas que não estão ainda referenciadas, só
nos últimos anos descobrimos mais cinco variedades de castas», afirma
ao SOL Antero Martins, professor do Instituto Superior de Agronomia e
coordenador da Associação Portuguesa para a Diversidade da Videira
(Porvid).

Existem quase três vezes mais variedades de castas do que em Itália e
seis vezes mais do que em Espanha e em França. Esta constatação
constitui uma vantagem competitiva para o sector vitivinícola e ajuda
a desmistificar a crença de que as videiras foram trazidas do Oriente.
Afinal, nasceram cá e não vieram com os mercadores fenícios, como se
pensava até agora.
«As nossas castas, além de serem as mais numerosas da Europa, são
quase todas exclusivas», garante o especialista. Há alguma
sobreposição com Espanha, em especial, nas zonas fronteiriças, mas os
trabalhos da Porvid provaram que não há vestígios das nossas castas no
Oriente, nem sequer no caminho até à Península Ibérica.
Através de técnicas sofisticadas consegue-se olhar para o passado das
castas e comprovar que existe uma maior parecença genética entre as
autóctones e as silvestres de uma determinada região, em comparação
com castas e plantas silvestres de regiões distintas.
Para Antero Martins a diversidade de castas só enriquece o mercado do
vinho, considerado um dos produtos mais emblemáticos do país. No
entanto, mais importante do que a variedade das castas são as
diferenças dentro das próprias castas. Estas são «difíceis de ver a
olho nu e estão em risco de acabar», alerta. Se nada for feito «em
2020, pode perder-se toda a diversidade genética (mutações naturais)
de cada casta e, como consequência, a possibilidade de fazer
diferentes vinhos».
Até meados dos anos 80, a situação era propícia à conservação da
variabilidade, mas quando os vitivinicultores deixaram de ser, eles
próprios, os enxertistas e passaram a comprar as plantas nos viveiros,
as amostras de videira homogeneizaram-se. «Todos os agricultores
acabam por adquirir material igual», afirma Antero Martins, para quem
esta é uma «consequência perversa do progresso».
A Porvid surge como uma plataforma de esforços - públicos e privados -
para evitar esta perda. O trabalho começa por 'varrer' o território e
colher amostras que sejam representativas da variedade, dentro de cada
casta autóctone, e plantá-las num pólo experimental em Pegões, cedido
pelo Estado.
Características como a quantidade de açúcar, a acidez do mosto ou os
pigmentos são avaliadas e comparadas. «Explorar estas diferenças pode
servir para aumentar cinco vezes o rendimento de determinada casta»,
sublinha. O teor alcoólico é outro dos factores que pode ser
manipulado naturalmente apenas com base na variabilidade da videira.
Fonte: Sol / Joana Ludovice de Andrade
http://www.ivv.min-agricultura.pt/np4/3794.html

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