sexta-feira, 1 de março de 2013

CONFAGRI: Sector agrícola e cooperativo contribui significativamente para a dinamização da economia


  01-03-2013




Em entrevista ao "Qualidade&Inovação", Manuel dos Santos Gomes, presidente da CONFAGRI, traça uma análise pertinente sobre o sector.
«Promover as cooperativas associadas e apoiá-las no sentido de que estas possam dar um contributo, cada vez com maior expressão, à nossa economia e à nossa sociedade» é o desígnio da Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (CONFAGRI).



Para efectuarmos uma contextualização, quando surgiu a CONFAGRI e quais os objectivos que presidiram à sua constituição?
A CONFAGRI surgiu em 1985, como resposta à necessidade do sector cooperativo agrícola português possuir uma estrutura de cúpula, que defendesse o interesse dos agricultores portugueses associados em cooperativas, quer a nível nacional, quer junto da então Comunidade Económica Europeia. Assim, em 1985 as estruturas federativas existentes que representavam as cooperativas a nível subsectorial (leite, vinho e crédito agrícola), uniram esforços e criaram uma estrutura confederativa, a
CONFAGRI, para aglutinar todo o setor cooperativo agrícola, de modo a melhor promover este sector, que tem uma importância económica e social extremamente relevante na nossa agricultura e uma forte presença nos territórios rurais.

Como analisa a evolução da Confederação no panorama nacional e internacional?
A CONFAGRI tem tido um crescimento progressivo, gradual e sustentado. Temos vindo
a consolidar a nossa presença como parceiros agrícolas e da economia social, tanto a nível nacional, como junto da União Europeia. Paralelamente, temos vindo a desenvolver um conjunto de serviços de apoio quer às cooperativas e a diversas organizações agrícolas, quer aos agricultores portugueses. Neste âmbito,
saliento as áreas da informação, do apoio técnico, do apoio à elaboração de candidaturas aos diversos incentivos e da formação profissional.

Qual é o universo do sector cooperativo agrícola e o que representa no sector agrícola nacional?
Segundo os dados disponíveis relativos a 2010, existem 735 cooperativas agrícolas, que realizam um volume de negócios de cerca de 2,5 mil milhões de euros. As cooperativas têm um peso assinalável ao nível das nossas principais produções agroalimentares, nomeadamente no vinho (41% da produção comercializada), no leite (62%), no azeite (36%) e nas frutas e hortícolas (cerca de 25%). Por seu turno, o Crédito Agrícola dispõe atualmente de uma rede de cerca de 700 balcões e mais de 400.000 associados, que na sua larga maioria desenvolvem actividades no sector agrícola. Estes números refletem bem a importância do sector cooperativo. Podemos afirmar que é raro o agricultor que não é sócio de uma Cooperativa ou de uma Caixa de Crédito Agrícola!

Num país sedento de ideias empreendedoras, como analisa as políticas de incentivo ao empreendedorismo?
As políticas de incentivo ao empreendedorismo, ao nível dos sectores que representamos, agrícola e cooperativo, sendo positivas, beneficiariam, no nosso entender, de um maior envolvimento das organizações que estão no terreno, quer na definição dessas políticas, quer na sua implementação. Para além dos incentivos aos empreendedores, há que propiciar apoio técnico e acompanhamento dos projetos, que favoreçam o êxito e a durabilidade dos mesmos. Para isso, o tecido empresarial, incluindo o de natureza cooperativa, deverá ter um papel mais activo no apoio aos novos empreendedores. No caso particular do setor agrícola, a integração dos jovens agricultores em cooperativas dinâmicas e eficientes, pode ser essencial para assegurar uma maior valorização dos produtos agrícolas e para garantir a comercialização dos mesmos. Ao nível do COOPJOVEM, trata-se de uma iniciativa importante, porque constitui uma nova alternativa de empreendedorismo no âmbito da economia social, normalmente esquecida no âmbito da política de emprego e empreendedorismo. A iniciativa é, no nosso entender, ainda pouco ambiciosa e apresenta algumas fragilidades. Esperamos que tenha continuidade e que seja aperfeiçoada, no âmbito do próximo Quadro Comunitário de Apoio.

Tendo em conta a contração do mercado nacional, a exportação é cada vez mais uma alternativa viável. Por conseguinte, considera que tem aumentado o fluxo de exportações no sector? Qual o posicionamento das vossas associadas nesta área?
As exportações da fileira agro-alimentar têm vindo a aumentar de forma consistente nos últimos anos, e as projeções de que dispomos apontam para a continuidade desse crescimento, prevendo-se uma taxa de crescimento anual de 7,4 % até 2018. Verifica-se contudo uma excessiva concentração das nossas exportações para os mercados europeus, o que em situações de crise como a que atravessamos é problemático, pelo que importa diversificar os nossos destinos de exportação. No universo das associadas da CONFAGRI, temos já muitas cooperativas que apostam na exportação, especialmente ao nível do setor do vinho. Neste âmbito, gostaria de salientar o trabalho de promoção dos vinhos das adegas cooperativas e de prospecção de novos mercados, que há mais de sete anos, de forma contínua, tem vindo a ser desenvolvido pela nossa associada FENADEGAS.

2012 foi o Ano Internacional das Cooperativas. Neste domínio a ONU, pretendia incentivar os governos a implementar políticas adequadas ao crescimento. Que balanço faz do Ano Internacional das Cooperativas?
Com a declaração do Ano Internacional das Cooperativas, a ONU visou dois grandes objectivos: aumentar a consciência da opinião pública, sobre a importância das Cooperativas e do seu contributo para o desenvolvimento económico e social, e encorajar os Governos a desenvolverem políticas que promovam a criação, o crescimento e a estabilidade das Cooperativas. Neste sentido, ao longo do ano de 2012, a CONFAGRI desenvolveu por si, ou em colaboração com diversas entidades, inúmeras iniciativas, pois consideramos os objectivos traçados pela ONU, extremamente pertinentes face à nossa realidade. Concretamente, junto do Governo português, defendemos as seguintes prioridades de actuação: - A revisão do enquadramento legal das Cooperativas portuguesas, nomeadamente do Código Cooperativo e da Legislação Complementar das Cooperativas Agrícolas, visando três objetivos fundamentais: a possibilidade das Cooperativas adoptarem modelos de governação mais ágeis, facilitar o acesso a diferentes formas de financiamento e promover uma maior participação e responsabilização dos sócios. - A necessidade da criação de um Programa específico de apoio ao redimensionamento e à melhoria da competitividade das Cooperativas Agrícolas, nomeadamente no âmbito do próximo Quadro Comunitário de Apoio. O nosso balanço sendo positivo, evidencia, no entanto, a necessidade da continuação do esforço desenvolvido em 2012, pois estamos ainda longe de atingir plenamente os nosso objectivos. Aliás, o movimento cooperativo internacional sentiu também essa necessidade. Assim, a Aliança Cooperativa Internacional – a organização representativa das Cooperativas a nível mundial, aprovou na sua última Assembleia Geral, o Projecto "Década Cooperativa", no qual se propõe que no ano 2020 o modelo empresaria cooperativo se tenha consolidado como um líder reconhecido da sustentabilidade económica, social e ambiental e como o tipo de organização com mais rápido crescimento.

Apesar de se verificar uma redução orçamental de 7% no sector agrícola português, a proposta de orçamento da União Europeia (UE), anunciou uma verba extra de 500 milhões de euros para o desenvolvimento rural. Concorda com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, que considera que a proposta de orçamento acabou por ser positiva para o país apesar das adversidades?
No contexto adverso em que decorreram as negociações, Portugal obtém, de facto, reduções inferiores à média comunitária. No entanto, não podemos afirmar que os resultados são satisfatórios, pois o desejável seria, no mínimo, a manutenção dos montantes financeiros do anterior Quadro Comunitário de Apoio. Aguardamos também, com expectativa, que as negociações que ainda decorrem, nomeadamente com o Parlamento Europeu, possam melhorar o acordo alcançado ao nível do Conselho Europeu. A nível interno, temos um grande desafio à nossa frente. Será que vamos cometer os erros do passado? Ou vamos apostar de forma determinada na melhoria da competitividade das nossas produções agrícolas, agro-alimentares e florestais? Os próximos meses serão cruciais para essa resposta.

Qual a estratégia de crescimento da CONFAGRI?
A nossa estratégia de crescimento passa necessariamente pela promoção do crescimento dos sectores que representamos, o sector cooperativo agrícola e de crédito agrícola. Para isso, importa dar a conhecer as mais-valias económicas e sociais destes sectores, estreitamente ligados à produção nacional e às economias locais e, estimular o desenvolvimento das suas potencialidades económicas a par das suas valências sociais, através de políticas adequadas à sua especificidade. Será esta a tarefa fundamental da CONFAGRI, promover as suas associadas e apoiá-las no sentido de que estas possam dar um contributo, cada vez com maior expressão, à nossa economia e nossa sociedade.

Desde quando lidera este projecto e que balanço faz do seu percurso à frente da Confederação?
Assumi funções como presidente da CONFAGRI em Março de 2011. Tem sido um percurso muito intenso e exigente, mas também muito estimulante. As situações de crise que atravessamos, a emergência de uma nova reforma da Política Agrícola Comum (PAC), a existência de um novo interesse pelo sector agrícola em Portugal, criam-nos desafios novos e complexos, aos quais a CONFAGRI tenta sempre responder de form positiva e pró-activa. Conto na CONFAGRI, com uma equipa de profissionais muit competentes e empenhados e tenho sentido por parte das organizações associadas um grande estímulo para o prosseguimento da nossa missão. O balanço é, por isso, francamente positivo.

Fonte: Qualidade&Inovação

http://www.confagri.pt/Noticias/Pages/noticia45885.aspx

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