sábado, 2 de março de 2013

Impasse europeu por causa das abelhas

AGRICULTURA:

1 março 2013DE STANDAARD BRUXELAS
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Uma espécie de inseticidas, amplamente utilizada em todo o setor
agrícola, pode ser responsável pelo elevado nível de mortalidade das
abelhas na Europa. A Comissão Europeia quer proibir o seu uso, mas os
fabricantes estão a lançar cortinas de fumo sobre as iniciativas.

Tom Ysebaert
São cada vez mais fortes os zumbidos de jogadas de bastidores
relacionadas com as abelhas. As colónias estão a ser aniquiladas e as
pessoas querem saber de quem é a responsabilidade. Os holofotes
centraram-se, entretanto, nos neonicotinóides, um grupo de
inseticidas. Tudo começou com um relatório da Autoridade Europeia para
a Segurança Alimentar, EFSA. Embora o relatório não afirme que esses
pesticidas são a causa do morticínio das abelhas, conclui que
acarretam garantidamente enormes riscos.

O resultado imediato foi o agendamento dos neonicotinóides para
investigação europeia. O comissário europeu para a Política de Saúde e
Defesa do Consumidor, o maltês Tonio Borg, fez uma proposta no final
de janeiro de proibição do uso de três neonicotinóides importantes
(imidacloprid, tiametoxam e chlotianidin), especificando as culturas
de milho, algodão, girassol e semente de colza. A intenção era a
proibição tornar-se aplicável a partir de 1 de julho de 2013, sendo o
efeito avaliado durante dois anos. A comissão permanente de peritos
dos Estados-membros deveria pegar no caso em 25 de fevereiro. No
entanto, a reunião foi adiada para meados de março.

Proteção contra processo legal

Consta que os industriais estão a preparar processos judiciais e
compensações por danos. Nem o departamento de Borg, nem o fabricante
Syngenta estão com vontade se ver em tribunal. Aparentemente, a
proposta foi alterada e ampliado o seu espetro ao cultivo de
frutíferas.

A Comissão enviou uma carta à comissão permanente contendo um
parágrafo invulgar, em que se afirma que o projeto de texto deve ser
apresentado aos fabricantes, aguardando-se respostas até 1 de março. A
carta afirma ainda que "há indícios de que os produtos não
correspondem aos critérios da anterior aprovação".

Parece que a Comissão pretende proteger-se, desta forma, contra um
processo legal. Afinal, os fabricantes – grandes intervenientes, como
a Bayer e a Syngenta –, não estão dispostos a ficar a assistir, sem
dar luta. Publicaram anúncios de página inteira em jornais e
escreveram cartas aos governos nacionais. Preconizam o desaparecimento
de 50 mil postos de trabalho e um prejuízo financeiro de €4,5 mil
milhões. A parte contrária alega que isso é uma ninharia em comparação
com os €153 mil milhões que as abelhas geram por polinização gratuita
das culturas naturais.

Uma "falsa solução"

A Syngenta lança abertamente dúvidas sobre o valor do relatório da
EFSA, porque não inclui pormenores sobre o uso em sementes
manipuladas. A Bayer refere-se à iminente proibição como "uma medida
desproporcionada, que compromete a competitividade do setor agrícola
europeu". A federação belgo-luxemburguesa do setor, a Fytopharma,
refere-se à proposta como uma "falsa solução" para o problema das
abelhas.

O combate à questão tem amplo apoio no Parlamento Europeu. Bart Staes,
que é membro do Parlamento Europeu pelos Verdes, convenceu uma centena
ou mais dos seus colegas de várias bancadas a assinar uma carta
dirigida ao comissário Borg, apelando a uma proibição total.

No entanto, Bart Staes admite que o nível de oposição tem vindo a
aumentar sistematicamente. "Não há consenso entre os Estados-membros.
A Espanha e Grã-Bretanha estão a encanar a perna à rã e a Alemanha
também está a causar problemas. Basta que mais um par de países faça
como eles e a proposta é bloqueada por uma minoria no Conselho de
Ministros."

Pesticidas enfraquecem abelhas

Um porta-voz de Sabine Laruelle (do Movimento Reformador belga),
ministra das PME, dos Trabalhadores Independentes, da Agricultura e da
Política Científica, fez questão de salientar que o Governo belga
reagiu de forma bastante favorável à proposta europeia.

Já a organização flamenga de proteção da natureza Natuurpunt considera
que a proposta europeia não vai suficientemente longe. "Deve ser
imposta uma proibição integral", explicam Jens D'Haeseleer
(especialista em abelhas) e Annelore Nys (perita agrícola). "Os
pesticidas em questão são extremamente tóxicos – 7000 vezes mais
venenosos do que o DDT. Estão a contaminar o solo e a água, onde se
desativam muitíssimo lentamente". A contra-argumentação é de que as
substâncias são altamente diluídas e que as abelhas apenas são
expostas a dosagens baixas. "No entanto, uma exposição prolongada a
pequenas quantidades enfraquece-as e torna-as mais suscetíveis à
doença. É semelhante à sida", defende D'Haeseleer.

2,5 milhões de assinaturas em 36 horas

O professor Dirk de Graaf, especialista em abelhas da Universidade de
Gand, continua muito cético. Com base numa pesquisa realizada pelas
universidades de Wageningen e Gand, De Graaf conclui que, embora as
abelhas morram sob o efeito de neonicotinóides em ambiente
laboratorial, tal não acontece no exterior, nas cercanias das
colmeias. Segundo ele, o ácaro varroa é o maior assassino das abelhas.
Refere a Austrália, onde os neonicotinóides são utilizados na
agricultura e onde a varroa não está presente. Aí, as taxas de
mortalidade são muito mais baixas. "O inseticida é um elemento da
equação, mas não o único", explica, acrescentando que "a proibição
terá algum efeito, mas não vai resolver o problema".

Para muitas pessoas, o destino das abelhas é uma questão altamente
emotiva. A petição, no site da Avaaz, recolheu 2,5 milhões de
assinaturas num período de 36 horas. E aguarda-se a estreia flamenga
do documentário intitulado More Than Honey [Mais do que mel], a 20 de
março. Se o filme tiver êxito, é improvável que o zumbido venha a
cessar em breve.

http://www.presseurop.eu/pt/content/article/3480961-impasse-europeu-por-causa-das-abelhas?xtor=RSS-9

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