sexta-feira, 1 de março de 2013

"A cortiça tem hoje uma notoriedade internacional nunca vista"

António Rios de Amorim, líder da Corticeira Amorim, está confiante no
futuro do setor. E acredita que Portugal sairá da crise fortalecido


António Rios de Amorim
Adelino Meireles
01/03/2013 | 11:13 | Dinheiro Vivo
O presidente da líder mundial do setor corticeiro fala ao Dinheiro
Vivo do momento histórico da empresa, ao ultrapassar a fasquia dos 500
milhões de euros de vendas. "A cortiça usufrui hoje de uma notoriedade
internacional até aqui nunca vista", afirma António Rios de Amorim.
A Corticeira Amorim ultrapassou uma fasquia histórica de vendas, os
500 milhões. Isso significa que o momento difícil que o setor
corticeiro passou, não há muito, está completamente ultrapassado?
Significa que o setor da cortiça, e em particular a Corticeira Amorim,
tem respondido assertivamente aos desafios dos mercados e às
contingências macroeconómicas vigentes. A indústria da cortiça - que
tem como principal produto a rolha - foi ameaçada ainda no final dos
anos 90, com a entrada dos vedantes artificiais. Durante mais de uma
década foram feitos grandes investimentos em investigação e
desenvolvimento e Inovação com o objetivo de assegurar uma qualidade
consistente das rolhas de cortiça e esses investimentos estão agora a
dar os seus frutos.
A evolução positiva das exportações de cortiça dos últimos três anos –
superior à taxa de crescimento do mercado de vinho – e o
reconhecimento dos principais críticos mundiais da performance da
rolha de cortiça são fatores que validam a estratégia da Corticeira
Amorim, que apresentou pela primeira vez na sua história vendas
superiores a 500 milhões de euros.
De referir ainda que a cortiça usufrui atualmente de uma notoriedade
internacional até aqui nunca vista. Além da indústria vinícola que
identifica a rolha de cortiça como o 'benchmark' dos vedantes, este é
um reconhecimento que se estende à arquitectura - no último ano a
cortiça foi seleccionada como material estruturante do Serpentine
Gallery Pavilion, uma obra icónica dos consagrados Herzog & de Meuron
e Ai Weiwei -, ao design, aos transportes - em que a cortiça é cada
vez mais uma solução de tecnologia de ponta -, entre tantas outras
indústrias.
Para o futuro, a Corticeira Amorim continuará empenhada em garantir a
qualidade consistente dos seus produtos e a comunicar as robustas
credenciais técnicas e de sustentabilidade da cortiça, as principais
vias para se assegurar crescimentos em linha com os dos últimos anos.
A guerra aos vedantes alternativos está, então, a ser ganha?
Os sinais do mercado – seja em termos de exportações de cortiça, seja
no valor premium reconhecido à rolha de cortiça ou no reconhecimento
dos críticos – são muito benéficos para o vedante natural, em
detrimento dos artificiais. No entanto, quando falamos em vedantes
alternativos, é necessário distinguir os vedantes de plástico - com
falhas técnicas evidentes, associados a baixa qualidade e com perdas
de quota de mercado contínuas nos últimos anos - dos vedantes de
alumínio. Estes usufruem actualmente em alguns países muito
específicos, como a Austrália, de uma posição consistente,
essencialmente no segmento de vinhos de baixo valor. Mas, mesmo nestes
casos, há já sinais concretos de uma inversão de tendência, com
algumas caves localizadas no novo mundo vinícola a iniciar movimentos
de regresso às rolhas de cortiça natural.
A cortiça tem crescentes utilizações, até ao nível da saúde. Como se
potencia esse uso?
Quanto mais I&D fazemos mais surpreendidos somos com as capacidades da
cortiça e da sua estrutura celular absolutamente única. No caso das
questões relacionadas com a saúde os processos de validação são
extraordinariamente longos e complexos. Um orçamento de investigação
robusto, uma rede de parcerias com instituições científicas alargada,
tendo sempre presente que a I&D tem de estar associada a uma
perspectiva de negócio concreto, que preside este esforço de inovação,
são os fatores que sustentam a aplicação da cortiça em áreas como a da
saúde.
O abastecimento, em termos de matéria-prima, é uma preocupação para
Portugal, enquanto líder mundial do setor?
A posição de liderança de Portugal é transversal a toda a fileira da
cortiça, sendo que os montados nacionais representam mais de 50% da
produção mundial. E o último inventário florestal, recentemente
divulgado, demonstra que Portugal tem a mesma área de sobreiros do que
tinha em meados da década passada. Esta realidade, conjugada com
grandes esforços da Corticeira Amorim e de toda indústria - a que se
juntam organizações governamentais e não governamentais -, permitirá
reunir condições para manter Portugal na liderança da área de montado
de sobro mundial, com uma quantidade muito significativa de cortiça a
ser proveniente das florestas nacionais. No que à actuação da
Corticeira Amorim diz respeito, a empresa continuará a apoiar
activamente iniciativas para avaliação e implementação de melhores
práticas relacionadas com o montado de sobro.
A Corticeira Amorim foi obrigada a despedir efetivos quando as vendas
caíram. Admite voltar a contratar?
Actualmente, a Corticeira Amorim tem uma estrutura de recursos humanos
adaptada às necessidades do mercado. Mas, como qualquer empresa que
busca as melhores práticas de gestão, as nossas estruturas de RH são
sempre objeto da mais cuidada e rigorosa atenção, com vista à sua
permanente optimização aos mais diversos níveis.
As previsões macro económicas foram revistas na última semana pelo
Governo e espera-se agora uma recessão de quase 2% este ano. Como é
que isto irá condicionar a estratégia da Corticeira? E quando é que
acredita que se poderão notar os primeiros indícios da retoma?
A Corticeira Amorim é uma empresa de cariz internacional, que exporta
95% da sua produção para um universo de mais de 100 países. Esta
diversificação tem sido fundamental para ultrapassar as diversas
contingências macroeconómicas nacionais e internacionais. Em 2013, a
empresa estará concentrada nos factores intrínsecos do negócio e nas
variáveis que pode controlar, como os esforços contínuos de eficiência
operacional, a optimização de rubricas com grande impacto como são as
de energia e dos transportes. Este enfoque é válido para todos os
mercados incluindo Portugal.
Estamos convictos que Portugal como um todo será capaz de ultrapassar
as actuais dificuldades, num processo difícil, que sabemos quando teve
início mas será difícil prever quando terminará. O que acreditamos é
que no final do processo o país deverá sair mais forte e capaz de
alavancar as vantagens competitivas que Portugal e os portugueses
constituem.
No seu entender, o que poderia ser feito para melhorar o ambiente de
investimento em Portugal?
Sendo indiscutível que, no actual contexto, as exportações são vitais
para a saída da crise, será importante disponibilizar às empresas
exportadoras o maior sistema de incentivos possível que maximize a sua
competitividade face aos players internacionais. Dar continuidade à
promoção externa através de campanhas específicas de setores de bens
transacionáveis, como a que foi feita recentemente com o setor da
cortiça - cujos resultados são amplamente conhecidos e que já se
refletem nas exportações - é algo que pode ter uma relação custo/
benefício bastante interessante para o país.
Outro ponto incontornável é a capacidade de Portugal atrair
investimento externo. Definir e implementar condições mais atrativas é
urgente e necessário. Clima, segurança, dimensão e qualidade da zona
económica exclusiva, posição geoestratégica e língua são ativos e
fatores críticos de sucesso que importa capitalizar. Para o futuro, é
sobretudo necessário encontrar mecanismos que evitem os mesmos erros
do passado.

http://www.dinheirovivo.pt/Empresas/Artigo/CIECO109820.html?page=0

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