quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013
Há mais produtos com carne de cavalo além da lasanha vendida pela Nestlé
ANA RUTE SILVA E CLÁUDIA SOBRAL 20/02/2013 - 00:00
O escândalo da carne de cavalo em refeições pré-cozinhadas chegou a Portugal. Além de uma lasanha comercializada pela Nestlé em exclusivo para hotéis e restaurantes, há outros produtos com o mesmo problema. A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) detectou "situações pontuais" de vestígios de carne de cavalo em preparados e produtos à base de carne, que já foram apreendidos e retirados do mercado.
Há duas semanas que a ASAE está a recolher amostras de alimentos e a fazer análises para "identificar eventuais indícios de fraude económica". Depois desta acção de fiscalização, retirou produtos do mercado. A autoridade alimentar continua a fazer uma "vigilância apertada", independentemente das acções e retiradas voluntárias conduzidas pelas empresas, como sucedeu com a Nestlé. Não foi possível apurar quantos produtos foram apreendidos e retirados do mercado.
Fonte oficial da Secretaria de Estado da Alimentação e Investigação Agro-alimentar disse ao PÚBLICO que estão a ser empreendidas "outras acções" pelos serviços da Direcção-Geral de Alimentação e Veterinária, "no âmbito dos controlos propostos pelas recomendações da Comissão Europeia, nomeadamente ao nível dos matadouros".
A Nestlé retirou ontem, de forma voluntária, um lote de lasanhas pré-cozinhadas Bolognaise Gourmandes, confirmou ao PÚBLICO António Carvalho, do gabinete de comunicação da empresa em Portugal. O alarme soou com os ravioli e tortellini de carne Buitoni (marca do grupo suíço) que começaram a ser retirados dos supermercados em Espanha e Itália, depois de neles terem sido encontrados vestígios de carne de cavalo. Estes produtos não são comercializados em Portugal, mas o mesmo não acontece com a carne de vaca que é usada para o recheio. Esta carne é fornecida por uma empresa alemã (a H.J. Schypke) e acabou por chegar a Portugal nas lasanhas pré-cozinhadas.
As lasanhas são comercializadas em todo o território nacional em exclusivo para o canal horeca (restaurantes, bares e hotéis) pela Nestlé Professional. A empresa, que já pediu desculpa aos clientes, "cessou qualquer relação comercial" com a H.J. Schypke e retirou do mercado um "lote de matéria-prima".
Lidl sem casos em Portugal
"O produto afectado já está bloqueado na sua totalidade", disse António Carvalho, não adiantando quantas embalagens foram retiradas do mercado. Esta operação decorre desde segunda-feira. "Não se trata de um problema de segurança alimentar", sublinha. "Aqui a questão é de fraude de rotulagem, tanto quanto se sabe à escala europeia. E a Nestlé faz a sua investigação aos seus produtos." Quando um alimento transformado contém uma espécie animal que não é mencionada no rótulo, está em causa um crime económico.
Apenas 1% da lasanha fabricada em França (com carne comprada à empresa alemã) continha carne de cavalo. Em comunicado, a Nestlé internacional explica que "os níveis detectados estão acima do limite dos 1% que a Agência para a Segurança Alimentar do Reino Unido definiu para uma provável adulteração ou negligência grosseira".
Ontem, também a cadeia alemã de supermercados discount Lidl fez saber que estava a retirar várias refeições pré-cozinhadas das suas lojas na Finlândia, Dinamarca, Suécia e Bélgica por conterem carne de cavalo. Em Portugal não há qualquer destes produtos à venda, assegurou ao PÚBLICO o gabinete de comunicação da cadeia.
O escândalo da carne de cavalo rebentou no mês passado na Irlanda, depois de serem detectados vestígios em hambúrgueres de marcas irlandesas e britânicas, vendidos nos supermercados Tesco e Aldi. Só nas últimas semanas se começou a perceber a verdadeira extensão do problema, com o surgimento de casos semelhantes noutros países.
Na semana passada, o Comité da Cadeia Alimentar e Saúde Animal da União Europeia aprovou um plano para despistar a presença de carne de cavalo não declarada em alimentos transformados por toda a Europa. A proposta do comissário europeu da Saúde e do Consumo, Tonio Borg, prevê que em cada Estado-membro sejam testados entre dez e 150 produtos. Os resultados dos testes são apresentados dentro de dois meses.
http://www.publico.pt/portugal/jornal/ha-mais-produtos-com-carne-de-cavalo-alem-da-lasanha-vendida-pela-nestle-26093133
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