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23 de Fevereiro, 2013por Patrícia Cintra (texto) e Miguel Silva (fotografia)
Era publicitário mas há seis anos decidiu tirar uma pós-graduação em
Ecoturismo, para uma eventualidade. Trabalhava numa agência em Lisboa
e mal via a família, até que um dia se deu o clique: «Foi na altura da
greve nas gasolineiras. Ia ter uma reunião no Porto e não havia
gasóleo. Eu até tinha o carro atestado mas lembro-me de a minha mulher
me ligar a dizer que já não havia frescos em Lisboa. Na altura tinha
uma filha de meses e pensei: 'Sou muito criativo, muito criativo, mas
então e comida no prato?'. E resolvi mudar».
Começou com um terreno com oito hectares, fez um estudo de impacto
ambiental porque a herdade que comprou no Rogil (Aljezur) estava
dentro de um parque natural, fez um levantamento de fauna e flora,
mais outro de taxa de ocupação e a partir daí começou a preparar as
áreas de cultivo.
Dos oito hectares, três são só para salvaguardar a fauna e flora e os
restantes cinco para agricultura: dois de hortícolas, dois de
frutícolas e um de uva de mesa e morango. «Hoje tenho três
colaboradores mas quando comecei, comecei sozinho. Perdi 17 quilos em
quatro meses!».
O negócio, a que deu o nome Herança Rural, foi crescendo e Rui começou
a vender cabazes com os seus produtos biológicos – no início a amigos.
«Por semana entrego entre 40 e 60 cabazes. Mas clientes tenho 120!», e
tudo em apenas um ano. Mesmo assim, acredita que continua a comer-se
mal em Portugal porque as pessoas continuam a preferir ir ao
supermercado comprar coisas que não são da época e que vêm de fora a
comprarem «o que é nosso, o que é bom e o que é apanhado no dia
antes».
«Não faço os cabazes ao quilo porque o conceito de quilo no biológico
não faz sentido nenhum. Mas consigo ter, no mínimo, 13 legumes
diferentes por semana». O sucesso está comprovado. Rui está no Rogil,
de terça-feira a sábado, onde apanha os legumes que distribui em
Lisboa – e arredores – ao domingo e à segunda-feira. Os preços variam
entre 10 e 20 euros. «O meu cabaz de 20 euros dá perfeitamente para
quatro pessoas comerem durante uma semana».
E acrescenta: «Temos que fazer um refresh à nossa mentalidade, à nossa
postura, à nossa maneira de estar na vida. Uma couve sabe bem no
Inverno, um feijão verde sabe bem no Verão... Isto tem tudo a ver com
fazermos uma alimentação saudável, sem enganar as próprias plantas»,
conclui.
Para o futuro, planeia construir um ecoturismo mas até ao final do
Verão está envolvido no processo de exportação de 240 toneladas de
abóbora e 100 toneladas de batata doce para Alemanha, Espanha, Itália
e França. «E não houve um único banco que me ajudasse, fundos
comunitários, apoios da câmara ou da junta. Nada».
patricia.cintra@sol.pt
http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=68767
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