19 Outubro 2011 | 08:53
Patrícia Abreu - pabreu@negocios.pt
O crescimento da população mundial, associado às mudanças nos hábitos
de consumo nos países emergentes, abre boas oportunidades de
investimento na agricultura. Em entrevista ao Negócios, Michéal
Ramirez, especialista de produto da estratégia do RCM Global
Agricultural Trends, defende a aposta no sector.
O aumento da procura mundial, suportado pelo crescimento da classe
média nos países emergentes, deverá impulsionar o investimento no
sector da agricultura. Em entrevista ao Negócios, Michéal Ramirez,
especialista de produto da estratégia do fundo RCM Global Agricultural
Trends, defende que, para responder ao crescimento da população
mundial e ao aumento da procura, o sector agrícola necessita de
grandes investimentos, gerando oportunidades atractivas.
De acordo com as estimativas das Nações Unidas, em 2050 a população
mundial deverá ser de nove mil milhões de pessoas. São mais três mil
milhões que os seis mil milhões existentes em 2007. Associado ao forte
aumento populacional, que exige um aumento substancial da produção de
bens alimentares e lança desafios ao nível da produtividade no sector,
há que ter, ainda, em conta a utilização de "commodities" agrícolas
para a produção de biocombustíveis.
Para Michéal Ramirez, esta realidade abre oportunidades de
investimento interessantes a dois níveis. Por um lado, através de
empresas que fornecem produtos para a produção de alimentos e, por
outro lado, em companhias na área da distribuição.
"Por um lado, vemos oportunidades nas empresas que fornecem produtos
para a produção de comida, fornecem fertilizantes, sistemas de
irrigação para ajudar os agricultores a produzir comida de forma mais
eficiente", explicou o responsável. Já do lado do consumo, Michéal
Ramirez identifica bons investimentos em "companhias que estão a
fornecer comida nos mercados emergentes e empresas envolvidas na
distribuição".
Apesar do momento conturbado que os mercados accionistas atravessam, o
responsável considera que o "desequilíbrio na oferta a longo prazo"
justifica o investimento no sector agrícola. "Tem que se produzir 17%
mais comida do que produzimos hoje", adiantou Michéal Ramirez.
Actualmente, as empresas de fertilizantes recolhem a preferência,
devido aos desafios em termos de eficiência na produtividade e à
procura crescente dos mercados emergentes. "Dado o crescimento da
procura, particularmente de países como o Brasil, a procura de
fertilizantes é forte e vai continuar a ser forte", realçou o
especialista.
No entanto, mais do que uma questão de produzir mais comida, o
especialista alerta que o sector agrícola tem pela frente um desafio.
Também tem que se pensar como responder às mudanças no consumo nos
mercados emergentes, destaca.
Além disso,o sector depara-se com a necessidade de melhorar a
eficiência na produção, o que exige um maior investimento em novas
tecnologias agrícolas. De acordo com Michéal Ramirez, a produtividade
na agricultura caiu de 2% para 1,3% nos últimos 20 anos, ao mesmo
tempo que o limite de intensificação agrícola já foi atingido no mundo
desenvolvido, desafios que favorecem a aposta em títulos de empresas
do sector.
Em termos geográficos, o responsável está optimista para o continente
asiático, apesar de os EUA serem a região que capta mais investimento
no portefólio do fundo. Um factor justificado pela aposta em duas
empresas americanas que se dedicam aos fertilizantes: a Potash
Corporation of Saskatchewan e a CF Industries.
O milho e o óleo de palma são das matérias-primas que recolhem a
preferência do gestor, actualmente. Também as margens dos frangos nos
EUA deverão beneficiar com uma menor oferta, uma vez que "vai haver
uma racionalização no fornecimento de frango nos EUA".
Volatilidade vai continuar
Com o investimento centrado em acções de empresas do sector da
agricultura, o património investido neste tipo de fundos está exposto
às oscilações do mercado accionista. Perante a actual conjuntura, a
negociação deverá permanecer marcada pelos elevados níveis de
volatilidade, devido ao clima de instabilidade e incerteza nas bolsas.
Michéal Ramirez realça que "a volatilidade vai permanecer elevada",
enquanto não existir um plano concreto para conter a crise da dívida
soberana. Porém, destaca que, a longo prazo, os fundamentais do
investimento permanecem intactos, identificando espaço para
valorizações.
Para o responsável, as acções de empresas ligadas ao sector agrícola
são menos voláteis do que as matérias-primas agrícolas e gerou
melhores retornos, ajustados ao risco. Apesar das quedas a 12 meses, a
três anos o fundo rende mais de 12%.
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Fundos de agricultura rendem mais de 16% a três anos
Os fundos que investem em acções do sector da agricultura registam
desvalorizações nos últimos 12 meses. Ainda assim, a três anos estes
produtos acumulam retornos superiores a 16%. A América do Norte é a
região que capta mais investimento das carteiras.
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=512993
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