quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Não me interessa ter mais de 10% em Portugal"

20 Outubro 2011 | 10:22
Isabel Aveiro - ia@negocios.pt
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Criada há 13 anos, a companhia de vinhos DFJ está desde o início
vocacionada para o exterior, onde faz hoje mais de 80% das vendas
Há cerca de um ano, ano e meio, José Neiva Correia teve um
sobressalto. O seu distribuidor para o mercado da Noruega informava-o
que, de lá, lhe garantiam que iam retirar das prateleiras e devolver o
seu vinho Paxis, que não se estava a vender. A DFJ Vinhos defendeu-se:
"não investimos para sair, mudámos a colheita" e "desenvolvemos o
Paxis Arinto" ao gosto norueguês "para vender mais".

A devolução agendada nunca aconteceu, porque a avaliação "muito
positiva" de um crítico norueguês do novo produto acabou por
reconhecer o investimento feito e resultou num aumento das vendas.
Hoje, garante o dono e fundador da empresa de vinhos, o Paxis vende
1.500 garrafas por dia na Noruega.
A história serve ao enólogo para explicar que a vitivinicultura é "um
sector com muitas especificidades". "É preciso ter nascido no sector
para sentir a actividade, que é bastante difícil".
"Muitos pensaram que iriam nobilitar-se através do vinho e ganhar
muito dinheiro", mas "algumas empresas vão ter mesmo que ir falência",
acredita.
A Noruega é um dos seis mercados mais importantes para a DFJ, empresa
que em 2010 facturou cerca de 10 milhões de euros com seis milhões de
garrafas vendidas. Em 2011, o crescimento previsto é de 2,5%, em
valor, e de 8,5%, em volume.
Pela prestação deste ano, a capacidade exportadora da DFJ poderá
crescer, aumentando o peso na facturação total de 80% para 90%. José
Neiva Correia reconhece: o nível das actuais vendas em Portugal "já é
bastante bom, mas estamos a fazer um esforço para vender mais". Mas
num contexto em que a "DFJ aumente [as vendas ] lá fora" também. "O
que gostaria", frisa, "é que se mantivesse" o equilíbrio hoje
existente, entre mercado nacional e exportação. "Não me interessa ter
mais de 10% [das vendas] no mercado nacional", sublinha.
Com a grande distribuição, à qual aponta tendências "ditatoriais", a
negociação é por vezes complicada. Em geral, considera Neiva Correia,
o actual panorama de Portugal não recomenda assumir muitos riscos na
altura de assinar contratos: "vender é fácil, cobrar é difícil" e não
recomendável sem garantias firmes da outra parte.
Hoje com 33 marcas e mais de 100 referências (entre as gamas 'basic',
'standard', 'premium',' super premium'/Grand'Arte e 'icon'), a DFJ
prepara-se para mudanças. Vai apostar mais nos vinhos da região de
Lisboa e Terras do Sado e manter Algarve e Alentejo. Mas Bairrada,
Beiras e Dão "é para acabar", garante o enólogo.

Perguntas a...

José Neiva Correia
Proprietário e enólogo-chefe da DFJ

"Negócio não está a ser fácil em Portugal por incertezas quanto aos pagamentos"
Qual a expectativa tem para 2012?
Não está a ser fácil o negócio em Portugal, por incertezas quanto aos
pagamentos. Não temos a certeza que vamos receber [de alguns agentes]
e, por isso, não podemos depender muito do mercado nacional. Para
fazermos negócio e garantirmos os pagamentos do vinho que vendemos, ou
são entidades acima de qualquer suspeita em quem confiamos; ou nos
fazem seguro; ou nos dão garantias bancárias - o que alguns recusam.
E, portanto, a situação está complicadíssima, porque os bancos também
não querem arriscar. Os produtores, ou se associaram a grandes
distribuidores [para escoar os seus produtos] ou estão sozinhos, e
neste caso muitos estão numa situação constrangedora. Vai dar mau
resultado. A crise vai afectar ainda mais a produção [de vinhos] a
médio prazo. Vai dar mau resultado.
Um aumento do IVA sobre o vinho teria que consequências?
Qualquer alteração nas taxas do IVA, para nós, vai afectar muito
pouco, porque só 10% das nossas vendas serão em Portugal. Outra
questão é a relação com a distribuição. Estamos a sofrer uma ditadura
da grande distribuição , com alguns operadores, que introduzem regras
que não estavam acordadas inicialmente - uma situação que cabe à
Autoridade da Concorrência fiscalizar. É nas redes regionais de
distribuição onde a DFJ pode então consolidar as suas vendas. Porque
através da grande distribuição é difícil para a maioria dos produtores
[nacionais], porque aí é para ter prejuízo. Os grandes grupos dos
distribuição quase obrigam alguns fornecedores a vender abaixo do
preço de custo. Em alguma restauração também estamos com dificuldades
em receber.
Ideias-chave
Na Quinta da Fonte Bela, a companhia DFJ cria, armazena, faz o
enchimento e controla a produção e distribuição

1. Produto
Directamente, a DFJ não detém vinhas. Adquire a produção de terceiros,
em várias partes do País, para criar as suas várias marcas. Nos
últimos anos, o grupo investiu 250 mil euros na Quinta da Fonte Bela
(adquirida há cinco anos) para aumentar a capacidade de armazenagem e
de enchimento de vinhos nas suas próprias instalações.
2. Mercados
A companhia vende para três dezenas de mercados o equivalente a seis
milhões de garrafas de vinho. Em 2010 ficou perto dos 10 milhões de
euros, prestação que espera aumentar em 250 mil euros, pelo menos,
este ano. Reino Unido, Noruega, Finlândia, Alemanha, Polónia e Canadá
são os principais mercados da DFJ.
3. CERTIFICAÇÃO
Para passar as portas e ocupar espaço nas prateleiras de cadeias de
supermercados como as britânicas Tesco ou Sainsbury's compensa
investir na certificação. Foi o que fez a DFJ, cuja obtenção de "um
dos certificados mais exigentes", o BRC - Global Standards for Food
Quality Certification, serve como garantia a distribuidores e
consumidores no Reino Unido, EUA, Canadá e Alemanha.
4. Pessoas
A tempo inteiro, a DFJ emprega 28 pessoas.
http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=513571

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