segunda-feira, 25 de março de 2013

Bruxelas é que criou problema das quotas

2013.03.25 (00:00) Açores
O antigo dirigente da lavoura açoriana, Paulo Caetano Ferreira,
defende, em entrevista ao terceirense Diário Insular, que se Bruxelas
impôs as quotas leiteiras terá agora que compensar a Região com o fim
desse regime.

Diário Insular (DI): A União Europeia está a encerrar o processo da
reforma da Política Agrícola Comum (PAC), que vai vigorar entre
2014-2020. Como podem os agricultores açorianos fazer face ao futuro
tendo em conta que o sector vai ter que competir num mercado cada vez
mais aberto, onde a tendência será para uma desvalorização da produção
de leite em termos de rendimentos?
Paulo Caetano Ferreira (PCF): Durante muitos anos, anos demais, a
actividade das associações agrícolas resumiu-se a uma dança periódica
sobre o preço do leite e uns ataques ao Governo Regional. Há um alvo
fácil, atacam-se os compradores, faz-se uma grande fita e depois,
vamos à vidinha que o que é preciso é vender à lavoura e fazer crescer
a cooperativa, satisfazer uns egos. Isto porque mexer com as cabeças
das pessoas é terreno árido, minado.
Mas o fundamental é ajudar os lavradores a reduzir as ineficiências
que há nas e à volta da produção, porque se perdem muitos milhões
todos os anos. Perde-se dinheiro na alimentação, na reprodução, nas
máquinas desajustadas à dimensão das lavouras, na falta de
emparcelamento, na qualidade do leite, entre outras áreas.
A missão mais nobre de uma associação é promover o conhecimento que dá
rendimento, independência e dignidade. Felizmente na Terceira e em São
Jorge as associações perceberam isto e fazem parte de um programa de
extensão rural em parceria com o Departamento de Ciências Agrárias da
Universidade dos Açores.
Esta não é a solução para todos os males, mas de certeza que melhora o
rendimento e a qualidade de vida dos lavradores e está espalhada por
todo o mundo, desde o dito civilizado até aos países menos
desenvolvidos. É fundamental reduzir custos de produção. Mas para que
isso aconteça há que ajudar os lavradores, apoiá-los na melhoria da
gestão das suas lavouras.

DI: Quais os aspectos que considera como essenciais consagrar na PAC,
tendo em conta uma perspectiva açoriana?
PCF: Bruxelas criou o problema das quotas, vai ter que ajudar a
lavoura a voltar para um mercado livre. Não pode, depois de ter
destruído o nosso modo de produção, deixar-nos abandonados a resolver
os problemas sozinhos. Devem criar-se apoios adaptados, não ao modo de
produção do centro da Europa, com os cereais e outros factores de
produção à porta das explorações, mas adaptados a um método de
produção à base do recurso que temos em maior abundância e melhor
preço, a pastagem.
Com POSEI ou sem ele, há que criar ajudas específicas para um
arquipélago, tendo em atenção que a lavoura é a única actividade
económica que poderá criar mais postos de trabalho, se se criarem
políticas de apoio à produção vegetal.

DI: Um estudo da Comissão Europeia aponta para impactos negativos para
quase todos os estados-membros (excepto Holanda e Dinamarca) do fim do
regime das quotas leiteiras em 2015. Tendo em conta essa realidade,
existe a esperança do fim das quotas leiteiras ser adiado por cinco
anos (até 2020). Essa será uma medida positiva ou esse adiamento de
pouco servirá?
PCF: Um adiamento que, neste momento já está posto de parte, poderia
ser positivo se se agisse no sentido de criar um programa de extensão
rural a nível do arquipélago nas áreas da produção leiteira e da
agricultura, no sentido estrito da palavra.

DI: Para além da questão do fim das quotas leiteiras, quais os
problemas principais que se colocam à agricultura açoriana?
PCF: Um dos maiores problemas é que se andou a brincar com a questão
das quotas leiteiras, quando se sabia que quando se aventa uma
hipótese em Bruxelas é para preparar terreno, porque a ideia de
hipótese vai passar a ser realidade. Se já tivéssemos trabalhado num
plano B, não andávamos tanto aflitos.

DI: O facto de a lavoura açoriana persistir na opção de produzir leite
com factores de produção caros não poderá ser fatal?
PCF: Acho que toda a gente sabe isso, mas há interesses metidos pelo
meio que emperram tudo mas que não são os dos verdadeiros lavradores.
As lideranças que estão presas a conceitos e realidades desadequadas à
nossa realidade, que só vêm o seu umbigo.

FONTE: Diário Insular

http://www.anilact.pt/informacao-74/7287-bruxelas-e-que-criou-problema-das-quotas

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