O projecto da obra de fomento hidroagrícola do Baixo Mondego
iniciou-se há mais de 30 anos, mas actualmente só abrange cerca de
metade dos 13 mil hectares de campos de cultivo na região.
Ouvido pela reportagem da Lusa, Pinto da Costa, produtor de arroz,
olha para os seus terrenos e vê-se como que "numa fronteira entre dois
países diferentes": a poente da estrada que liga o castro de Santa
Eulália à povoação da Ereira não há obra de regadio, mas a nascente o
regadio já existe.
"Foi exactamente aqui, há 13 anos, que as obras pararam. Esta
fronteira significa que, por vontade de alguém, há agricultores muito
penalizados", afirmou.
Onde a obra hidroagrícola não chega, as dificuldades são acrescidas,
seja na necessidade de mais meios humanos e materiais, seja na
"disparidade de condições" que não permitem "rentabilidades"
idênticas, explicou.
"Na zona com obra, a situação é completamente pacífica, temos água à
entrada dos terrenos. Na zona sem obra, temos de bombar a água duas
vezes, primeiro para dentro de uma vala, para depois ser bombada outra
vez [para os terrenos]", frisou Pinto da Costa.
Os problemas de drenagem afectam, também, agricultores vizinhos:
"Tenho colegas em cotas mais baixas e, para nós podermos fazer a
bombagem, eles ficam inundados. E gerir toda esta situação torna-se
muito difícil", alegou.
Se o vale central do Mondego está praticamente todo coberto pela obra
hidroagrícola, o mesmo já não sucede nos vales secundários - dos
afluentes Pranto, Arunca e Ega - e na zona do rio de Foja e ribeira da
Ançã.
O Pranto, em Março, parece um imenso lago, onde não se vislumbram os
limites dos terrenos, só água, a cerca de um mês da sementeira do
arroz.
José Armindo, da Associação de Beneficiários da Obra de Fomento
Hidroagrícola do Baixo Mondego (ABOFHBM) lembrou à Lusa que o vale do
Mondego está em obra há mais de 30 anos e que os agricultores esperam
que no actual quadro comunitário possam entrar em execução os blocos
da Margem Esquerda, Bolão e Maiorca / Foja.
"Com esses três blocos, esperamos ultrapassar os 50 por cento [de
obra], mas ficam a faltar os vales secundários", notou.
Em declarações à Lusa, numa das margens dos campos de arroz do rio
Pranto, apontou a falta de acessos aos campos - "as pessoas para
chegar à sua propriedade tem de passar umas por cima das outras, não
tem drenagem, a drenagem é colectiva, não tem rega e a água anda de
uns terrenos para os outros".
Para José Armindo, fazer agricultura no Pranto "só se consegue pela
carolice e esforço dos agricultores".
O presidente da associação apelou "aos políticos" para que olhem para
as "especificidades" do Mondego que, frisou, "produz um dos melhores
arroz do País, em condições bastante deficitárias. Mas queremos
continuar a ser agricultores", garantiu.
"Desafiamos o poder político a mostrar-nos uma obra [de regadio] que
seja utilizada como no Vale do Mondego a 100 por cento. No vale do
Mondego não há um hectare sem estar a produzir, Queremos que as
pessoas tenham condições, porque, de futuro não vai ser possível fazer
agricultura nestas condições", avisou.
Na terça-feira, a ministra da Agricultura, Assunção Cristas, visita a
Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Baixo
Mondego, em Quinhendros, Montemor-o-Velho, e aí anunciará a
"adjudicação da empreitada de construção das redes de redes de rega,
viária e drenagem do Bloco de Rega 16 / Margem Esquerda", de acordo
com nota do ministério.
Na quarta-feira uma delegação da APOR - Associação Portuguesa dos
Orizicultores vai ser recebida em audiência na sede da Direcção
Regional de Agricultura e Pescas do Centro (DRAPC) onde irá entregar
um baixo-assinado com centenas de assinaturas reclamando que o Governo
inclua as verbas necessárias para finalizar a Obra Hidroagrícola no
Baixo Mondego, seja através do Orçamento de Estado seja de outra
forma, e em especial com a implementação do Emparcelamento Agrícola no
Vale do Pranto, no Vale do Arunca e do Ega.
Argumenta a APOR que esta região é uma zona orízicola com perto de
4.000 ha, que integra o Perímetro de Rega do Baixo Mondego, região
rica na produção de arroz com grande impacto na economia da região, e
não pode continuar nesta situação, sem Obras Hidroagrícolas, sem
reestruturação fundiária, impedindo assim o desenvolvimento agrícola
da região.
No abaixo-assinado os subscritores dizem também que os preços do arroz
na produção não compensam os elevados custos que os agricultores
gastam.
Fonte: Lusa e APOR
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/03/26d.htm
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