22-03-2013
No primeiro Dia Internacional das Florestas, o Diretor-Geral da
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO)
propôs que os países apoiem a meta de desflorestação Ilegal Zero no
âmbito do debate sobre a agenda de desenvolvimento pós-2015.
Segundo José Graziano da Silva «em muitos países, a desflorestação
ilegal destrói os ecossistemas, reduz a disponibilidade de água e
limita a oferta de lenha, o que contribui para a redução da segurança
alimentar, em especial no caso dos países mais pobres», afirmou o
responsável durante uma cerimônia que marca o Dia Internacional das
Florestas, acrescentando que «parar a desflorestação ilegal e a
degradação florestal seria benéfico para erradicar a fome e a pobreza
extrema e também para a promoção da sustentabilidade».
O diretor-geral da FAO assinala que é urgente incentivar os países a
promoverem a plantação de árvores e a considerar a meta de
Desflorestação Ilegal Zero no contexto do debate pós-2015. Dois
objectivos que devem estar estreitamente ligados. «Podemos alcançar
resultados positivos se os países, as instituições financeiras
internacionais, as Nações Unidas, a sociedade civil e o sector privado
se unirem para enfrentar estas questões», sublinhou Graziano.
Em paralelo, os países mediterrânicos reuniram-se na Terceira Semana
Florestal do Mediterrâneo, em Tlemcen, na Argélia, para discutir o
estado das florestas da região e adoptar um Marco Estratégico para
Florestas Mediterrânicas.
De acordo com o primeiro relatório da FAO sobre O Estado das Florestas
do Mediterrâneo, estima-se que as estas sejam bastante afectadas pelas
alterações climáticas e que sofram uma enorme pressão por causa do
crescimento da população, o que poderá resultar no aumento da
competição por água e alimentos, recursos já escassos na região.
As temperaturas no Mediterrâneo aumentaram um grau centígrado durante
o Século XX e as precipitações diminuíram 20 por cento em algumas
áreas. No final deste século, estima-se que as temperaturas subam mais
dois graus, o que vai provavelmente colocar algumas espécies
florestais em perigo de extinção, resultando numa perda de
biodiversidade.
A expectativa de crescimento populacional na zona do Mediterrâneo é de
um aumento de quase 500 milhões de pessoas para 625 milhões em 2050, o
que resultará numa crescente pressão sobre as florestas como fonte de
alimentação e água.
De acordo com o estudo da FAO, novas estratégias colaborativas para a
gestão sustentável destes ecossistemas frágeis e vitais são
urgentemente necessárias. Em países como a Turquia e a Tunísia, onde
existe uma forte vontade política, a área de florestas foi
significativamente recuperada nas últimas décadas.
«A região do Mediterrâneo enfrenta muitas alterações sociais,
climáticas e de estilos de vida», advertiu o Diretor-Geral Adjunto da
FAO do Departamento de Engenharia Florestal, Eduardo Rojas-Briales.
«Se não forem bem geridas, tais alterações podem ter impactos
negativos sobre os meios de subsistência, a biodiversidade, as bacias
hidrográficas, e aumentam o risco de incêndios florestais e a
desertificação. É fundamental avaliar regularmente o estado das
florestas do Mediterrâneo a partir de dados objectivos e confiáveis
e gerir de forma mais sustentável os recursos florestais ameaçados».
As florestas mediterrânicas são importantes para a captura de carbono.
Em 2010, cerca de cinco bilhões de toneladas de carbono foram
sequestradas, o que representa 1,6 por cento do total de carbono
florestal. Também prestam serviços valiosos aos ecossistemas, tais
como a regulação da água e do clima, fornecimento de madeira e de
produtos não-madeireiros e a conservação da biodiversidade. A região
do Mediterrâneo é uma das mais importantes do mundo para
biodiversidade, onde se encontram mais de 25 mil espécies de plantas,
em comparação com cerca de seis mil existentes na Europa Central e do
Norte.
O relatório destaca que o valor da floresta mediterrânica e o seu
papel na adaptação e mitigação das alterações climáticas deve ser
reconhecido a nível local, regional e nacional.
Convida também os governos e os engenheiros florestais para promoverem
o uso da madeira e dos produtos florestais não-madeireiros, como a
cortiça, para armazenamento de carbono a longo prazo, e para reforçar
o potencial de investimento dos pequenos produtores que trabalham em
indústrias madeireiras e não-madeireiras, como por exemplo de pinhões
cogumelos e mel.
O estudo sugere aos engenheiros florestais que utilizem a grande
variedade de recursos genéticos florestais nas suas actividades e que
promovam espécies florestais com maior potencial de se adaptarem às
novas condições climáticas.
Em uma escala local, técnicos florestais também devem melhorar o
planeamento florestal para gerir os ecossistemas de forma a manter uma
densidade ideal de árvores e para lidar com a escassez de água
enquanto as actividades de grande escala devem incluir uma prevenção
sistemática de incêndios florestais.
O relatório da FAO alerta que as alterações climáticas podem resultar
numa maior ocorrência de incêndios e no aumento da sua gravidade.
Entre 2006 e 2010, aproximadamente dois milhões de hectares de
florestas foram atingidas por incêndios na região do Mediterrâneo. Sem
medidas de prevenção adequadas, incluindo a redução do risco de
incêndios e de queimadas controladas de biomassa durante o Inverno
para reduzir os níveis de combustível, as condições climáticas
extremas podem causar incêndios catastróficos.
O relatório foi elaborado por mais de 20 instituições científicas e
técnicas e Organizações Não Governamentais, incluindo cerca de 50
autores e outras contribuições coordenadas pela FAO e o Plan Bleu, o
centro que serve como o principal apoio da Comissão Mediterrânica para
o Desenvolvimento Sustentável.
A FAO pretende publicar O Estado das Florestas do Mediterrâneo a cada
cinco anos, proporcionando assim mais oportunidades para unificar e
mobilizar parceiros na gestão sustentável das florestas.
Com base nas recomendações chaves adoptadas na Declaração de Tlemcen
durante a reunião de alto nível, a futura implementação do Quadro
Estratégico para as Florestas Mediterrânicas poderá ser uma ferramenta
regional útil para adaptação das políticas florestais nacionais em
vista das alterações globais em curso que afectam esta região.
Fonte: FAO
http://www.confagri.pt/Noticias/Pages/noticia46004.aspx
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