Na celebração de mais um Dia Mundial da Água, a LPN – Liga para a
Protecção da Natureza olha com particular preocupação para a gestão e
perspectivas deste recurso cada vez mais escasso no Mundo e em
Portugal. Enquanto pende sobre vários territórios a ameaça da
desertificação e despovoamento, as estratégias políticas apontam para
a contínua sobre-exploração dos recursos hídricos, quer através de
projectos de privatização, quer através do modelo das barragens, quer
através da proposta do regadio intensivo. Hoje, no nosso país, há
pouco que comemorar.
O projecto da privatização da água continua em plena aceleração,
constituindo já uma realidade em vários concelhos do país, e tendo a
maioria aprovado no Parlamento, em Janeiro passado um diploma que
aprova a "subconcessão de sistemas multimunicipais de águas e de
saneamento de águas residuais a entidades de natureza também privada",
o que se lê como a privatização anunciada para o grupo Águas de
Portugal. O Governo insiste neste erro ignorando o histórico das
privatizações de água, que é conclusivo no que diz respeito à má
gestão, à falta de investimento e à degradação deste recurso essencial
para o ambiente e para a sociedade.
No que diz respeito ao Programa Nacional de Barragens, continuamos a
assistir à destruição dos rios do país, dos últimos rios selvagens,
tudo em troca de uma potencial produção energética, não tendo em conta
nem as consequências das alterações climáticas, nem a Directiva Quadro
da Água . Até a produção energética que é a todos os níveis irrisória
é totalmente injustificada por qualquer perspectiva que não seja o
fornecimento de uma renda fixa à empresa eléctrica EDP. Os governantes
até aceitam a destruição de rios como o Sabor ou o Tua.
Em Portugal, a situação relativa aos projectos de irrigação agrava-se.
A Barragem do Alqueva já recebe actualmente cerca de 40 mil toneladas
de sal (NaCl) por ano, apenas de efluentes domésticos. Com o aumento
previsto a curto prazo da energia, o custo de bombagem média de cerca
de 190 metros, necessário no sistema previsto em Alqueva, tornar-se-á
incomportável para o Estado, a empresa gestora - EDIA - e em especial
para os agricultores se for cumprido o Anexo III da Directiva Quadro.
As alterações climáticas em marcha estão há vários anos a aumentar a
temperatura. Com o aumento da temperatura (as previsões de aumentos
estão entre os 1.1º e os 6,3ºC até ao fim do século XXI) seria
necessário um aumento da dotação de rega para as culturas agrícolas
actualmente praticadas. A precipitação também diminuirá, reduzindo os
caudais dos rios. De todas estas tendências que já estão em marcha (em
muitos casos acelerada), uma das consequências mais óbvias será a
perda de qualidade das águas de superfície, com a consequente
degradação dos solos e das águas a jusante. Com a quantidade de sal
que já existe na água, com a continuada adição, com o aumento das
dotações de rega e redução da recarga de aquíferos nas zonas de
abastecimento de água, a qualidade desta água vai degradar-se ainda
mais, em especial nos anos de seca cada vez mais frequentes.
Este panorama leva à conclusão da insustentabilidade de todo o
projecto a curto prazo, podendo manter-se no máximo por 10 anos, o que
torna espantoso o facto de os agricultores ou a EDIA continuarem a
pugnar para ficarem com este crime à sua responsabilidade. A obtenção
de mais-valias de curta duração pela transformação dos solos de
sequeiro é a única justificação possível para estas posições, e só
durará no curto período antes da destruição dos solos e da água. A
perspectiva de um aumento de produtividade de curto prazo e do aumento
da captura das mais-valias dos solos pelos privados põe em grave risco
os solos e a água da região e portanto a segurança alimentar, e a
sustentabilidade.
Neste Dia Mundial da Água a LPN reitera o seu compromisso de defesa do
ambiente, da natureza e das populações, a defesa da água, factor ímpar
para as condições de vida do planeta e que os interesses económicos
degradam de forma tão irresponsável.
Seguem em anexo as previsões da Agência Europeia do Ambiente para as
alterações climáticas e as cartas do índice de aridez.
Lisboa, 22 de Março de 2012
A Direcção Nacional da LIGA PARA A PROTECÇÃO DA NATUREZA
http://www.agroportal.pt/x/agronoticias/2013/03/22e.htm
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