segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Área de milho geneticamente modificado aumenta 60% em 2011

Escrito por CienciaPT
10-OCT-2011
Agricultores Portugueses querem liberdade para escolher tecnologias
sustentáveis para a economia e para o ambiente e explicam porquê.
Em 2011, a área de milho Bt geneticamente modificado (GM), a única
cultura transgénica cultivada em Portugal, aumentou cerca de 60 por
cento, de 4.868 para 7.843 hectares. Este aumento significativo
reflecte a escolha de muitos agricultores portugueses e a importância
da utilização de tecnologias agrícolas inovadoras para a
sustentabilidade da produção agrícola nacional e a competitividade
internacional.


Um investigador em biotecnologia de plantas e vários agricultores
explicam os motivos pelos quais a utilização das culturas
geneticamente modificadas tem vindo a aumentar a cada ano que passa,
ao nível global, e por que motivos muitos agricultores em Portugal
preferem utilizá-las nos seus campos agrícolas.
Pedro Fevereiro
Investigador e professor de biotecnologia vegetal. Presidente do CiB –
Centro de Informação de Biotecnologia.
Nos próximos anos a agricultura terá de enfrentar as graves
consequências das alterações climáticas no ambiente agrícola, que
provocarão elevado stress nas culturas. As diferentes variedades de
plantas geneticamente modificadas já disponíveis a milhões de
agricultores em todo o mundo (as quais os agricultores europeus não
têm autorização da União Europeia para cultivar, apesar dos sucessivos
pareceres positivos da EFSA – Autoridade Europeia de Segurança
Alimentar) fazem parte de um conjunto de diferentes tecnologias
agrícolas disponíveis para fazer face às dificuldades que o futuro
trará.
A produtividade agrícola tem de aumentar e as culturas GM já
comprovaram, ao nível global, as suas capacidades para atingirem o
máximo do seu potencial, protegendo as plantas e o ambiente contra
pragas, doenças e ervas daninhas, fornecendo em simultâneo produtos
seguros e saudáveis para o consumo de pessoas e animais. As vantagens
da sua utilização já estão a ser sentidas em todo o mundo há mais de
15 anos. É tempo dos agricultores europeus poderem usufruir delas.

João Grilo
Agricultor. Dirigente da Aposolo - Associação Portuguesa de
Mobilização de Conservação do Solo. Gere exploração agrícola em
Montemor-o-Velho, Coimbra.
Em 2006 cultivei 20% da minha área agrícola com milho Bt e os
resultados obtidos superaram as minhas expectativas. Desde então tenho
semeado praticamente a totalidade da área com milho Bt, visto estar
englobado numa Zona de Produção, onde 20% do milho cultivado é
convencional, respeitando assim a regulamentação relativa à área de
refúgio dos insectos.
A minha exploração agrícola situa-se no Vale do Mondego, região onde
existe uma forte presença da praga (broca - piral e sesâmia) na
cultura do milho. Com a utilização dos milhos Bt consigo ter um maior
domínio da cultura evitando o tratamento com insecticidas e exposição
aos mesmos e produzir plantas mais saudáveis com menos caules partidos
o que facilita em muito a colheita e uma maior rentabilidade na
produção com melhor qualidade de grão (isento de micotoxinas
produzidas por fungos que se instalam nas feridas das plantas atacadas
pelas larvas de insectos).
Perante as medidas de coexistência exigidas (distância entre campos de
milho, linhas de bordadura, utilização de diferentes classes FAO e
sementeiras escalonadas), as Zonas de Produção são a única forma de
tornar viável o cultivo do milho Bt nas zonas excessivamente
parceladas, como é o caso da realidade da maioria das explorações
agrícolas existentes na zona Centro e Norte de Portugal.
Seria de extrema importância serem autorizados mais "eventos" de milho
transgénico, assim como outras culturas geneticamente modificadas na
Europa e em Portugal, para que seja possível uma maior
sustentabilidade da agricultura Portuguesa.
Ao longo da minha carreira profissional tenho estabelecido alguns
contactos com colegas estrangeiros que têm o privilégio de ter à sua
disposição variedades de milho GM mais avançadas do que as que estão
autorizadas na Europa e com outro tipo de "eventos", variedades essas
que não estamos autorizados a produzir, mas apenas consumir na União
Europeia. Vejo neles muita competência profissional, mas nada superior
ao nível dos agricultores profissionais Portugueses. Trabalhamos todos
para o mesmo mercado, mas com regras em que a desigualdade é muito
grande e neste tema mais uma vez a Europa e Portugal estão na "cauda".
Estou convicto que a curto prazo a autorização dessas culturas será
inevitável.

José Maria Rasquilha
Agricultor. Dirigente da Anpromis - Associação Nacional dos
Produtores de Milho e Sorgo. Gere exploração agrícola em Elvas.
Cultivo Milho GM desde há alguns anos, ou seja, desde que a cultura
foi autorizada pelos Organismos Oficiais (2005). Não tenho dúvidas que
o controlo de Pragas (pirale/sesamia) que diretamente provocam
prejuízos notórios na cultura, principalmente em zonas de grande
intensificação da cultura de milho, só é possível de uma forma eficaz,
económica e ambiental, se for feito através de variedades
geneticamente modificadas.
Será imprescindível a aprovação do cultivo de novas variedades GM na
cultura do milho, pois só assim seremos competitivos com os outros
países que já as cultivam, como é o caso da Argentina, Brasil e EUA.
Até porque depois acabamos por importar, para consumo, o produto
proveniente dessas mesmas variedades.
Continuar com o milho Bt Mon 810, que deve ter qualquer coisa como
cerca de 20 anos de utilização, e que é o único autorizado em solo
Nacional, significa ficar estagnado no tempo e no espaço. Existem
neste momento actual dezenas de novas variedades GMs de milho e de
outras culturas, já completamente testadas em todo o continente
Americano, sendo que a Europa tem obrigatoriamente que autorizar o
seu cultivo para se tornar competitiva ao nível global.

Maria Gabriela Cruz
Agricultora. Presidente da APOSOLO – Associação Portuguesa de
Mobilização de Conservação do Solo. Gere exploração agrícola em Elvas.
Cultivo milho Bt por vários motivos. Entre eles: tenho maior garantia
de produção, uma vez que a broca não consegue atacar as plantas e
consequentemente, reduzir o número de quilogramas de milho por
hectare; gosto de utilizar práticas agrícolas amigas do ambiente e
utilizando o milho Bt já não sou obrigada a fazer duas ou três
aplicações de insecticida nos campos; não aplicando insecticida reduzo
a exposição dos meus colaboradores a agroquímicos; não aplicando
insecticida reduz-se o consumo de combustível no transporte,
fabricação e aplicação dos insecticidas, reduzindo assim as emissões
de carbono.
Seria muito importante serem autorizadas outras variedades de milho e
outras culturas geneticamente modificadas na Europa, nomeadamente as
culturas resistentes a herbicidas. O glifosato é um herbicida com
muito baixo impacto ambiental, relativamente a herbicidas, por se
degradar fácil e rapidamente no solo. Seria importante também a
aprovação de outras variedades geneticamente modificadas, como: as
tolerantes ao stress hídrico, o que diminuiria o consumo de água por
parte dos agricultores; as resistentes à salinidade, porque existem
regiões em Portugal onde existe o problema da presença elevada de sal
no solo; as resistentes a insectos do solo, o que diminuiria por
exemplo a necessidade de tratamento das sementes com fito-fármacos.
A não autorização destas culturas GM pela União Europeia terá como
consequências a falta de competitividade por parte dos agricultores
europeus em relação aos seus congéneres de outros países, como sejam
os agricultores da América do Norte e do Sul, da China, da África do
Sul, etc. Ser possível produzir certas culturas, nas quais os
agricultores portugueses já têm um grande "know-how", como é o caso da
beterraba sacarina e do algodão teria um impacto muito positivo no
rendimento dos agricultores, no ambiente (por serem culturas muito
importantes para a rotação de culturas) e para o mundo rural, ao
permitir uma maior taxa de emprego por parte do sector agrícola.
A aprovação de culturas GM na Europa seria também muito importante
para a ciência, que sendo estimulada para continuar a investigar e a
criar novos eventos de plantas transgénicas estaria em condições de
oferecer respostas mais rápidas e mais eficazes aos problemas que os
agricultores enfrentam no controlo de infestantes (ervas daninhas),
pragas e doenças e de stresses ambientais. Além disso, permitiria
produzir produtos nutritivamente mais ricos para combater carências de
nutrientes. Veja-se, por exemplo, o arroz dourado enriquecido em
pró-vitamina A para as populações da Ásia e de África com problemas de
cegueira. Permitiria ainda criar produtos mais adequados a
consumidores com doenças, como a diabetes, a intolerância ao glúten,
etc.
http://www.cienciapt.net/pt/index.php?option=com_content&task=view&id=104803&Itemid=336

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