segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Para o planeta não aquecer de mais, é preciso parar já as emissões de CO2

CLARA BARATA 02/11/2014 - 17:09
Novo relatório do IPCC lança o alerta mais dramático de sempre.

 
Nos próximos 30 anos devemos atingir o limite de dióxido de carbono que podemos lançar para a atmosfera se queremos evitar uma subida de temperatura superior a 2 graus REUTERS

Ainda é possível atingir o objectivo de a temperatura média do planeta em 2100 ser apenas 2 graus Celsius mais elevada do que antes da Revolução Industrial, quando as fábricas não atiravam para a atmosfera enormes quantidades de gases com efeito de estufa. Mas, para isso, é imprescindível que nesse ano as emissões de dióxido de carbono, o principal gás de estufa, se tenham reduzido a zero.

A previsão é feita no mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas, que reúne milhares de cientistas para produzir documentos de consenso com o que de mais actualizado se sabe sobre as alterações climáticas. Em Copenhaga, neste domingo, foi divulgado um relatório longo e uma síntese de 40 páginas para os decisores políticos, que fazem um sumário do trabalho produzido por 800 cientistas desde Setembro de 2013.

A diferença deste relatório é ser o primeiro a dizer que as emissões de gases com efeito de estufa têm de ser reduzidas a zero para que a Terra, considerada como um todo, não aqueça mais do que 2 graus Celsius – o que foi estabelecido como o limite para que o aquecimento global não produza fenómenos irreversíveis e potencialmente perigosos.

O documento afirma, aliás, que estamos já a sentir os efeitos na produção global de alimentos, nos fenómenos meteorológicos extremos, com cheias cada vez mais frequentes nas zonas costeiras. O aumento do aquecimento global, alerta o IPCC, afecta o progresso da humanidade, pois todos estas consequências impedem avanços na luta contra a pobreza.

"Ainda há tempo, mas muito pouco tempo" para agir com custos razoáveis, declarou Rajendra Pachauri, secretário do IPCC, citado pela Reuters.

Vejam-se os números: para atingir essa meta, não poderá haver mais do que um bilião (milhão de milhões) de toneladas de dióxido de carbono (CO2) provenientes da queima de combustíveis fósseis (petróleo, carvão, gás natural) lançadas para a atmosfera até 2100. Mas é provável que atinjamos esse limite durante os próximos 30 anos – e as empresas energéticas já fizeram encomendas de petróleo e carvão que representam várias vezes essa quantidade, e gastam-se cerca de 600 mil milhões de dólares por ano para encontrar mais reservas de hidrocarbonetos, explica o New York Times.

Em contrapartida, adianta o relatório do IPCC, gasta-se menos de 400 mil milhões de dólares por ano para reduzir as emissões de CO2 que fazem subir a temperatura do planeta e provocam mudanças no clima – menos do que os lucros de apenas uma petrolífera americana, a ExxonMobil.

Este tema do "orçamento de carbono" é fundamental, mas não tem estado na vanguarda das negociações para encontrar um sucessor para o Protocolo de Quioto – que culminará numa conferência em Paris, no ano que vem. O que parece ser o desfecho mais provável será um acordo em que cada país decidirá por si quanto se esforçará para reduzir as suas próprias emissões de CO2. 

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